Zulmira Furbino - Estado de Minas
Minas não tem mar, mas produz navios. Ou pelo menos parte deles. Em dezembro, cinco empresas de Ipatinga, no Vale do Aço, fizeram o que há pouco mais de um ano parecia impossível: a primeira entrega de um pedido feito pelo estaleiro coreano STX Europe à indústria local. O produto: portas de visita que ficarão instaladas nos cascos das embarcações, num total de 90 unidades. Outras encomendas já foram recebidas – tubos, blocos para a estrutura de embarcações, dutos para ventilação e exaustão, corrimãos, escadas – e estão sendo fabricadas por pequenas e médias indústrias da cidade, que descobriram na construção naval, na indústria de petróleo e gás e na geração de energia seu mais novo filão de negócios. O objetivo é diversificar mercado e, em dois anos, destinar 20% da produção aos novos nichos.
A aproximação entre as pequenas indústrias mecânicas do Vale do Aço e os estaleiros gira em torno da expansão da indústria do petróleo e do pré-sal. O sucesso das primeiras investidas, porém, autorizou a Viga, no Distrito Industrial de Santana do Paraíso, a figurar na lista das 25 empresas brasileiras que participarão da concorrência do Promef Hidrovias, o novo programa de modernização e expansão da frota da Transpetro. A licitação foi anunciada em Araçatuba (SP) na semana passada pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff . O programa prevê a construção de 20 comboios – 80 barcaças e 20 empurradores –, que navegarão pela hidrovia Tietê-Paraná transportando etanol para os mercados interno e externo.
O projeto segue os passos do primeiro Promef, que revitalizou a indústria naval brasileira a partir da encomenda de 49 navios petroleiros. Antes da aproximação com os estaleiros, a participação de Minas Gerais na licitação estava fora de cogitação. De acordo com o diretor-presidente da Viga, Flaviano Gaggiato, o custo dessas embarcações será de cerca de R$ 400 milhões. Não lhe falta experiência para participar do certame. Em seu chão de fábrica já foram produzidas barcaças e empurradores para a navegação no Rio São Francisco.
Jeferson Bachour Coelho é diretor da Líder Indústria Mecânica e presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Ipatinga (Sindimiva). A empresa dele foi uma das cinco do pool montado para atender o STX Europe na encomenda de 100 portas que já estão sendo instaladas nos cascos de navios montados no estaleiro. Por iniciativa do Sindimiva e do Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval Off Shore (Sinaval), em fevereiro Ipatinga recebeu a visita de representantes de outros três estaleiros – Atlântico Sul (PE), Mauá (RJ) e Eisa (RJ). “Antes, a gente ficava preso à cadeia de siderurgia e de mineração. Agora, estamos abrindo novas possibilidades”, observa Coelho.
Para atender as futuras exigências do setor naval, as empresas do Vale do Aço terão que se qualificar e já se movimentam nesse sentido. Um projeto de qualificação de 2 mil trabalhadores no segmento metal-mecânico está em andamento na cidade, com a participação da prefeitura municipal e verbas federais que somam R$ 1,5 milhão. (fonte: UAI)
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