Estatal brasileira já construiu sozinha 40% da Abreu Lima (PE); acordo é anterior à descoberta do pré-sal
Para executivos, óleo venezuelano, mais pesado, exige investimento extra; BNDES quer garantias
Executivos da Petrobras rejeitam a parceria com a PDVSA (Petróleos de Venezuela) na refinaria Abreu e Lima (PE), um projeto de R$ 26 bilhões. A participação venezuelana no projeto foi confirmada pelo presidente Hugo Chávez em telefonema a Dilma Rousseff na sexta.
A Petrobras já construiu sozinha 40% do projeto, e a refinaria está preparada para processar o petróleo brasileiro do Campo de Marlim, da Bacia de Campos, e não o óleo de Carabobo, na Venezuela, conforme originalmente.
Para receber o petróleo mais pesado do país vizinho, seria necessário um investimento extra de US$ 400 milhões (cerca de R$ 688 milhões) em uma planta de redução de enxofre.
A parceria entre as duas petrolíferas na refinaria foi celebrada em 2005, antes da descoberta do pré-sal, em 2006. Na época, os presidentes Lula e Chávez fecharam o acordo prevendo a utilização de petróleo venezuelano, pesado demais para ser transformado em combustível junto com o óleo brasileiro.
Com a descoberta das reservas nacionais, de melhor qualidade, a sociedade passou de estratégica para negativa para a Petrobras, pois a refinaria passaria a ser dependente das importações da Venezuela para produzir.
"Não sei se existe uma decisão política de fechar essa sociedade, mas o fato é que ela está sendo negociada por duas empresas, via contratos, com especificações técnicas e financeiras que precisam ser cumpridas", disse à Folha uma fonte próxima às negociações.
A PDVSA tem até o dia 30 para assumir formalmente os 40% do empréstimo de R$ 10 bilhões tomado pela Petrobras em 2009, R$ 4 bilhões. A estatal venezuelana se comprometeu a entregar as garantias ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) hoje.
Mas a PDVSA está com dificuldades em apresentar um pacote de garantias com a mesma qualidade da Petrobras: não possui os mesmos "ratings", nem o mesmo fluxo de caixa, e também não é uma cliente tradicional do BNDES como a Petrobras.
Caso o BNDES aceite as garantias, a PDVSA terá ainda um outro desafio: colocar alguns bilhões de dólares de capital próprio no projeto até 30 de novembro, para assumir formalmente os 40%.
Isso será um problema porque a estatal venezuelana está obrigada a fazer transferências crescentes ao Estado e com urgência em aumentar investimentos para elevar a produção interna.
Também há ressentimento do lado venezuelano depois que a Petrobras desistiu de explorar a faixa do Orinoco, em 2010. A estatal brasileira se disse insatisfeita com o novo marco legal venezuelano.
Mas a participação da Petrobras na Venezuela era uma das contrapartidas do investimento venezuelano em Abreu e Lima. Questionada sobre o tema, a PDVSA não respondeu aos pedidos da reportagem até a conclusão desta edição.
LONGO PRAZO
Para o governo brasileiro, a parceria PDVSA-Petrobras em Pernambuco é estratégica. A avaliação é de que, a médio e longo prazo, um conjunto de empresas brasileiras, e não só a Petrobras, se beneficiariam da aliança.
O Brasil poderia se posicionar, ao lado da China, como fornecedor preferencial da Venezuela, que se voltará à exploração da faixa do Orinoco nos próximos anos.
Fonte:Folha de São Paulo/LEILA COIMBRA/DO RIO/FLAVIA MARREIRO/DE CARACAS
PUBLICIDADE