A Petrobras abalou os mercados na semana passada ao registrar um prejuízo surpresa de R$ 16,5 bilhões (US$ 4,9 bilhões). No entanto, havia uma notícia realmente boa escondida no comunicado de 33 páginas da petroleira: seu endividamento atingiu o menor patamar em quase três anos.
Ainda há um longo caminho pela frente, mas a redução de US$ 16 bilhões desde meados de 2014 é um marco conquistado com esforço no plano da companhia para reconquistar os investidores. A Petrobras, antes a joia da economia brasileira, foi prejudicada nos últimos anos pela queda do petróleo, por um enorme escândalo de corrupção e pelas políticas do governo que a forçaram a comercializar combustível com prejuízo. Trata-se da petroleira de capital aberto mais endividada do mundo, com US$ 123 bilhões em dívidas a pagar.
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“No momento, a coisa mais importante para a Petrobras é o balanço”, disse Danilo Onorino, gerente de portfólio da Dogma Capital, que possui títulos da Petrobras.
O prejuízo surpresa — os analistas haviam previsto lucro — coroou uma semana de extrema volatilidade desencadeada pela inesperada vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana, em 8 de novembro. Investidores de todo o mundo se desfizeram de ativos de rendimentos mais elevados especulando que os planos de investimento de Trump poderão elevar a inflação e os juros nos EUA. No Brasil, cinco dos 10 títulos corporativos com pior desempenho na sexta-feira haviam sido emitidos pela Petrobras, segundo dados da Bloomberg.
Para Onorino, a forte queda cria uma oportunidade de compra.
“Na minha visão, [os títulos] estão bastante baratos por causa do rendimento e das possíveis vendas”, disse ele, de Lugano, na Suíça.
A Petrobras vendeu ou concordou em vender US$ 9,8 bilhões em ativos desde 2015 para tentar reconquistar sua cobiçada classificação de grau de investimento. A produtora de petróleo em águas profundas planeja se desfazer de mais US$ 25 bilhões em ativos até 2018.
Em 21 de outubro, a Moody’s Investors Service elevou o rating da Petrobras em um nível, para B2, primeiro upgrade da companhia em cinco anos. A nota ainda está cinco degraus abaixo do grau de investimento, mas a Moody’s afirmou que a venda de ativos e a nova política de preços de combustíveis são fatores positivos.
Se a Petrobras conseguir cortar gordura do seu balanço, ficará mais parecida com outras petroleiras estatais, como as russas Gazprom e Rosneft, que têm custos de empréstimos menores do que os da Petrobras, disse Onorino. O total de US$ 1,25 bilhão em notas da Gazprom para 2037 rende 6,64 por cento, contra 8,47 por cento no caso da emissão de US$ 1,5 bilhão em títulos da Petrobras para 2040.
“A diferença entre a Gazprom e a Petrobras é que o balanço da Gazprom está em uma situação bastante normal enquanto o da Petrobras está chegando lá”, disse ele. “Eu vejo a Petrobras se normalizando em termos de dívida líquida com as vendas de ativos.”
Fonte: Bloombert