O empresário Eike Batista reagiu ontem ao derretimento das ações da OGX, que perdeu R$ 10,7 bilhões de seu valor de mercado nos últimos dois dias, tirando o geólogo Paulo Mendonça da presidência da companhia. Para o lugar dele foi nomeado Luiz Eduardo Guimarães Carneiro, que presidia a OSX. O estaleiro passa a ser presidido por Carlos Bellot.
Eike Batista chamou Mendonça em sua sala por volta das 15 horas para uma conversa e duas horas depois anunciou a troca no comando da petroleira para cerca de 500 funcionários da OGX e da OSX. Uma fonte disse que, ao explicar a troca, Batista ponderou que o mercado não tinha entendido as explicações da OGX na teleconferência de quarta-feira. No comunicado, o empresário agradeceu a Mendonça pelas "históricas conquistas exploratórias" da OGX. O executivo, que comandou a exploração da OGX por cinco anos, levado por Rodolfo Landim, será conselheiro da presidência da EBX, holding do grupo.
Os três executivos que trocaram de posições ontem são todos ex- Petrobras e parte do "dream team" contratado por Batista para tocar suas companhias. O movimento é parte de uma iniciativa que parece ter como objetivo dar um choque de realidade operacional na companhia, que tem apresentado performance muito abaixo das expectativas otimistas que seus executivos vinham transmitindo ao mercado.
Em dois dias nesta semana, a principal empresa de Eike Batista perdeu 39,67% de seu valor de mercado. No conjunto, as empresas do grupo que têm ações negociadas em bolsa perderam R$ 13,8 bilhões em dois dias.
Desde terça-feira vários bancos revisaram para baixo as projeções de produção e rentabilidade da petroleira. Aumentaram a taxa de risco na prospecção, as estimativas de custo de exploração e produção e da dívida, e reduziram projeções de produção, o que significa menos margens e menos lucratividade. O Itaú BBA, por exemplo, elevou de 20% para 50% o fator de risco exploratório nas atividades de prospecção da empresa.
Fontes qualificadas que acompanham de perto a indústria de petróleo no Brasil avaliam que o "tombo" da OGX é consequência do otimismo exacerbado que a companhia vinha transmitindo ao mercado. O que era desnecessário, na avaliação deles. "Um poço produzindo 5 mil barris por dia não é ruim. Mas eles disseram que poderiam entregar 15 mil a 20 mil barris por dia. Essa é a produção de um bom poço no campo de Marlim, um dos melhores da Petrobras na bacia de Campos. A diferença é que Marlim fica em um reservatório diferente e que flui muito melhor", resumiu uma fonte.
Desde a conferência conturbada realizada na terça-feira, os analistas refizeram suas projeções para a OGX e o resultado foi o que se viu. Escaldados, os executivos da OGX não falaram em planos de longo prazo. "Gostaríamos de nos ater a entrega dos FPSOs [plataformas de produção] OSX-1, OSX-2 e OSX-3. No final do ano começaremos a falar em termos mais específicos no OSX-4 e OSX-5. Neste momento estamos vendo só o curto prazo", afirmou o diretor financeiro da OGX, Roberto Monteiro.
A OGX está trabalhando apenas com as três primeiras plataformas, que devem chegar a produção de 250 mil barris/dia a partir do fim de 2013, em Tubarão Azul, na parte maior de Waimea e em Waikiki, todos na bacia de Campos. A companhia ainda não concluiu a compra dos equipamentos nem definiu a localização das unidades como OSX-4 e OSX-5.
A petroleira admitiu que terá um aumento no custo de produção de petróleo. Primeiro, porque será necessário injetar água, utilizar fraturamento hidráulico (que tem componentes químicos) e utilizar novos equipamentos para aumentar a produção no campo de Tubarão Azul. Foi esse campo, antigo Waimea, que teve vazão reduzida para 5 mil barris/dia e que desencadeou a péssima reação do mercado.
A companhia vai perfurar um poço este ano e outro em 2013, totalizando quatro poços nesse campo, sendo dois de injeção e dois de produção. A geologia dessa área vai exigir que mais poços sejam perfurados a um custo maior para aumentar a produção na área de Tubarão Azul, Waimea Grande e Waikiki. A OGX está contabilizando custo por poço entre US$ 60 milhões e US$ 90 milhões.
Dada a necessidade de fraturamento hidráulico dos reservatórios, o custo de perfuração vai aumentar porque as sondas estarão operando por um tempo maior, o que resultada em uma taxa de afretamento diária mais elevada. Segundo Eike Batista, a companhia trabalha com estimativa de investimentos de US$ 2 bilhões e não pretende realizar nova operação financiamento este ano. Ontem o Itaú BBA reduziu de 345 mil barris/dia para 285 mil barris/dia a estimativa de produção de petróleo da OGX em 2015.
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner e Rodrigo Polito | Do Rio
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