Os acionistas da Sete Brasil, holding de sondas criada sob encomenda da Petrobras, voltam a avaliar hoje, sexta-feira, se vão pedir a recuperação judicial da empresa, em reunião de cotistas do fundo controlador, o FIP Sondas. E, na segunda-feira, dia 22, o tema segue em assembleia da própria Sete.
A assessoria financeira que trabalhará num plano de reestruturação - pela via judicial ou não - para a Sete já foi aprovada, é a Alvarez & Marsal.
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A recuperação judicial tem um único objetivo: ser um palco institucional para negociar com a Petrobras. Sem acordo com a estatal e sem atividade, é falência direto.
O clima entre os acionistas esquentou diante dessa perspectiva. A tensão foi grande ontem em conferência telefônica dos sócios sobre o tema - em especial após contatos recentes da Petrobras, depois de semanas em silêncio.
A Sete é controlada pelo FIP Sondas, que tem 95% do capital. Os outros 5% são da Petrobras, que tem mais 5% do fundo de participação.
O maior cotista é o BTG Pactual, com quase 30%, após aporte de R$ 2 bilhões na empresa. Em seguida, estão Bradesco e Santander, como sócios e credores. Há fundos privados no FIP Sondas - EIG, LuceVenture e Lakeshore - e também fundações - Petros, Funcef, Previ e Valia - além do FI-FGTS.
Os cinco líderes do sistema financeiro nacional estão expostos à Sete. Acionistas colocaram R$ 8,4 bilhões em capital e os bancos emprestaram US$ 3,6 bilhões. Além dos já citados, Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal (CEF) e Itaú BBA são credores.
Faltando três dias para a reunião sobre a recuperação judicial, a alta cúpula da Petrobras entrou em contato com a Sete. Comunicou que se nega a negociar com a Alvarez & Marsal, mas quer retomar as negociações. Tem cerca de um mês, segundo fontes, que a estatal não atende a holding.
Ontem, o presidente da Sete, Luiz Eduardo Carneiro, passou a manhã em ligações com acionistas: a Petrobras gostaria que eles trocassem o voto e optassem pelo banco Rothschild para a reestruturação. Antes da aprovação da Alvarez & Marsal, a estatal queria o Brasil Plural. Após grande discussão, ficou mantida a escolha já feita.
Procurado, o Rothschild não comentou o assunto.
Sistematicamente, a Petrobras nega os pedidos do Valor com questões sobre Sete. Em coletiva de imprensa dia 28, o presidente da estatal, Aldemir Bendine, disse que as perguntas devem ser feitas à Sete. Ele presidia o BB na época do empréstimo à holding de sondas: US$ 1,3 bilhão, a maior linha.
Os acionistas da Sete não aceitaram nenhuma indicação da Petrobras por entenderem que o reestruturador não pode estar sujeito à interferência da estatal - que se declarou conflitada sobre o tema da recuperação judicial.
O Valor apurou que a direção da Petrobras alega não estar em falta com a Sete, e sim o contrário. A holding é que não teria honrado os contratos com entrega das sondas.
Em 26 de maio do ano passado, na sede do Itaú BBA, que emprestou US$ 700 milhões à companhia, o gerente da área de exploração e produção da Petrobras Marcos Assayag levou aos credores o plano da Petrobras para reestruturar a Sete, pois a estatal não queria mais as 28 sondas contratadas inicialmente. Estava disposta a ficar com 19 delas - 15 que seriam da Sete, mais quatro que seriam feitas no estaleiro Enseada e oferecidas para venda à japonesa Kawasaki.
Mas os novos contratos com a Sete nunca foram assinados. Petrobras e Sete já teriam acordado pela construção de 14 sondas, para entrega paulatina entre 2017 e 2023.
O contato recente da Petrobras pode interferir no resultado da votação sobre o plano de recuperação. Não é a primeira vez que a alta cúpula da estatal assume o tema. Em agosto, Bendine fez um acordo com os bancos, mas o contrato voltou a sofrer entraves na diretoria.
Carneiro se encontra hoje com dirigentes da estatal para ver qual o clima para conversas e sugerir que elas sejam feitas diretamente pelos executivos da Sete.
Há um mês, a recuperação judicial só não foi aprovada no FIP Sondas porque a fundação Petros, previdência dos funcionários da Petrobras, rejeitou a ideia. Com 18% das cotas do FIP Sondas, consegue sozinha bloquear tal definição, que exige aval de 85% das cotas. As demais fundações aprovaram.
Por conta disso, a Petros foi questionada pelo seu conselho fiscal, conforme ata de reunião do dia 20 de janeiro.
"Tal posicionamento da Petros é injustificável, visto que se não acionarmos a Petrobras (...), ficaremos nós, participantes sem alternativa para ao menos minimizar este prejuízo que ultrapassa R$ 1,2 bilhão", registrou o órgão. "Os fundos de pensão foram chamados pelo governo federal e pela Petrobras para investir na empresa. (...) Agora, com a não aprovação da recuperação judicial, o Presidente da Petros tem obrigação de dizer qual o plano "B" para salvar nosso patrimônio investido neste ativo", encerra o conselho sobre o tema.
A Petros disse ao Valor que as respostas ao conselho fiscal são confidenciais. E reiterou que negou a recuperação em 18 de janeiro pela falta de informações, o que motivou a sugestão de retomada do assunto em 30 dias. A fundação quer ver já um plano de reestruturação e voltou a consultar a Sete.
A crise na empresa - criada para evitar ampliar a dívida da Petrobras e dar vida a um projeto de governo de revitalizar a sem tradição ou tecnologia indústria naval - se instalou quando o BNDES decidiu não financiar o projeto, de US$ 26,4 bilhões no total, após a citação na Operação Lava-Jato. Os dois ex-presidentes da holding são delatores no caso e citaram propinas pagas por alguns estaleiros. A presidência da Sete é indicada pela Petrobras. Ambos foram funcionários de carreira na estatal.
Fonte: Valor Econômico\Graziella Valenti | De São Paulo