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Noruega tenta entender o Brasil para ampliarem parcerias

O colapso dos preços do petróleo em 2014 e as consequências para a indústria de serviços que se movimenta em torno do setor de petróleo e gás são sentidos em todos os países. Isso ficou claro durante a Nor Shipping, uma feira do setor marítimo que discutiu na capital da Noruega as perspectivas para os próximos anos. A mensagem foi a de que o mundo está cada vez mais digital e não é possível ignorar os efeitos do homem sobre o ambiente. O pesquisador Tony Seba, da universidade de Stanford, avisou aos armadores, por exemplo, que os próximos navios serão movidos a eletricidade.

Em meio a todas essas discussões, o Brasil ganhou um painel exclusivo. Os dois países têm em comum uma indústria de petróleo forte, exploram em águas profundas e ambos desenvolveram tecnologias dedicadas a esse segmento, onde o Brasil sempre foi muito competitivo.


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A advogada Camila Cardoso, do escritório Kincaid Mendes Vianna Cardoso, lembra que, no passado, 25% das embarcações de apoio marítimo usadas no Brasil eram de empresas norueguesas. E observa que o fato de ser um país pequeno, com poucos habitantes - pouco mais de 5 milhões contra os 200 milhões de habitantes do Brasil - traz um benefício adicional, que é a possibilidade de essas empresas contratarem brasileiros. "Existem muitos laços, e apesar de toda a crise que afeta as empresas de apoio marítimo e o Rio de Janeiro em particular, devemos estar mais unidos do que nunca, buscando ser mais eficientes", disse Camila.

Olav Wicken, professor do Centro para a Tecnologia, Inovação e Cultura da universidade de Oslo, diz que a Noruega é um exemplo para o Brasil na questão do conteúdo local. Ele afirma que primeiro é preciso entender que ninguém pode fazer tudo sozinho, o que a Noruega aprendeu rapidamente com a crise do petróleo na década de 70. "Inovação em grande escala tem a ver com confiança, e quando se quer desenvolver algo com os outros é mais fácil e mais barato trabalhar junto", afirmou.

Giovani Loss, do escritório Mattos Filho, observa que o Brasil é um dos mercados offshore mais relevantes do mundo, com uma costa gigante e uma produção de petróleo significativa, o que explica a importância do país para a Noruega. "É um mercado consumidor imenso para serviços e produtos noruegueses relacionados à indústria marítima. E a mais recente transação entre a [norueguesa] Statoil e Petrobras demonstra a importância do Brasil para a Noruega", diz Loss, se referindo à aquisição da fatia do campo de Carcará, no pré-sal da Bacia de Santos. A Statoil comprou 66% da Petrobras no campo, em 2016.

Devido à história marítima da Noruega, Loss avalia que o país quer continuar sendo uma referência dessas atividades, tanto nos aspectos tecnológicos, quanto políticos, financeiros e sociais. "A mensagem que sinto para o Brasil é promissora, de muito interesse, mas ao mesmo tempo cuidadosa. Os noruegueses conhecem as dificuldades do Brasil e demandam, de forma muito educada, mudanças que viabilizem ainda mais interação entre os dois países", afirma.

Os brasileiros que participaram da Nor Shipping frisaram que os reflexos da Operação Lava-Jato, maior investigação de corrupção já realizada no país, serão benéficos para o país. Em um evento na Associação de Armadores Noruegueses na quinta-feira, Flávio Valle, vice-presidente da Prumo, disse que as investigações estão testando as ferramentas democráticas disponíveis no país e o Brasil "vai prosperar" no médio e longo prazos.

Foi essa também a mensagem do embaixador do Brasil na Noruega, George Monteiro Prata durante um painel realizado na quarta-feira. Ele pediu aos estrangeiros que vejam o Brasil "sem estereótipos" e além dos clichês como o futebol e o carnaval. Sobre a Lava-Jato, o embaixador disse que a investigação ocorre dentro do quadro legal e jurídico e, mais importante de tudo, "tem o apoio da sociedade brasileira". E isso será importante para quem quiser fazer negócios com o Brasil, apresentado por ele como um país democrático, fácil de fazer negócios e onde há leis.

O presidente do conselho de administração do grupo Siem, Kristian Siem, foi o mais duro com o Brasil, ao dizer que o país "não tem sido fácil nos últimos anos" e pedindo previsibilidade e mais rapidez na tomada de decisões pela Petrobras.

Por sua vez, o executivo norueguês Kjetil Solbraekke, vice-presidente da Rystad Energy para a América do Sul, avalia que o Brasil "perdeu tempo" ao insistir nas regras de conteúdo local, ao invés de tentar ser competitivo. "Espero que a lição tenha sido aprendida e que agora o conteúdo local seja baseado em competência e lógica e não em tentar [fabricar] tudo". Acrescentando que "não há nada errado com a competitividade brasileira", ele afirmou que "a mentalidade do protecionismo não permitiu que o país exportasse produtos".

Solbraekke, que já presidiu a filial brasileira da Statoil e mora no Rio, vê chances de mudanças no país. O executivo disse que o Brasil é um país mais complexo do que a Noruega e alertou os empresários noruegueses para que eles não cometessem o erro de achar que os brasileiros "vão fazer o que nós fizemos". Ele fez questão de realçar que, com o pré-sal, o país tem uma situação única no mundo. "O Brasil é o mais importante, o melhor lugar [para a exploração] de petróleo do mundo", disse.

Entre os desafios apontados por Solbraekke estão a regulamentação e questões tributárias que ainda geram incertezas, enquanto na política a questão é o consenso a respeito de novas eleições e quem será o próximo presidente do Brasil.

Fonte: Valor






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