Os investimentos estrangeiros no Brasil poderão ser afetados negativamente pelas exigências de conteúdo local para fabricação, no país, de produtos a serem beneficiados por programas de incentivo e de compras governamentais, previu o ministro de Agricultura e Comércio Internacional da Holanda, Henk Bleker. Em Brasília para uma série de encontros com autoridades brasileiras, Bleker defendeu o aumento da cooperação entre os dois países, mas revelou que as empresas holandesas, que estão entre os maiores investidores no Brasil, veem as regras de conteúdo local como "uma nuvem negra" sobre seus planos de investimento.
"Não estamos aqui para resolver questões de curto prazo", comentou Bleker, que teme o atraso de decisões de investimento devido à crise europeia. O governo holandês tem apoiado a expansão das empresas locais para busca de mercados além da Europa. Para as companhias interessadas em vender ao Brasil, a linha oficial de seguro de crédito destinou € 2 bilhões, dos quais € 800 milhões já foram comprometidos neste ano.
Bleker também tenta atrair as empresas brasileiras com planos de internacionalização para montar na Holanda sua base europeia. Uma delas, que ele mencionou no encontro que teve com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, é a Eletrobras. "Nosso sistema fiscal é um dos mais atraentes para empresas multinacionais", argumentou Bleker, citando o sistema de tributos holandês, que chega a subsidiar a contratação d e especialistas estrangeiros.
A presença de várias empresas do setor de energia e os acordos de proteção a investimentos são outras vantagens para as empresas brasileiras com planos de ampliar sua internacionalização nos próximos anos, comentou, ao informar que a Holanda quer atrair empresas de porte médio, além das grandes como Braskem, Embraer e Petrobras, que já estão no país.
Ao falar a Lobão e outros ministros sobre o temor com as regra de conteúdo local para investimentos no país, Bleker disse entender que a medida é necessária, do ponto de vista político, mas pediu negociações para tornar viável sua aplicação sem comprometer investimentos estrangeiros.
"Ao falar com as empresas [interessadas em vir ao Brasil], essa questão do conteúdo local me pareceu uma nuvem escura, crescendo sobre a economia brasileira", comentou o ministro. "Mas conversando com as empresas que estão aqui, é possível olhar através dessa nuvem e ter uma ideia melhor sobre o que pode significar." Ele disse esperar que o governo brasileiro fique atento a necessidades de tecnologia não existentes no Brasil, que as empresas holandesas querem trazer ao país mas que não têm viabilidade de produção no mercado brasileiro.
Bleker veio ao Brasil com uma comitiva de representantes de cerca de 40 empresas, com planos de investir fortemente nas áreas de energia, tratamento de resíduos, agricultura, administração de aeroportos e outros setores de infraestrutura. Ele assinou um memorando de entendimento para cooperação em ciência e tecnologia que, espera, poderá ajudar a resolver outro problema detectado pelas empresa holandesas no país: a falta e pessoal técnico especializado.
Fonte: Valor Econômico/Por Sergio Leo | De Brasília
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