Fornecedores da Petrobras baseados em Catu (BA) iniciam, a partir do próximo dia 15, uma onda de demissões que deve atingir cerca de 600 trabalhadores, segundo projeção do Sindicato dos Petroleiros da Bahia.
São profissionais ligados à atividade de perfuração de poços em campos terrestres de petróleo, que saiu do radar da estatal após a revisão de seu plano de investimentos para o período entre 2015 e 2019, anunciada em janeiro.
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A cerca de 80 quilômetros de Salvador, Catu é um dos principais polos de produção de petróleo em terra do país e, como outras cidades nordestinas, passou por um período de bonança na virada da década, quando o petróleo caro trouxe investimentos na busca por reservas.
No melhor momento, a estatal chegou a ter 14 sondas operando no interior da Bahia. Hoje, há apenas uma, que será desmobilizada quando terminar o poço, em meados deste mês.
"Em 74 anos de operações, este é o pior momento da atividade na região", diz o sindicalista Radiovaldo Costa.
O cenário se repete nos outros grandes polos produtores do Nordeste, em Sergipe, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte, onde a desmobilização de equipamentos também anda a passos largos.
No Espírito Santo, único produtor de petróleo em terra no Sudeste, o fim do contrato das duas únicas sondas mobilizadas pela Petrobras foi antecipado para maio, informa o sindicato local.
READEQUAÇÃO
A Petrobras diz que "está readequando sua frota de sondas aos atuais níveis de demandas e realizando ajustes na programação da perfuração dos poços".
A medida tem o objetivo de poupar os escassos recursos da estatal para a exploração do pré-sal, cujos poços apresentam grande produtividade e, por isso, dão retorno financeiro mais rápido.
Empresários, sindicalistas e autoridades das bases terrestres temem os impactos na geração de emprego e renda e no futuro da atividade, uma vez que novos poços são necessários para compensar o declínio da produção.
"Se olhar pelo enfoque financeiro, a estratégia não está errada, mas a atividade terrestre tem grande peso na economia regional", argumenta Fernando Lucena, presidente do sindicato de prestadores de serviço à Petrobras no Rio Grande do Norte.
Ele afirma que a suspensão das perfurações tem impacto em uma cadeia que vai desde a operação das sondas a empresas responsáveis pelo transporte e alimentação.
A estratégia da Petrobras pegou os municípios produtores da região em dificuldades financeiras, com arrecadação em baixa devido à queda do preço do petróleo.
Principal base no Rio Grande do Norte, Mossoró teve queda de 50% na receita com royalties no ano passado.
Em janeiro, com salários em atraso, a prefeitura decidiu cortar em 30% o quadro de servidores e reduzir o número de secretarias de 19 para 11.
"Se a Petrobras fechar os poços, podemos esperar um novo baque na economia local, lamenta o prefeito, Francisco José Júnior (PSD).
SOLUÇÕES
O consultor Jean Paul Prates, que preside o Centro de Estratégias e Recursos Naturais e Energia, baseado em Natal, defende uma política específica para evitar o fechamento de bases petroleiras.
Segundo ele, um primeiro passo seria a redução dos royalties cobrados sobre a produção em terra, hoje em 10% –mesmo patamar dos grandes campos produtores de petróleo no mar–, melhorando a competitividade dos projetos de menor porte.
Na semana passada, a Petrobras anunciou que venderá parte de seus campos terrestres, uma das reivindicações de fornecedores, que esperam a retomada das operações por novos investidores.
Serão dez pacotes, que incluem conjuntos de campos produtores e equipamentos de escoamento e tratamento da produção de petróleo.
Fonte: Folha de São Paulo/NICOLA PAMPLONA DE DO RIO