A Petrobras prestou esclarecimentos ao mercado na sexta-feira, mas os questionamentos sobre o processo de capitalização continuam. Seja pelas dúvidas relacionadas com os procedimentos da oferta, ou pela certeza de que o processo realmente deve ser concluído até julho, as ações da estatal sofreram ontem na Bovespa, recuando cerca de 4%.
De forma geral, os analistas viram como positiva para a Petrobras a definição de que o aumento de capital será feito por meio de oferta pública - e não mais por meio de subscrição privada - e que há o compromisso de se fazer o aporte na empresa, com ou sem aprovação do projeto de lei da cessão onerosa no Congresso.
"É bom porque reduz as dúvidas no processo como um todo. A capitalização vai acontecer até julho, de uma forma ou de outra", afirma Mônica Araújo, analista da Ativa Corretora.
Mas apesar disso ser positivo para a empresa no médio e longo prazo, porque lhe dará recursos para seu projeto de investimento de mais de US$ 200 bilhões, as ações devem sofrer no mercado até que a oferta seja concluída. Isso porque sempre que há uma distribuição de ações de uma companhia já listada, o mercado "bate" no papel, com o objetivo de adquiri-los com desconto na operação.
Ontem, por exemplo, o JP Morgan rebaixou a recomendação para o papel de "acima da média" do mercado para "neutro".
Tirando esse peso que a ação carregará até o dia de fechamento da oferta, há ainda incertezas ligadas a diversas etapas do processo.
Pensando ainda no plano A, com a aprovação do projeto de lei no Congresso, a estatal esclareceu que o preço de referência para os até 5 bilhões de barris a serem cedidos será calculado com base no estudo da consultoria DeGolyer & MacNaughton, contratada pela estatal.
Mas ainda não se conhece esse preço, que determinará o tamanho do aumento de capital, que deve ser um dos maiores já realizados em todo o mundo.
Fora isso, em vez de uma reavaliação sobre esse preço, haverá duas: no fim deste ano, quando estiver pronto o laudo contratado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), e no prazo de um a dois anos, como já era previsto.
No caso de o projeto de lei não passar pelo Congresso em um prazo que permita que a capitalização ocorra até julho, a saída seria usar um plano B, também via oferta pública de ações, mas com a União entrando com dinheiro.
Nesse caso, há dúvida sobre a manutenção da atual relação entre as ações ordinárias (com voto) e preferenciais (sem voto) e também sobre o tamanho da operação, sendo que a aposta é que seja uma colocação de menor porte - embora ainda de dezenas de bilhões.
Não fica claro também de onde a União tiraria o dinheiro para participar da oferta no plano B. Os analistas Rodrigo Fernandes e Hering Shen, da Fator Corretora, entendem que a Medida Provisória 487 foi editada na semana passada para resolver o problema.
O texto abre espaço para que a União use dinheiro do Fundo Soberano para participar do aumento de capital de empresas mistas e também permite que o governo troque ações que possui em uma empresa estatal por papéis de outra empresa controlada pelo governo, respeitando a "equivalência econômica".
Ainda dentro do plano B, os analistas se perguntam se um aporte estimado em US$ 25 bilhões será suficiente, ou se novas ofertas podem ocorrer no futuro.
Fonte: Valor Econômico/Fernando Torres, de São Paulo
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