Instituto de Ciências Náuticas cria centro de treinamento ‘offshore’ para capacitar profissionais que trabalham a bordo de plataformas
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Com a necessidade de formação de mão de obra para atender às demandas do pré-sal, o Instituto de Ciências Náuticas está em fase de implantação de um Centro de Treinamento Offshore (CTO). Até o ano de 2010, a organização de ensino e pesquisa na área marítima e offshore alocava áreas da Marinha para treinamento. O crescimento do número de alunos à procura dos cursos,
no entanto, foi o estopim para que o instituto montasse a nova unidade, que já está parcialmente em funcionamento.
“No início alocávamos as áreas e o contingente era menor, porque não existiam essas novas fronteiras descobertas. A partir de 2010, a demanda quase que dobrou e não havia mais condição de atender nessa sistemática de espaços segmentados e não integrados. Foi então que visualizamos a necessidade de se fazer um centro com todas as áreas consolidadas”, diz o diretor do ICN, André Guaycuru.
Instalado no município de Maricá, no Rio de Janeiro, o CTO conta com uma área de 50 mil metros quadrados. As obras foram divididas em duas etapas e uma delas foi concluída no último mês de janeiro. A ideia foi priorizar os recursos funcionais práticos. Entre as instalações que já estão em funcionamento no centro estão o pátio para combate a incêndio, o tanque para prática com embarcações de sobrevivência e resgate, o heliponto e o pátio para práticas específicas.
A piscina do centro, cuja profundidade máxima é de quatro metros, também já está em funcionamento. De acordo com Guaycuru, para a sua construção foram levadas em consideração as características de cultura marítima dos brasileiros. “O brasileiro não tem a mesma aquacidade que o nórdico, então precisamos familiarizar essa pessoa e a piscina foi projetada para isso. A parte do meio, que tem 1,30 metro, é uma área de familiarização”, explica ele. O bloco operacional, onde estão instaladas a administração do centro de treinamento, além da lavanderia, almoxarifado de EPIs, vestiários, enfermaria e refeitório, também já foram concluídos.
A segunda etapa de obras, que compreende um alojamento para 120 alunos, um edifício que abrigará inicialmente dez salas de aula com capacidade de 30 alunos em cada uma, um núcleo de simuladores, uma cantina, uma biblioteca e um auditório, serão concluídas no segundo semestre de 2013. Com o alojamento pronto, o ICN poderá ter uma dimensão nacional, abrigando os alunos de outros estados e até mesmo de outros países.
Enquanto a obra no CTO não é finalizada, as aulas teóricas são realizadas em duas unidades do instituto: uma em Niterói, que conta com oito salas de aula, e uma no Rio, com 10 salas, inclusive em duas delas, há equipamentos de tradução simultânea. Segundo Guaycuru, o instituto tem recebido cada vez mais estrangeiros para cursos de pequena duração.
A atividade com a maior demanda é o curso básico de segurança em plataformas (CBSP), que tem como objetivo qualificar o aluno para as tarefas a bordo de unidades offshore. Com duração de 40 horas entre aulas teóricas e práticas, a atividade tem entre suas disciplinas segurança pessoal e responsabilidade social; primeiros socorros; prevenção e combate a incêndio e técnicas de sobrevivência pessoal; e procedimentos de emergência.
Outros cursos importantes, destaca o diretor, são os de certificação de competência, destinados àqueles profissionais que vão compor o cartão de tripulação de segurança da plataforma. São os cursos de operador de lastro, supervisor de manutenção, supervisor de embarcação e o gerente de plataforma. A duração das atividades varia entre 160 horas e 360 horas. Atualmente, o ICN conta com 96 professores. Dois profissionais estão permanentemente no CTO, mas o instituto pretende ter até o final do ano uma equipe de 10 a 15 técnicos no CTO.
De 2003 a 2010, o ICN já formou mais de 25 mil pessoas em cursos offshore. “Não tem nenhum outro lugar no Brasil, nem no hemisfério sul onde se possa fazer. Então, temos uma importância e uma responsabilidade grande”, declara Guaycuru, destacando que os cursos do instituto são credenciados pelas autoridades marítimas de Bahamas, das Ilhas Marshall, do Panamá, de Vanuatu, da Libéria, além do Brasil.
A Libéria, inclusive, foi a primeira a reconhecer os cursos do ICN, cujo projeto de desenvolvimento referente à Resolução A.891 da IMO, que são os cursos para o pessoal que trabalha a bordo de unidades móveis de offshore, foi iniciado em 2000 e concluído em 2002. A avaliação foi realizada pela sociedade certificadora Bureau Veritas. No final do mesmo ano, foi iniciado o processo de avaliação pela Petrobras que, por delegação da Diretoria de Portos e Costas, avaliava em nome do governo brasileiro. Em maio de 2003, o ICN obteve o credenciamento da Autoridade Marítima brasileira.
O investimento no CTO está orçado em R$ 42 milhões. Desse total, 88% são recursos próprios do ICN e o restante é proveniente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Do valor total investido, entre 55 % e 60% foram aplicados em equipamentos. Entre os que já estão em funcionamento estão os simuladores de práticas especiais e de resgate em altura e espaço confinado. Este inclusive foi projetado e montado pelo pessoal do instituto. “É um simulador com quatro metros de altura. Vimos algumas coisas no exterior em academias de Marinha Mercante e centros de treinamento offshore, projetamos e adaptamos a nossa cultura”, diz Guaycuru.
O departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do ICN também está sendo responsável pela produção do simulador de carta eletrônica. Segundo o diretor, o equipamento está em fase de aprovação. Um simulador de manobra, que também está sendo desenvolvido pelo ICN, será totalmente nacional. Com uma versão beta já pronta, o equipamento deve ser finalizado no segundo semestre.
Em média, cerca de 80% dos simuladores do ICN são nacionais. Guaycuru destaca que, apesar de o custo de desenvolvimento ser maior e demandar mais tempo, a escolha por itens locais compensa a longo prazo. “Quando projetamos o CTO, vislumbramos a possibilidade de colocar o índice mais alto possível de equipamentos nacionais e é isso que temos feito. Às vezes fica até um pouco mais caro do que importar um equipamento, mas vale a pena porque temos o domínio da tecnologia, que é fundamental”, diz.
O pré-sal demandará, afirma o diretor do ICN, a formação de mais de 200 mil profissionais para atender a esse mercado. E segundo ele, existe uma carência significativa de pessoal. “Hoje o problema nem é mais tecnologia, é uma questão de capital humano. Basta ir a Macaé e vemos que a maioria dos barcos já está com tripulação totalmente estrangeira”, afirma ele, ressaltando ainda a importância de se investir fortemente na formação e na atualização de profissionais. “É necessário ampliar o sistema de ensino profissional marítimo com o objetivo de atender a esses próximos 20 anos, porque a minha percepção é que isso vai se agravar”, acredita.
Com a conclusão do CTO, o ICN espera colaborar ainda mais com o aumento do contingente apto a ocupar as unidades offshore. “Vamos contribuir para a empregabilidade do brasileiro na área de petróleo e gás. Os custos dos cursos são bem abaixo ao que é praticado no mercado internacional e a qualidade é igual senão melhor”, gaba-se Guaycuru.