A Petrobras deve intensificar a encomenda de plataformas no exterior devido aos atrasos na construção de embarcações no Brasil.
De acordo com dados do setor, das 11 plataformas já contratadas para o período, 7 terão a maior parte das obras feita em outros países.
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A 12ª, para a área de Libra, também será encomendada no exterior, caso a estatal obtenha autorização da ANP (agência reguladora do setor).
"Eu lamento, mas a gente tem que cumprir a curva de produção", afirmou o presidente da Petrobras, Pedro Parente, em apresentação do plano de negócios 2017-2021, para executivos do setor. Segundo ele, há um "histórico" de atrasos no país.
O plano de negócios divulgado nesta semana prevê a entrada em operação de 18 plataformas entre 2017 e 2021.
Entre as 11 já contratadas, 4 têm o casco construído ou convertido (transformado a partir de um navio) no país. Outros quatro cascos que seriam feitos no país foram transferidos para a China.
Parte significativa dos equipamentos também será feita no exterior, restando aos estaleiros brasileiros a integração dos módulos —etapa que consiste na ligação dos diversos equipamentos entre si e à plataforma.
"Além do corte de investimentos, a Petrobras vai fazer o que restou no exterior e só vai integrar aqui. Só vai ter encomenda de serviço", diz o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, José Velloso.
O presidente da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Elói Fernandez, lembra que, diante das restrições financeiras da estatal, a possibilidade de obter financiamento de outros países, "fortalece o fornecimento do exterior".
Ele cita especificamente a China, para onde está sendo levada a maior parte das obras retiradas do Brasil.
Embora a flexibilização do conteúdo local seja uma das bandeiras de Parente, a busca por alternativas no exterior teve início na gestão Graça Foster, como resultado dos atrasos no Brasil e da crise dos estaleiros investigados pela Operação Lava Jato.
A execução das obras no Brasil foi classificada pelo diretor-executivo de Desenvolvimento da Produção e Tecnologia da Petrobras, Roberto Moro, como uma "grande dor de cabeça".
INCENTIVO LOCAL
A política de contratar obras no Brasil foi iniciada no primeiro governo Lula e fomentou a abertura de seis grandes estaleiros no país.
"Parece que há consenso de que a política de conteúdo local precisa de ajustes, mas a opção já em curso de contratar no exterior, independentemente do atual plano, dificultará o cumprimento dos compromissos [de conteúdo local]", diz Fernandez.
O setor, que chegou a ter 82,5 mil empregados em 2014, que foi o seu momento de maior atividade, fechou o primeiro semestre de 2016 com 43,8 mil trabalhadores, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparo Naval (Sinaval).
Fonte: Folha de São Paulo/NICOLA PAMPLONA DO RIO