A Vale mantém aberta a possibilidade de construir navios de minério de ferro no Brasil, apesar de ter hoje em seu portfólio a previsão de receber, até 2013, 35 grandes embarcações que farão o transporte do produto até os clientes, sobretudo na Ásia. A empresa negocia com o estaleiro Eisa, do grupo Synergy, tentando tornar viável a construção desse tipo de navio no país. Nos últimos anos, a Vale tentou, mas não conseguiu colocar essas encomendas em estaleiros nacionais, o que levou a empresa, em 2008, a contratar a compra de 12 navios na China, por US$ 1,6 bilhão. A decisão foi duramente criticada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contribuiu para o desgaste de Roger Agnelli junto ao governo.
Ontem, Agnelli, cujo mandato termina dia 21, visitou o primeiro dos navios encomendados na Ásia a chegar ao Brasil. Além das embarcações chinesas, a Vale mandou construir sete navios, por US$ 748 milhões, no estaleiro Daewoo, na Coreia. A primeira embarcação feita na Coreia, batizada de "Vale Brasil" e bandeira de Cingapura, está fundeada perto das Ilhas Cagarras, arquipélago rochoso situado na frente da praia de Ipanema, zona sul do Rio, e dali vai seguir para o terminal da Vale em Ponta da Madeira, em São Luís (MA), onde no dia 22 fará o primeiro carregamento de minério destinado à China.
O "Vale Brasil" é o maior navio de minério do mundo, com capacidade de carregar 400 mil toneladas. Além dos 19 navios comprados na Ásia (12 na China e 7 na Coreia), a empresa fez contratos de longo prazo para utilizar 16 embarcações que estão sendo construídas por outros armadores fora do Brasil. Agnelli disse que os navios fazem parte de estratégia montada pela mineradora para reduzir a volatilidade nos preços dos fretes marítimos no mercado transoceânico de minério de ferro.
Agnelli afirmou que a estratégia de investir em frota própria e contratada já permitiu ao Brasil ter um acréscimo de US$ 4 bilhões na balança comercial ao longo dos últimos dois anos. Isso foi possível, segundo ele, porque, de forma simultânea à construção dos navios na Ásia, a empresa fechou contratos de longo prazo para afretamento de navios. Desta forma, contribuiu para reduzir a volatilidade dos fretes, enquanto o preço do minério subia, dentro da nova sistemática de reajustes trimestrais. Assim, houve uma transferência de parte daquilo que antes era pago aos armadores estrangeiros nos fretes para o preço do minério de ferro.
"O objetivo dessa estratégia é reduzir a volatilidade dos fretes com uma oferta de frota estável", disse José Carlos Martins, diretor-executivo de marketing, vendas e estratégia da Vale, presente à visita ao "Vale Brasil". Eduardo Bartolomeo, diretor-executivo de operações integradas, informou que a Vale vem conversando com o Eisa para resolver dificuldades para construção de grandes navios de minério no país. O Eisa planeja fazer um estaleiro em Alagoas, mas na visão da Vale há espaço para ampliar o polo naval de Suape (PE), com mais um estaleiro.
No local já funciona o Estaleiro Atlântico Sul (EAS). O EAS chegou a ser consultado pela Vale para construir navios de minério, mas não atendeu a mineradora em termos de prazos e custos. Segundo a Vale, a oferta do EAS para fazer o navio de minério foi de US$ 236 milhões e a construção do navio só começaria em 2015. "Fizemos onde era mais eficiente fazer [na China e Coreia}", disse Agnelli.
Na entrevista com um grupo de jornalistas a bordo do novo navio, Agnelli fez um balanço de sua gestão. Disse que tem mantido reuniões com o futuro presidente da Vale, Murilo Ferreira, com quem já conversou, entre outros temas, sobre as bases do orçamento da empresa para 2012. Ele negou a informação noticiada que tenha se desentendido com Ferreira, quando este ainda era diretor da empresa, por discordâncias relacionadas à compra da mineradora suíça Xstrata. "Não existiu isso. É algo que de tanto repetir acaba virando verdade. Nunca fizemos proposta para a Xstrata", afirmou.
Ele disse que enviou carta sobre o assunto à diretora de redação do Valor, Vera Brandimarte. "Ela tem a carta que eu mandei sobre todos os eventos [relacionados à Xstrata]. Só que Vera Brandimarte insiste em ignorar essa carta, mas é um direito dela." Agnelli também afirmou ser inverídica informação segundo a qual o conselho da Vale o teria impedido de fazer oferta pela Xstrata. "Não é verdade. Digo com toda franqueza e sinceridade, é mentira o que escrevem no Valor."
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes | Do Rio
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