Às vésperas de uma das maiores licitações da história da Petrobras, o diretor de Serviços da companhia, Renato Duque, conta por que a estatal decidiu construir a maior parte do conteúdo das 28 sondas do pré-sal no Brasil, mesmo que isso lhe custe mais caro num primeiro momento. Em entrevista ao iG, o executivo diz que o estabelecimento de uma cadeia produtiva nacional assegura serviços de manutenção das unidades, além de permitir, no longo prazo, encomendas mais baratas do que no exterior.
As condições degradantes de trabalho por parte de competidores estrangeiros também reforçam a decisão da Petrobras de exigir que a maior parte da fabricação dos bens licitados seja realizada no País, não somente de sondas, mas também de outros equipamentos.
Amanhã vence o prazo de entrega das propostas para a licitação das sondas da Petrobras. Empresas nacionais e estrangeiras foram convidadas, com a condição de cumprirem conteúdo nacional mínimo estipulado pela estatal. O custo médio estimado por fontes do mercado é de US$ 500 milhões por unidade. No pacote, há sondas mais caras e outras mais baratas. Analistas avaliam que o preço dos itens que constituem as sondas pode no Brasil custar até o dobro do valor cobrado em países como Coréia (do Sul), Cingapura e China.
“Mais barato construir lá do que aqui? Temos que olhar toda a cadeia produtiva e levar em conta duas coisas: temos reservas crescentes e um mercado consumidor também em ascensão, uma espiral virtuosa”, contesta.
Jean Paul Prates, consultor da Expetro, concorda com a política industrial da Petrobras. "Itens isolados podem podem custar a metade do preço lá fora, mas esse é o preço que se tem de pagar para ter uma indústria no futuro".
Segundo Duque, outros valores, e não apenas o monetário, são considerados pela Petrobras na hora de encomendar bens e serviços. O executivo conta que ficou impressionado ao ver as condições de trabalho em estaleiros na China. “Aqui vemos os operários nos refeitórios comendo refeições preparadas por nutricionistas, mas lá você vê gente comendo com a mão, é praticamente trabalho escravo. Não podemos expor nossos valores a isso”, conta.
Duque pondera que o trabalho degradante que viu na China não se repete em todos os países asiáticos. Prates lembra que na Coreia do Sul e em Cingapura estariam os mais sofisticados estaleiros do mundo, de empresas como Hyundai e Samsung. Estes fabricantes, segundo fontes, também deverão participar da concorrência da Petrobras.
De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria Naval (Sinaval), as empresas terão de cumprir 55% de conteúdo nacional para as primeiras unidades. Na medida em que a indústria local adquira experiência, o percentual aumentará e 65% das unidades terão de ser equipadas com material nacional, segundo o Sinaval.
"A política de hoje, de incentivo ao fabricante nacional, não está errada. O que critico é a intensidade do incentivo porque isso pode gerar reserva de mercado", analisa Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
É a primeira vez que a estatal encomenda sondas de perfuração com foco em águas ultraprofundas para serem construídas no País. As sondas vão atender prioritariamente às atividades de exploração do pré-sal, na Bacia de Santos. A licitação começou em 16 de outubro, com o envio de cartas-convite a dezenas de empresas. Todos os estaleiros em atividade, que costumam participar das licitações da estatal, foram convidados, bem como empresas de outros ramos que decidiram entrar no negócio de construção de navios e plataformas.
Das 28 sondas que a Petrobras está encomendando, nove serão construídas para a venda e outras 19 para afretamento (aluguel). A estatal, portanto, não será dona da maioria delas. A vantagem para o construtor desta modalidade de afretamento é a garantia dos contratos de aluguel das sondas.
A construção de sete navios-sonda que serão comprados pela Petrobras deverá ser realizada por um único grupo ou consórcio, de acordo com as regras do edital da licitação. A primeira sonda deverá ser entregue 48 meses depois da assinatura de contrato com a Petrobras. Outras duas unidades podem ser erguidas por empresas diferentes, segundo explicou Duque.
Fonte: Grande Prêmio/Sabrina Lorenzi
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