O Brasil é o segundo maior mercado da indústria marítima norueguesa e, de Oslo, as empresas do setor acompanham atentamente o noticiário brasileiro que mostra instabilidade política e regulatória. O setor vive tempos difíceis desde 2014, com o colapso dos preços do petróleo e agora começa um período de recuperação. O presidente da Associação Norueguesa de Armadores, Sturla Henriksen, lembrou que o Brasil é o principal mercado dos armadores noruegueses fora do Mar do Norte e disse ver de forma "encorajadora" o fim do monopólio da Petrobras como operadora do pré-sal e a flexibilização do conteúdo local.
Mas a maior franqueza veio do presidente do conselho de administração da Siem Industries, o norueguês Kristian Siem. Ele criticou a lentidão da Petrobras na tomada de decisões e, na presença do embaixador do Brasil na Noruega, George Monteiro da Prata, disse que o país "não tem sido fácil ultimamente", alertando para a plateia ter cuidado com o que ouve sobre o Brasil.
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"O país começou como uma democracia e depois o povo elegeu criminosos", disse o executivo, observando que o grupo de empresas que ele comanda investiu "bilhões" no Brasil e criticou a demora da Petrobras, de quem se disse parceiro, de tomar decisões. "É preciso ter mais previsibilidade. E atualmente para negociar com a Petrobras são necessárias aprovações que demoram um ano. E às vezes a resposta é não", disse Siem, para quem o processo de tomada de decisões na estatal, com a participação de comitês para uma segunda opinião, atrasa o processo de decisão e "mina a eficiência" da direção executiva da companhia.
O Siem Industrieis controla um grupo de empresas que inclui a Subsea7, que presta serviços para instalações marítimas no setor de óleo e gás, mas também engloba empresas de apoio marítimo.
"Acho que todo mundo concorda que as lideranças políticas no Brasil são inadequadas, e as lideranças políticas deram poder a outras lideranças políticas na Petrobras, ao invés de dar poder a lideranças empresariais, que era o que ela precisava. E essa era a situação antes", disse o empresário, depois de sua apresentação na Nor Shipping, que acontece em Oslo. "Agora vocês tem o [Pedro] Parente e ele é uma pessoa muito capaz e é uma liderança empresarial. O que precisa agora é dar poder para que ele possa comandar a organização".
O presidente Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Jorge Camargo, disse que o sucesso dos leilões de áreas de petróleo que o Brasil vai realizar este ano são "um fator crítico" para que a comunidade internacional de negócios veja o Brasil com melhores olhos. "Os leilões precisam ser bem sucedidos. Embora muito progresso tenha sido feito, não podemos achar que já fizemos tudo para restaurar a competitividade perdida pelo Brasil."
E se o IBP vê como essencial o sucesso dos leilões, a Statoil já afirma que vai ao menos tentar adquirir a área da União que excede os limites do bloco onde foi encontrado o campo de Carcará, que opera com 66% de participação. Mauro Andrade, vice-presidente da área de suprimentos da Statoil, evita falar sobre volume de investimentos no Brasil, mas não nega que a empresa possa investir perto de R$ 40 bilhões nos próximos cinco a seis anos. A conta inclui um sistema de produção no bloco BM-C-33 e dois para Carcará, no antigo BM-S-8. "Continuamos olhando oportunidades de crescimento no Brasil."
Fonte: Valor