Petróleo: Extração vai exigir a construção de 35 embarcações de grande porte e 185 barcos de apoio
O início da produção de petróleo e gás nos campos do pré-sal da bacia de Santos, que deve começar por Tupi, trará grandes chances e desafios para o Brasil. O país pode saltar da 15ª posição para um lugar ainda não definido na lista de maiores detentores de reservas de petróleo do mundo. A Petrobras planeja aumentar sua atual produção, de 2 milhões de barris de petróleo por dia, para quase 4 milhões de barris em 2020.
Isso é mais do que duplicar a quantidade de petróleo extraído, já que os campos em operação hoje sofrem um declínio da ordem de 7% a 10% a cada ano. Para fazer frente a essa redução e cumprir seu planejamento estratégico, a Petrobras terá que aumentar em 3,5 milhões de barris por dia sua produção no pré-sal e fora dele.
O presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, faz um exercício em que supõe que todo esse petróleo seja produzido através de plataformas do tipo FPSO, com capacidade de produzir e processar 100 mil barris cada uma. Nesse caso, a produção vai requerer a necessidade de construção de 35 embarcações de grande porte. Considerando ainda que cada uma necessita de cinco barcos de apoio, é possível estimar uma necessidade de se construir 185 barcos de apoio apenas para esses sistemas. "Isso sem contar os investimentos em cinco novas refinarias, com impactos sobre a logística, capacidade de transporte e de construção", diz.
A movimentação para atrair empresas do setor para o Brasil é intensa e deve ter impulso com as descobertas no pré-sal. "As perspectivas de reservas do Brasil vão mudar a escala de operação das encomendas, da manutenção e de tudo associado tanto à exploração quanto à produção de petróleo em alto-mar", prevê Elói Fernandez, presidente da Onip.
A atividade exploratória no Brasil, que mede o apetite das empresas por descobertas, deve aumentar. Se no início da década existiam 59 sondas de perfuração no Brasil, tanto em terra como no mar, hoje esse número subiu enormemente. São 109 desses equipamentos - alguns alugados por US$ 600 mil por dia - operando no país, sendo 91 com a Petrobras, cinco com a OGX, duas com a Repsol, outras duas com a Anadarko. Shell e Chevron operam uma sonda cada uma.
Na última década a presença estrangeira começou a ser notada, mas o número de plataformas produzindo petróleo e gás não deixa dúvidas sobre a hegemonia da Petrobras, que tem hoje 118 plataformas de produção, enquanto a Shell, Chevron e BP somam, juntas, quatro embarcações produzindo.
Mas isso deve ser apenas o começo de uma profunda transformação. Se as mudanças do marco legal em 1998 só agora começam a trazer investimento estrangeiro em grandes proporções para o Brasil, quatro projetos de lei em votação no Congresso Nacional podem alterar o setor nas décadas que virão. O que se propõe agora é que a Petrobras se torne a operadora única do pré-sal, limitando o papel das empresas estrangeiras a simples parceiras da Petrobras, que terá garantido 30% de todos os projetos.
O regime exploratório, que hoje é de concessão, também deve mudar para a partilha de produção, em que as empresas aceitam "trabalhar" em troca de apenas uma parcela do petróleo. Também está em votação uma mudança na distribuição dos royalties e da Participação Especial - os dois encargos que incidem sobre a produção no país -- que podem afetar profundamente os dois maiores produtores.
O Rio de Janeiro calcula que a nova distribuição trará uma perda anual de R$ 5 bilhões na arrecadação, enquanto o Espírito Santo calcula uma queda de R$ 400 milhões. O assunto é tão polêmico que pode ser votado só depois das eleições. Pelo menos no discurso, as estrangeiras dizem que gostariam de operar áreas, porque teriam oportunidade de gerenciar os projetos e trazer tecnologias para o Brasil. Já a Petrobras admite que precisará mudar sua operação e a logística de produção dada a distância das áreas do pré-sal.
Fonte: Valor Econômico/ Cláudia Schüffner, de Rio
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