Exaltados pelas autoridades presentes, funcionários do estaleiro Mauá são destaque na cerimônia de entrega do navio ‘Celso Furtado’
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Jorge Luiz da Silva Costa iniciava há 23 anos sua carreira profissional na indústria naval. O pintor naval vivenciou bons momentos do setor, a sua derrocada e novamente a sua retomada.
Desde 2004 trabalhando como pintor naval no estaleiro Mauá, no Rio de Janeiro, Costa presenciou desde o batimento de quilha até a entrega do navio Celso Furtado, realizada em novembro do ano passado. A embarcação é a primeira do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef) a entrar em operação.
Para Costa, o sentimento pela conclusão da embarcação é de orgulho. “Não dá para descrever com palavras a emoção que estou sentindo. Poder voltar a ter o prazer de lançar uma embarcação é para nós uma alegria, uma satisfação”, diz ele, que já passou pelos estaleiros Ishibras, Emaq, Verolme e Arsenal de Marinha. “Eu vendi pipoca para manter a família quando não havia encomendas. Hoje não é preciso mais fazer isso pelo fato de estarmos com grandes frentes de trabalho, além de grandes projetos que vão surgir ao longo dos anos”, destaca ele.
Assim como Jorge Luiz, os cerca de dois mil empregados do estaleiro Mauá tiveram o merecido reconhecimento da cerimônia de entrega do Celso Furtado. “Vocês são os verdadeiros heróis dessa história e responsáveis pelo acontecimento da obra”, disse o presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Ele lembrou que o último navio entregue a Petrobras por um estaleiro nacional foi o Livramento, em 1997, e que levou dez anos para ser construído.
A presidenta da República, Dilma Rousseff, presente na entrega do navio, disse que era uma honra poder lançar o primeiro navio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Esta cerimônia tem um aspecto muito importante, porque faz parte de uma luta que vocês ajudaram o Brasil a travar, mesmo antes de estarem trabalhando no Mauá”, disse aos empregados do estaleiro.
Dilma destacou também que hoje o Brasil tem totais condições de construir embarcações localmente. “Não vamos transferir empregos para outros locais do mundo. Hoje estamos provando que os brasileiros sabem fazer casco, navio e plataforma”, disse. O navio Celso Furtado tem um índice de conteúdo nacional de 74%. A presidenta ressaltou ainda que o momento em que a indústria naval esteve paralisada foi um dos mais terríveis da história do país. “Quando se olhava para o chão de muitos estaleiros que já tinham produzido navios, víamos a grama crescendo por entre as pedras. Esse foi o momento em que tivemos uma das maiores perdas dos profissionais do setor metalúrgico no Brasil”, relembra.
A homenagem ao economista Celso Furtado também foi lembrada durante a cerimônia. O prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, disse que Furtado foi um dos maiores pensadores do país. Dilma enfatizou os discursos do economista para relatar a diferença entre crescimento econômico e o desenvolvimento econômico. “O Celso Furtado dizia que um país só se desenvolvia se, além da sua economia crescente, seu povo se desenvolvesse junto. Ele dizia que para ser desenvolvimento tinha que ter crescimento econômico, geração de empregos e distribuição de renda e isso nós estamos conseguindo”, falou.
O presidente do Sinergy Group, German Efromovich, controlador do Mauá, destacou que o estaleiro tem seu destaque pelo pioneirismo e novas ideias. Com 168 anos, o estaleiro também é o responsável pela construção de três outras embarcações do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef): os petroleiros Sérgio Buarque de Holanda e Rômulo Almeida, estão em fase de acabamento, e o último da série, o José Alencar, lançado ao mar em dezembro.
Efromovich disse também que a indústria naval brasileira tem todas as condições para assumir a liderança mundial. “Temos tecnologia, encomenda e gente competente. Vocês são os únicos responsáveis do que estamos vivenciando. O Brasil nunca esquecerá desse momento histórico”, disse aos metalúrgicos do estaleiro.
O governador do estado do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, acrescentou que este é o momento do Brasil. “Não tenho dúvidas de que no século XIX, o barão de Mauá tentou fazer isso, numa época em que não era bonito ser empreendedor. Mas no século XXI o Brasil redescobriu sua autoestima e sua capacidade de fazer navios”, afirmou Cabral.
Quem também participou da entrega do Celso Furtado foi o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), Ariovaldo Rocha. Ele comentou que a entrega do navio Celso Furtado tem uma característica especial por ser o primeiro petroleiro entregue depois de muitos anos. Ele exaltou também a cidade onde está instalada o estaleiro e seus trabalhadores. “Essa embarcação foi produzida em Niterói, berço da indústria naval e da industrialização brasileira, promovida pelo Barão de Mauá. Nossos agradecimentos aos trabalhadores do Mauá que construíram essa embarcação emblemática.”
O discurso mais emocionante da cerimônia ficou por conta da subchefe de máquinas do navio, Alessandra dos Santos. Uma das mais de 150 mulheres no quadro de mar da Transpetro, ela declarou que apesar de passar longos períodos longe da família, está certa de que fez a escolha profissional correta. Para ela, a entrada em operação do navio representa uma nova era para a marinha mercante e para os marítimos. Alessandra também destacou que os 24 integrantes da tripulação estão preparados para a missão que lhes foi dada.
Com 183 metros de comprimento e capacidade para transportar 56 milhões de litros, o Celso Furtado está sendo utilizado para o transporte de derivados de petróleo entre os estados brasileiros. Em sua primeira viagem, o navio saiu direto do estaleiro para o porto de Santos, de onde carregou combustíveis produzidos nas refinarias de São Paulo para as regiões Norte e Nordeste.