Os três maiores estaleiros do Rio Grande do Sul - todos controlados por consórcios formados por empresas temporariamente proibidas de participar de novas licitações da Petrobras - vivem a situação mais delicada, segundo as entidades que reúnem os trabalhadores.
"Nas últimas semanas, entre 50 e 60 pessoas estão sendo demitidas todos os dias", afirma Benito Gonçalves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico de Rio Grande e São José do Norte. Até junho, o setor empregava cerca de 24 mil pessoas entre os dois municípios. Atualmente, calcula Gonçalves, restam "pouco mais de sete mil".
Os estaleiros Rio Grande 1 e 2 têm encomendados seis cascos e quatro sondas pela Sete Brasil. Atualmente estão nos diques os módulos das plataformas P-67 e P-69, praticamente intocados, segundo o sindicalista, desde que os pagamentos que deveriam ser feitos pela empresa começaram a atrasar. Apesar do compromisso da Petrobras em manter os contratos já assinados em andamento, a entidade acredita que os problemas de caixa na controladora, a Engevix, podem acabar levando a plataforma para ser concluída na China ou na Indonésia.
O consórcio afirma que não houve demissões em massa nos últimos meses e que a construção das plataformas gera hoje 7 mil vagas diretas e 2 mil indiretas. A empresa disse ainda que não comentaria os assuntos referentes à produção e investimentos.
Ainda em Rio Grande, o Honório Bicalho, controlado pelo consórcio QGI - Queiroz Galvão e Iesa, citadas na Lava-Jato -, previa começar a integração dos módulos das plataformas P-75 e P-77 em janeiro, conforme o sindicato, mas as obras estão paralisadas e, desde dezembro, 25% da mão de obra foi cortada. O grupo nega as demissões e diz que suas atividades não sofreram "qualquer alteração".
Ainda sem as obras de infraestrutura concluídas, o EBR - que pertence ao consórcio Toyo Setal - tem como primeira encomenda a plataforma P-74, que, também com o cronograma atrasado, ainda não começou a ser fabricada. "O EBR pode virar um elefante branco", diz Gonçalves. Procurada, a EBR afirmou que "não está se manifestando atualmente sobre qualquer assunto".
"Nossa principal preocupação é a incerteza", diz o coordenador do comitê de óleo e gás da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Marcus Coester, referindo-se ao período de vigência do bloqueio às empreiteiras citadas na Lava-Jato - ainda desconhecido -, à reformulação do plano de investimentos da Petrobras e aos rumores recentes de que a estatal poderia flexibilizar sua política de conteúdo local.
O polo naval do Estado, ele afirma, é um dos mais concentrados do país. São três grandes estaleiros, cerca de 130 fornecedores de máquinas e equipamentos e outras 200 micro e pequenas empresas - quase 30 mil empregos indiretos.
O renascimento da indústria naval trouxe fôlego novo ao mercado de trabalho de Rio Grande e São José do Norte, diz Coester, que até então viviam uma economia "deprimida". Ainda que o ritmo de investimentos tenha diminuído, os contratos atuais garantem serviços pelos próximos dois anos. "Mas o horizonte de planejamento dessas empresas é de 15 anos", afirma.
Fonte:Valor Econômico/Camilla Veras Mota | De São Paulo
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