Crise econômica não diminui disposição de empresários noruegueses em fazer negócios no mercados de oil&gas e naval no Brasil
Cautela e otimismo. Esse parece ser o lema das empresas norueguesas interessadas em fazer negócios com o promissor mercado de oil&gas brasileiro. Confiantes de que o Brasil é um dos países com maior demanda por investimentos nos próximos anos, principalmente em função das necessidades de desenvolvimentos dos campos do pré-sal, as indústrias e prestadoras de serviços de alta tecnologia da Noruega não esmorecem diante de desafios como a falta de pessoal qualificado ou a demora na concretização das vendas no Brasil. Pelo contrário, prospectam cada vez mais o mercado nacional em busca de oportunidades de negócios, seja através de representações, seja com parcerias locais. “A Petrobras é a principal petroleira do mundo e muito do crescimento das indústrias do mercado de oil&gas da Noruega se deverá ao crescimento do Brasil”, afirma Trond Olsen, gerente geral do NCE Subsea, um dos clusters marítimos da Noruega. Na opinião dele, por muitos anos o Brasil será o principal mercado para fornecedores de oil&gas em todo o mundo.PUBLICIDADE
E é muito provável que ele esteja certo. Afinal, o plano de negócios 2011-2015 da Petrobras prevê US$ 224,7 bilhões em investimentos sendo que 57% (US$ 127,5 bilhões) em Exploração&Produção. Já o grupo EBX estima encomendar US$ 15 bilhões até 2015.
Considerado prioridade número 1 entre os empresários noruegueses, o Brasil não é visto como um terreno fácil de ser conquistado. Pelo contrário. As barreiras vão muito além da língua ou dos aspectos culturais. A falta de mão de obra qualificada e a consequente necessidade de treinar pessoal, e as exigências de conteúdo local são vistas como desafios. Também o excesso de burocracia e a demora no tempo de maturação dos projetos, intrigam os estrangeiros, acostumados com processos bem mais ágeis.
Segundo Olsen, no mercado de oil&gas a necessidade de qualificação chega a 243 mil profissionais até 2013. Ele lembra ainda que os profissionais qualificados também serão demandados por outros segmentos de negócios também em alta no país. “A falta de mão de obra pode trazer um grande impacto na velocidade dos negócios feitos no Brasil”, afirma ele, que também considera importante que os competidores colaborem entre si, como acontece nos clusters noruegueses.
Os desafios podem ser grandes mas como o volume de negócios é bem maior, o interesse só faz aumentar. Prova disso são os números apresentados pelo Innovation Norway, órgão de fomento da Noruega, com escritório no Rio de Janeiro desde 2004. As missões para conhecer o potencial do setor naval e de oil &gas são sempre um sucesso. A cada ano são mais e mais empresas norueguesas interessadas em visitar estaleiros, armadores e fornecedores nacionais, de olho neste mercado que só faz crescer.
Um dos exemplos de empresa que já ultrapassou a fase de namoro e está atuando no país é a Advantec, que produz sistemas de medição e controle eletro-hidráulicos de alta tecnologia. Com foco no Brasil há cerca de um ano e meio, assinou carta de intenção em julho com a brasileira Lupatech e é uma das três norueguesas que está finalizando o escopo do trabalho com a empresa. O contrato prevê suporte e manutenção por período de 10 anos. “A manutenção durante toda a vida útil é essencial para manter a qualidade dos equipamentos. Além de vender, queremos ter participação local em prestação de serviço de manutenção durante toda a vida útil do produto.”, afirma o gerente de desenvolvimento de negócios da Advantec, Rolf Haldorsen, acrescentando que em breve a empresa pretende ter escritório no Rio de Janeiro ou em Macaé.
Atento às necessidades de conteúdo nacional, Haldorsen adianta que alguns equipamentos serão comprados no Brasil e integrado aos sistemas na Noruega. “Ficamos impressionados com a qualidade dos fornecedores no Brasil”, comentou ele, que por outro lado, se assustou com a burocracia nacional.
Entre as mais entusiasmadas empresas em fase inicial de operação no Brasil está a Aptomar. A empresa fechou representação no país em 2009 e no final do mesmo ano fez sua primeira venda para a Petrobras. Atualmente já tem contratos, por exemplo, com OGX e Statoil para utilização de sua tecnologia de detecção, controle de derramamento e recuperação de óleo. Um dos diferenciais do sistema desenvolvido pela empresa, o SECurus, é a capacidade de estimar, através de câmera de infravermelho de alta definição interligada a radar e computadores, a espessura relativa da mancha de óleo em caso de derramamento de óleo no mar. O sistema estabelece quais os procedimentos que devem ser adotados para combater o derramamento o mais rápido possível e com o custo mais baixo. CEO da empresa, Lars Solberg, afirma que 90% do óleo derramado se concentra em uma pequena área e o mais importante é localizar sua posição exata. As informações táticas ficam a cargo de barcos de apoio offshore e helicópteros. Uma outra vantagem do equipamento é que mesmo estando instalada em uma embarcação em movimento, a câmera não se move ou balança. Entre os planos da Aptomar está a criação de serviço de treinamento para emergências. Segundo Solberg, atualmente a empresa está negociando com a Transpetro uma solução para monitoramento de dutos que se vale de helicópteros.
