Num momento de mudanças regulatórias, o setor de petróleo e gás é considerado, tanto pelo governo quanto pelos investidores, o carro-chefe da esperada recuperação econômica do país. Mesmo com o barril do petróleo valendo cerca de US$ 50, metade do valor alcançado em 2008, os empresários do ramo acreditam que as medidas tomadas nos últimos meses apontam para um cenário de retomada do crescimento a partir do segundo semestre do ano que vem. O diretor da empresa E-Conservation e vice-presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo, Leonardo de Castro, é um dos que estão confiantes na melhora. Ele faz consultoria para licenciamento e monitoramento ambiental para petroleiras e teve uma queda na demanda nos últimos dois anos. Porém, segundo ele, as medidas propostas pelo governo mudaram as expectativas.
"Nós temos uma expectativa muito positiva para os próximos dois anos. Minha empresa teve uma redução de demanda e teve que se adequar ao momento crítico, no ano de 2015. Mas nós já percebemos uma retomada dos projetos, estão voltando com maior intensidade. O setor de óleo e gás é muito dinâmico e tem o maior potencial de alavancar a economia brasileira".
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A Master Automação, empresa que aluga equipamentos para o setor de petróleo e gás, entrou no mercado em 2013, quando o cenário era bem diferente. O sócio-diretor da companhia, Carlos Lemoigne, disse que, na época, o plano era investir mais de R$ 3 milhões por ano no negócio. Mas o preço do barril do petróleo despencou. Para sobreviver, ele teve que suspender os investimentos e diversificar incluindo a assistência técnica nos seus serviços. Apesar das dificuldades, Lemoigne também vê novas chances voltar a crescer já no ano que vem.
"Como a crise veio e veio muito forte, nós diversificamos nosso setor. Por conta da crise, o volume de locações caiu bastante. Eu vejo o momento com muito otimismo, porque a iniciativa privada é muito mais ágil e dinâmica. Agora temos a esperança de que possa melhorar, com mais empresas vindo investir, aumentam as nossas possibildades de parceiros."
O otimismo dos empresários se deve às novidades envolvendo a Petrobras, o que pode impulsionar todo o setor. Endividada e envolvida em escândalos de corrupção, com a prisão de diretores na Operação Lava-jato, a estatal está passando por um processo de reorganização. Além do plano de desinvestimentos que deve render quase US$ 35 bilhões até 2018, um projeto de lei em fase de aprovação que facilita a exploração do pré-sal por companhias estrangeiras e novas parcerias internacionais mostram que o governo brasileiro está tentando dar um sinal positivo aos investidores. É nisso que acredita o secretário-geral no Instituto Brasileiro de Petróleo, Milton Costa Filho. Para ele, a entrada de novos investidores no país é fundamental para que o petróleo e o gás natural sejam mais bem aproveitados o quanto antes.
"A forma com que o governo passou a mensagem de apoio, todos estavam muito alinhados, as notícias boas para tornar nossa indústria mais competitiva. O Brasil tem o que todos países gostariam de ter: reservas espetaculares de petróleo. Temos que aprender a desenvolver essa riqueza a favor da sociedade. O pré-sal é muito grande para uma empresa só. A Petrobras tem uma competência incrível para desenvolver o pré-sal, mas ela levaria muitos anos, décadas. Simplesmente estamos numa nova abertura do setor de petróleo. A gente não pode esperar".
O sinal de confiança emitido pelo governo não poderia ser mais claro. Esta semana, o presidente Michel Temer participou da abertura a conferência Rio Oil and Gas, evento mais importante do setor na América Latina. Em seu discurso a centenas de empresários, ele garantiu que o apoio ao setor é uma prioridade.
"Nosso objetivo é desafogar a Petrobras, favorecer a entrada da iniciativa privada no setor e, com isso, gerar mais empregos. Eu digo isto para gerar uma expectativa cada vez maior de otimismo no país. E esta expectativa de otimismo, está muito presente neste Congresso que aqui se realiza. A ideia de que nós vamos prosperar muito nessa área que desempenha um papel central, estratégico na economia de qualquer país. Particularmente na nossa economia."
Mas há quem critique os novos rumos que a Petrobras está tomando. O professor de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, vê o novo processo de abertura da estatal como uma continuidade da política de privatizações adotada nos anos 1990. Para ele, a mudança de orientação da Petrobras é perigosa, já que o petróleo é um recurso estratégico do país. O professor diz ainda que o desinvestimento deveria ser feito em menor escala, preservando os ativos nacionais.
"O problema é tirar a Petrobras e não a entrada de empresas estrangeiras. Elas já entraram. No caso da Petrobras, eu acho que cabe mais um nacionalismo. Ela é uma empresa com a característica de controlar uma reserva estratégica para o país, que é o petróleo. É uma política de abertura que não leva em conta uma visão estratégica de longo prazo. A Petrobras não pode deixar de ser o ator principal no jogo do petróleo nacional".
A abertura do país para novos agentes econômicos interessados em explorar o setor de petróleo e gás anima os empresários que veem nas novidades chances de oferecer seus produtos e serviços a uma quantidade maior de petroleiras. Variar o mercado é justamente a intenção dos novos leilões, que podem se tornar mais frequentes, sendo realizados anualmente e não a cada dois anos como é feito desde 2013. Mas, antes disso, os novos planos já estão fazendo efeito. Em junho, a Petrobras anunciou a primeira venda de um campo do pré-sal. A área de Carcará, na Bacia de Santos, foi comprada por US$ 2,5 bilhões pela norueguesa Statoil. Para o ano que vem, já há pelo menos três leilões de áreas exploratórias confirmados. Segundo um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, as reservas têm um potencial de investimentos de US$ 420 bilhões até 2030, o que segundo a Firjan, pode gerar um milhão de empregos.
Fonte: CBN/Bárbara Souza