O diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot, disse que vai procurar a Polícia Federal para investigar grampos de seus telefones pessoais. Segundo Pagot, uma pessoa que não quis se identificar ligou para ele no dia 5 de julho e pediu um telefone fixo para contato. Pagot passou o número do telefone da casa onde estava. A pessoa entrou em contato e disse que seus telefones estavam grampeados. Como prova, relatou três conversas que teve neste período. "Fiquei assustadíssimo com isso. A pessoa falou coisas de conversas antigas ligadas à minha família, ao casamento de minha filha. Vou pedir ajuda à PF para saber o que está acontecendo. Ou isso é um araponga particular querendo me achacar, ou é algum órgão", disse ao Valor.
Pagot, que oficialmente está de férias até o dia 5 de agosto, falou ontem por quase oito horas, em audiência pública na Câmara. Mais incisivo do que na terça-feira, quando compareceu à audiência no Senado, o diretor do Dnit respondeu aos parlamentares com a postura de quem acredita que permanecerá no cargo. Falou sobre melhorias necessárias no Dnit, contratação de pessoal, obras que são prioridades e mudanças em processos de licitação e contratação de empreiteiras, posição que reafirmou ao término da audiência. "Pretendo continuar no Dnit porque comecei uma reestruturação que gostaria de concluir, mas isso é uma decisão que depende da presidente Dilma", disse.
Braço direito do senador Blairo Maggi (PR-MT), Pagot voltou a negar todas as acusações contra seu nome, disse que não tem nada a esconder e chegou até a divulgar publicamente os números de seus telefones. "Lula me trouxe ao Dnit pela minha capacidade de trabalho, não foi pelos belos olhos do senador Blairo Maggi não."
Durante o debate, o diretor do Dnit voltou a dizer que irá quebrar seu sigilo bancário, após ser provocado pelo deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), que levou para a audiência um pedido por escrito para formalizar o acesso aos dados de Pagot. Membros do PR protestaram contra o pedido, alegando que Pagot compareceu à audiência como convidado, e que não se tratava de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
Ao responder sobre acusações de loteamento político no Dnit, Pagot, que é filiado ao PR desde 2004, afirmou que, dos 2.830 funcionários diretos da autarquia, que é vinculada ao Ministério dos Transportes, apenas 28 funcionários têm alguma vinculação partidária. "O Dnit não é instrumento de campanha para arrecadar dinheiro para nenhum partido. Há vários diretores e coordenadores que não têm nenhuma vinculação partidária. E quero dizer que o fato de ter vinculação partidária não significa que a pessoa não seja competente para estar ali, trabalhando."
A audiência da Câmara foi marcada pela ausência do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (PR-AM). Apesar de ter sinalizado na semana passada que iria ao Congresso para prestar esclarecimentos, Nascimento não foi encontrado. O ex-ministro pediu demissão na semana passada, após denúncias de corrupção envolvendo sua Pasta, o PR e os negócios de seu filho, Gustavo Morais Pereira.
O deputado Sérgio Brito (PSC-BA), que comandou a audiência, disse que a Câmara tentou contato com o ex-ministro, mas ele não se manifestou. A ausência foi criticada por integrantes da oposição. O líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), disse que Nascimento irá prestar esclarecimentos no dia 2 de agosto, após o recesso parlamentar. Segundo Portela, Nascimento está "profundamente machucado" pelas acusações. Licenciado do Senado enquanto ocupava a Pasta dos Transportes, Nascimento voltaria à Casa automaticamente, mas pediu uma licença e só volta em agosto, após o recesso.
Fonte: Valor Econômico/André Borges | De Brasília
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