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RBNA completa 30 anos

Empresa consolida-se como principal classificadora brasileira e busca ampliar credibilidade a nível internacional

O Registro Brasileiro de Navios e Aeronaves (RBNA) completa três décadas de desafios em que se consolidou como principal classificadora nacional para indústria naval. Fundado em 4 de agosto de 1982, o RBNA foi criado numa época em que se discutia muito a necessidade de ter uma classificadora naval brasileira em meio a uma área dominada por empresas estrangeiras de mais de 100 anos de existência. Com cerca de 60 empregados, o RBNA atua desde Manaus (AM) até Rio Grande (RS).

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Luiz Alberto de Mattos, um dos fundadores, lembra que na década de 1980 não existia um acervo nacional e o registro do conhecimento tecnológico das embarcações ficava apenas com classificadoras de fora do Brasil. “Queríamos criar um núcleo que também fosse depositário do acervo tecnológico brasileiro. Recalculamos projetos de embarcações, fizemos vistorias e guardamos relatórios de acidentes, formando um acervo tecnológico que não havia”, afirma Mattos.

O professor Floriano Carlos Martins Pires Junior, do departamento de engenharia naval e oceânica da Escola Politécnica da UFRJ, lembra que ter uma classificadora brasileira sempre foi um objetivo da comunidade técnica. De acordo com o professor, grande parte do conhecimento técnico em vários países da área de construção e operação de navios se dá através das classificadoras. “São instituições seculares de grande credibilidade, mas também de muito tempo de vida. Ter isso no Brasil era uma necessidade. Sempre faltou uma instituição nacional voltada para a preservação da memória técnica da indústria brasileira”, lembra Floriano.

Mattos diz que o maior desafio para a RBNA nesses 30 anos foi conquistar a confiança dos clientes em meio a empresas estrangeiras centenárias. O principal mercado da empresa são barcos de apoio offshore, embarcações de serviço, dragas e barcos de carga. A classificadora busca conquistar mais espaço no mercado offshore. “Temos que, aos poucos, criar confiança para ganhar cada vez mais mercado e alçar os níveis tecnológicos para desafios maiores”, projeta Mattos.

Outra dificuldade relatada por Mattos é que as empresas estrangeiras tornam-se ‘brasileiras’ quando abrem um escritório ou unidade no Brasil. Ele explica que um armador de um grupo estrangeiro chega como empresa aberta no Brasil, possui navios com bandeira brasileira, mas tem controle empresarial estrangeiro. “Esse é um tipo de cliente difícil para nós. Mas estamos procurando”, conta Mattos.

O RBNA tem aumentado bastante a participação no mercado. No entanto, Mattos diz que grande parte da receita vai para salários e treinamentos, já que a mão de obra precisa ser especializada. A rotatividade de pessoal também é um problema, na medida em que a carência de capacitação faz com que empresas contratem profissionais que estão trabalhando em outras companhias. “Temos que criar atrativos para as pessoas permanecerem”, alerta Mattos.

O diretor corporativo do RBNA, Adilson Augusto Laranja, destaca que a classificadora é a única brasileira com porte para concorrer com as internacionais. O engenheiro, que trabalha desde 2005 no RBNA, diz que a maioria das empresas estrangeiras busca classificadoras em seus próprios países. Ele relata que armadores brasileiros, como a Petrobras e a Vale, utilizam certificadores internacionais, para alinhar-se às certificadoras do mesmo país dos fornecedores.

A principal meta do RBNA para crescer é tornar-se membro da Associação Internacional de Sociedades de Classificação (IACS, na sigla em inglês). Segundo Mattos, o RBNA ganhará mais credibilidade dos clientes quando fizer parte da entidade. Ele cita que a Petrobras e a Log-In exigem que a classificadora seja membro do IACS.

A empresa está se programando para ser auditada por uma empresa internacional em 2013. No momento, as regras e procedimentos do RBNA estão sendo traduzidos para o inglês. “A condição para entrar é uma auditoria dessa associação. Temos que passar tudo para o auditor que venha de fora entenda na linguagem internacional”, explica Mattos.

A expectativa é que a credibilidade dos clientes pela RBNA cresça quando já for membro da IACS. “Fizemos uma reformulação corporativa, dando mais estrutura empresarial e o RBNA vem avançando. O fator mais importante para classificação e certificação é credibilidade”, ressalta Laranja.

Mattos destaca que esse setor de classificação de navios possui uma importância de fixação e criação de tecnologia, além de ser um campo de atuação na engenharia naval. No entanto, ele lamenta a falta de formação de pessoal com conhecimento tecnológico de navios. Ele defende a valorização do conhecimento tecnológico. Ele cita o reflexo desse problema em acidentes de navios e na construção, como no caso do João Cândido, da Transpetro.

O fundador do RBNA diz que houve acomodação dos estaleiros que culminou no desaquecimento da indústria naval e desmotivação na formação de profissionais para área naval. Ele enxerga essa lacuna no próprio RBNA, onde a maioria dos trabalhadores possui menos de 30 anos ou mais de 60 anos. Ele também observa o aumento do número de mulheres engenheiras e tecnólogas no quadro.

A classificação de uma embarcação consiste em recalcular seu projeto e acompanhar sua construção segundo regras de qualidade publicadas pela certificadora e normas de seguranças publicadas pela autoridade marítima local e internacional, no caso a Marinha do Brasil, através das Normams, e a International Maritime Organization (IMO). Ao final do processo de classificação, a embarcação recebe um conjunto de certificados de classe e estatutários reconhecidos por governos, companhias de seguro internacionais e usuários finais.

O RBNA também oferece soluções em engenharia e em negócios, gerenciamento de riscos, gerenciamento de transportes, meio ambiente e tecnologia da informação. O RBNA Consult, braço de consultoria da classificadora, participa de projetos e serviços estratégicos nacionais. Desde 2004 na empresa, Luís de Mattos passou a integrar o RBNA Consult a partir de 2011. Ele conta que a empresa recebia demanda pequena e era bastante seletiva, participando de projetos marcantes, como o laudo do naufrágio do ‘Bateau Mouche’, e o gerenciamento da construção e comissionamento de dois navios químicos brasileiros construídos na França. Na década de 1990, o RBNA Consult trabalhou no caso do Trade Daring, navio que naufragou em São Luís (MA).

Segundo Luís de Mattos, o RBNA Consult identificou um aumento da procura para serviços de consultoria de engenharia naval e offshore, o que fez com que esse segmento ganhasse mais destaque. “Foi uma decisão acertada porque existia uma demanda grande para esse tipo de serviço, a marca RBNA é forte e o acervo do Consult é muito longo. Conseguimos em pouco tempo já disputar serviço com as grandes empresas estrangeiras estabelecidas aqui no Brasil”, avalia Luís de Mattos, que é filho do fundador do RBNA.

Floriano, da Coppe/UFRJ, observa que o RBNA possui uma história ‘fantástica’, que começou com Luiz Mattos e alguns colaboradores, passou pelo período de crise do setor e se posiciona como classificadora de padrão internacional. “Todo mundo tem muito orgulho da RBNA. É um dos símbolos da capacidade da engenharia brasileira na área naval. Foi um dos sobreviventes, passou a crise numa atividade em que é muito difícil avançar”, analisa Floriano. Ele acrescenta que, se a indústria naval brasileira estiver entre as principais do mundo, vai precisar de uma classificadora nacional dentre as maiores do mundo.  n



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