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Navios da Vale e da China em rota de colisão?

Em artigo recente, o diretor da Vale José Carlos Martins escreveu sobre a onipresença do gigante asiático no comércio mundial: “É bom vender para os chineses, é bom comprar dos chineses, mas é difícil competir com os chineses!”. Pois a mineradora brasileira oferece bons exemplos nas três categorias.

Ao contrário da Fiesp, a Vale não tem do que reclamar do gigante asiático: seu insaciável apetite por minério de ferro transformou a mineradora na maior empresa exportadora brasileira. Para abastecê-lo, encomendou a estaleiros da China e da Coreia do Sul os maiores navios de transporte mineral no mundo. Mas a frota da mineradora, que ficará totalmente pronta até 2013, atraiu a ira da poderosa Associação de Proprietários de Navio da China (CSA, na sigla em inglês), cujas empresas representam 80% do setor no país.

Na quinta-feira passada, entrevistei o vice-presidente da CSA, Zhang Shouguo. O encontro foi na sede da associação, instalada dentro de um escritório da empresa Cosco, num prédio antigo a cerca de 1 km da praça da Paz Celestial.

Antes das perguntas, Zhang fez uma longa explicação sobre a situação do transporte marítimo. Sua conclusão foi de que o mundo hoje tem um excesso de navios após a crise de 2008, capacidade ociosa agravada pela alta do combustível e, no caso chinês, pelo crescente preço da mão-de-obra.

“A solução é fazer bom uso da frota existente”, diz Zhang. “A Vale tem o direito de construir os navios, mas é desnecessário”.

Ele diz que a nova frota da Vale, que inclui 35 navios com capacidade para até 400 mil toneladas cada _os maiores do mundo_ está provocando “ansiedade” nas empresas chinesas: “A CSA está preocupada de que o transporte de minério de ferro entre o Brasil e a China seja monopolizado pela Vale”.

Questionado sobre quais medidas podem ser tomadas contra a Vale, ele abriu um libreto intitulado “Regulações da República Popular da China sobre Transporte Marítimo Internacional” e leu a seção 35 do capítulo 5.

O regulamento reza que está sujeita a investigação estatal e a sanções qualquer empresa que controle 30% ou mais do transporte marítimo numa determinada linha por mais de um ano seguido.

O temor de monopólio é refutado pela Vale. Em entrevista à Folha no dia anterior, Martins afirma que a nova frota da Vale suprirá apenas uma parte da demanda da empresa, que hoje utiliza cerca de 300 navios para transportar minério.

O executivo enumera vários motivos para a Vale ter decidido ampliar sua frota, em 2008. O mais citado por ele é “reduzir a desvantagem geográfica” com relação aos principais concorrentes, todos mais próximos da China: Austrália, Índia e África do Sul.

Outro motivo, diz, é evitar o que aconteceu na crise de 2008, quando clientes deixaram de enviar navios para buscar o minério de ferro, levando ao entupimento dos portos e à demissão de funcionários. A Vale teria deixado de faturar US$ 4 bilhões na época.

“A Vale chegou à conclusão de que tinha de ter uma parcela do nosso minério coberto por uma frota dedicada pra nós, sejam navios que a gente construísse seja navios que a gente contratasse”, afirmou.

O diretor da Vale também menciona a volatilidade do frete, que, em 2008, chegou a ficar mais caro do que o próprio minério, e a necessidade de ter navios mais modernos e eficientes para chegar à Ásia.

Martins diz que o objetivo da Vale não é competir com as empresas do setor, e sim ter navios eficientes à disposição. “Nós não queremos ter os navios, podemos a qualquer momento sentar com quem quer que seja para transferir a propriedade dos navios e passar a ser um contratante. A única coisa importante é ter uma classe de navio que nos atenda.”

Dos 35 navios, 19 são da Vale, a um custo de US$ 2 bilhões, e 16 são de empresas com contrato de prestação de serviço com a mineradora.

Em tempo: não é a primeira polêmica que a Vale enfrenta por causa dos navios. Em 2008, o então presidente Lula ficou furioso ao saber que a empresa decidiu construir a frota na China e na Coreia do Sul em vez de usar estaleiros brasileiros. O episódio aumentou o desgaste e contribuiu para a saída de Roger Agnelli da presidência da empresa, neste ano.

Fonte: Folha.com - em 19/8






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