O PR fez o primeiro gesto de reaproximação com o governo federal ontem, ao anunciar a formação de um bloco parlamentar com o PTB e a volta dos senadores do partido à base de sustentação. O gesto ocorreu logo após a presidente Dilma Rousseff sinalizar que quer resolver o atrito com a legenda e destravar as alianças do PT com o PR para as eleições municipais no país e, principalmente, para a Prefeitura de São Paulo.
A cúpula do partido, que tinha determinado aos diretórios municipais das maiores cidades que não fechassem alianças com os petistas enquanto a legenda não conseguisse nomear um novo ministro nos Transportes, recebeu um aviso de que, até meados de abril, haverá uma definição sobre o assunto.
Dilma fez chegar a informação ao deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), o principal mandatário do PR, ao voltar de viagem da Índia, onde participou na semana passada da 4ª Cúpula do Brics - grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Ela foi acompanha do ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT), que tentou ponderar com a presidente a importância de formar alianças com o PR nas grandes cidades.
O petista destacou principalmente o cenário em São Paulo, onde seu antecessor no MEC, Fernando Haddad, encontra resistência para fechar alianças com outros partidos. Haddad foi escolhido candidato do PT com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A avaliação da coordenação política do ex-ministro é de que, resolvido o atrito no governo, a aliança é praticamente certa. "Nossa relação na cidade é muito boa. Mas o que eles sempre nos colocaram é que precisam seguir a orientação nacional do partido, que é de não fechar nenhuma aliança enquanto tiverem problemas no governo federal", afirmou o coordenador da campanha de Haddad, vereador Antônio Donato (PT).
O PR quer indicar um novo ministro dos Transportes. O atual, Paulo Passos, embora seja filiado à sigla, é considerado uma escolha pessoal da presidente e não representa a legenda. O anterior, senador Alfredo Nascimento, saiu acusado de corrupção.
O primeiro gesto de reaproximação ocorreu ontem. O líder do PR no Senado, Blairo Maggi (MT), informou à presidente Dilma, em encontro no Palácio do Planato, que a bancada de seis senadores do partido retorna à base de sustentação do governo, formando um bloco de atuação parlamentar com o PTB, que também tem seis.
A volta à base ocorre pouco mais de um mês após o PR do Senado ter decidido ir para a oposição, porque queria retomar o comando do Ministério dos Transportes, de onde foi afastado o presidente da sigla, senador Alfredo Nascimento (AM), após denúncias de irregularidades. "Não conversamos sobre o ministério. Nada mudou em relação a isso", disse Maggi.
A formação do bloco fortalece a ação parlamentar das duas siglas. "Era isso [o PR ir para a base] ou o PTB, que é governo, ir para a oposição. O fato é que queríamos formar um bloco. Éramos os únicos partidos sem bloco no Senado. Isso nos deixava em desvantagem nas relatorias e nas comissões", diz Maggi. O líder do PTB, Gim Argello (DF), também esteve na conversa com Dilma.
"A presidente ficou muito satisfeita com a reaproximação do PR", afirmou Argello, que será líder do novo bloco. "Somos ideologicamente parecidos e não temos divergência. Agora, com o bloco, teremos direito de relatar uma de cada quatro medidas provisórias que chegarem", afirmou. Segundo Maggi, a presidente mostrou satisfação e combinaram ter uma nova conversa.
Juntos, PR e PTB ficam com 12 senadores, e ainda tentam atrair os dois do PSD e um do PSC, somando 15 senadores. Maggi conversou sobre o assunto com a senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Já havia três blocos partidários formados no Senado: o da maioria (PMDB, PP, PV e PSC), com 26 senadores, o de apoio ao governo (PT, PDT, PSB, PC do B e PRB), com 25, e o da minoria (PSDB e DEM), com 14, já contando com a saída de Demóstenes Torres (GO) do DEM.
O bloco de PR e PTB - batizado de "União e Força"- fica em quarto lugar, o que na prática significa conquistar espaço entre as relatorias de medidas provisórias e projetos importantes, por exemplo. A senadora Marta Suplicy (PT-SP), na presidência da sessão, leu a formalização do bloco na sessão de hoje do Senado.
Fonte: Valor Econômico/Por Raphael Di Cunto e Raquel Ulhôa | De São Paulo e Brasília
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