Não são só as empresas de tecnologia que estão desembarcando no Brasil. Até o final deste ano o estaleiro Kleven Maritime, instalado em Ulsteinvik, fecha parceria com um estaleiro nacional – provavelmente de Niterói – de olho nas encomendas de embarcações de apoio marítimo. O CEO do Kleven, Stale Rasmussen, afirma que passou um ano e meio pesquisando o mercado brasileiro antes de decidir apostar no Brasil. “Hoje as empresas norueguesas tem cerca de 80 embarcações em operação no Brasil. São potenciais clientes. Além de construir também fazemos conversão, manutenção e reparo. Estamos conscientes das dificuldades e sabemos quais são os desafios”, explica, acrescentando que em um estágio inicial o Kleven Maritime pretende focar em manutenção e reparo, deixando as novas construções para uma etapa pós-consolidação. Maior estaleiro da Noruega com capital 100% nacional, o Kleven hoje está voltado para a construção de AHTS. Entrega cerca de nove embarcações por ano e atualmente tem 11 em carteira.
A Siemens é outra empresa que está muito interessada no mercado marítimo brasileiro. Em abril último ela comprou a norueguesa Bennex, que fornece equipamentos para sísmica e em um ano planeja estar fabricando e fornecendo para empresas como FMC e Aker Solutions, no Brasil. “Já estamos conversando com um parceiro local pois a intenção não é ter produção própria mas através do parceiro”, adianta o diretor de Vendas da empresa, Jan Helge Telseth, que sabe da dificuldade para conseguir mão de obra qualificada e pretende se instalar onde for mais fácil consegui-la. Rio Grande do Sul é uma das opções.
Em estágio mais avançado está a ProAnalysis, que desenvolveu tecnologia para monitoramento e gerenciamento da água no óleo durante o processo de exploração, o Argus. “Cada vez tem mais água sendo explorada ao invés de óleo então o desafio é gerenciar esse descarte ou reutilização”, explica Jarle Skeidsvoll, gerente de tecnologia da empresa, que é representada no Brasil pela Metroval. A empresa já vendeu para a P-50 e recentemente fechou parceria com a Wilson Sons para a produção local do ROV elétrico usado no processo. Feito em titânio, o equipamento, embora de fácil manuseio e manutenção, tem que ser resistente à corrosão e a altas temperaturas. Segundo Skeidsvoll, a intenção é estabelecer competência com a cadeia de fornecedores locais.
Trabalho pioneiro também é o desenvolvido pela Marine Cybernetics,empresa criada por quatro professores da universidade de Trondheim. Percebendo que normalmente os equipamentos eram testados mas não os sistemas de controle e automação, eles desenvolveram um software que justamente visa testar e simular estes processos. Denominado Hardware-In-the Loop (HIL), o software vem ganhando adeptos. No momento a empresa trabalha na especificação dos navios de posicionamento dinâmico da Petrobras e a intenção é conquistar novos contratos em breve.
A empresa vem crescendo rapidamente. Começou o ano com 30 funcionários e já tem 60. Estima chegar ao final do próximo ano com 120 empregados e duplicar esse número até o final de 2013. Em maio de 2012 será inaugurado o escritório no Rio de Janeiro, inicialmente com três funcionários.
“A verdade é que ninguém testa seus próprios sistemas. Somente uma 3ª parte pode prover a integração adequada de diferente fornecedores de equipamentos. A simulação é essencial para conhecer melhor a operação e antecipar problemas, reduzindo as chances de erro. Cada vez mais empresas estão incluindo a simulação nas especificações de seus contratos pois aumenta a eficiência e a segurança das operações em DP (Dynamic Position), por exemplo. Com a simulação é possível ter certeza de que as decisões tomadas serão as melhores para as situações reais”, explica o chefe da área de Tecnologia, Oyvind Smogeli. O HIL já tem certificação da DNV e até o final do ano terá também da ABS.
Hoje a Marine conta com três jovens engenheiros de controle e automação brasileiros. Eles foram para lá como estagiários, voltaram ao Brasil para concluir o curso e retornaram para efetivação. Em breve outros três estudantes brasileiros se juntarão à equipe. Ao todo a empresa conta com 12 estagiários estrangeiros. “Essa integração é muito importante e enriquecedora para as duas partes”, comenta César de Carvalho, recém-formado pela Universidade de Santa Catarina, devidamente adaptado à nova vida na gelada Trondheim.
Sem dúvida, o interesse por parceria com fornecedores locais é garantido por cada uma das empresas que iniciam negócios no mercado brasileiro. E como tecnologia de alto nível é o que não falta aos noruegueses, se boa parte desse interesse de fato gerar frutos é possível que em poucos anos o Brasil consiga obter ganhos reais com o desenvolvimento de sua indústria naval e do petróleo.