Polo naval do Rio Grande conta com maior escolaridade da população local para acelerar desenvolvimento
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A escassez da mão de obra especializada é um problema que compromete o crescimento da economia brasileira e a indústria naval é um setores mais atingidos. Nem mesmo estados cuja população apresenta grau de escolaridade superior à média nacional estão livres da falta de qualificação.
É o caso do Rio Grande do Sul, que possui um polo naval em franco desenvolvimento e que prevê a contratação de milhares de trabalhadores nos próximos anos.
Na verdade, são dois os polos gaúchos, com funções distintas: o de Rio Grande, voltado para construções oceânicas e o de Jacuí, destinado à construção de médios e grandes equipamentos como plantas de processo em módulos. Juntos, contam com dois grandes estaleiros já em funcionamento (Engevix/Ecovix e Quip) e mais oito empresas em diferentes estágios de implantação. De acordo com o presidente da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), Marcus Coester, o estado vai receber um pacote de cerca de 9,8 bilhões de dólares em encomendas. “É um movimento positivo e único que a indústria naval gaúcha está vivendo. A previsão é de um futuro promissor, já que contamos com o polo mais verticalizado de toda cadeia metal-mecânica, plástico e construção naval”, comemora.
Diante de tantas expectativas positivas, o setor se confronta com um problema considerado um fenômeno nacional, que é o do apagão da mão de obra. “É um verdadeiro desafio para nós em função do crescimento do estado. Os empreendimentos chegam muito rápido e o tempo é de um ano para começar a funcionar”, explica Coester.
O polo do Rio Grande do Sul conta com algumas vantagens competitivas que o colocam à frente do polo pernambucano — este com alguns anos de funcionamento. Uma delas é a qualificação da mão de obra, já que o estado abriga um polo metal-mecânico. Gente alfabetizada e acostumada com processos industriais e que conta com uma boa base do ensino médio. Também conta a favor a tradição industrial do estado, mais consolidada que a de Pernambuco e que tem uma base produtiva com foco nos setores automotivo, de transporte, elétrico e eletrônico. Nessa corrida para entregar em dia os projetos e para não perder o mar de oportunidades, tanto o estado quanto a prefeitura de Rio Grande trabalham para qualificar o máximo possível de trabalhadores, associando-se a parceiros como o Senai. A falta de tradição e de qualificação do setor naval tem levado empresas a buscarem profissionais fora do estado.
No setor naval, o processo de soldagem exige alto grau de especialização, o que leva tempo. “O polo de Jacuí tem um fator a mais porque pode contar com um pulmão de quatro milhões de pessoas em Porto Alegre que pode ser aproveitado para o trabalho. Não é uma solução ideal, mas ajuda a minimizar a questão da contratação de pessoas”, afirma Coester.
Para resolver esse problema o estado fechou uma parceria com os municípios de São Jerônimo, Charqueadas, Triunfo, General Câmara e Taquari. Para isso, foi lançado o programa Pacto pela Educação, em parceria com o Prominp e com o Senac para qualificação de profissionais como soldador e montador industrial. O curso técnico tem média de 180 horas e o de qualificação, 240 horas. A primeira turma já começou e conta com 300 pessoas. Nessa força-tarefa, o Senai ministra as aulas e o estado fica responsável pela mobilização. “Essa estratégia foi definida em 2011 e é uma área prioritária da nova economia do estado. Esse surto de investimentos tem consequências e o que queremos é um processo regular e contínuo que vai se refletir em escolaridade, crescimento e desenvolvimento”, explica o presidente da Agência.
Para o economista e mestre em Gerenciamento Costeiro Diogo Sá Carvalho, a expectativa com relação à mão de obra é positiva. “O pico de contratações está previsto para 2014-2015 e pode se estender aos anos seguintes. Estima-se que diretamente nos estaleiros em torno de 15 mil trabalhadores”, prevê.
Segundo o economista, o polo gaúcho tem facilidades em sua implantação que não estavam presentes na introdução do polo de Pernambuco — a maior escolaridade da população local e um polo metal-mecânico já consolidado. Segundo ele, no Rio Grande é necessário tempo menor de treinamento para o setor naval. “Temos mais anos de escolaridade, em média. E também maior interação entre universidade e empresa. E comparado a Suape, por exemplo, temos uma excelente indústria metal-mecânica e eletroeletrônica, e em Pernambuco não há tecido industrial tão forte estabelecido.”
O estaleiro Ecovix, do Grupo Engevix Construções Oceânicas, tem investido na captação e retenção de profissionais. O grupo vive uma curva de admissão de pessoal e tem previsão de fechar este ano com 3,2 mil colaboradores e alcançar no próximo ano com cinco mil.
Segundo o presidente da Ecovix, Gerson de Mello Almada, parte da captação provém de convênios com o Senai para fazer cursos profissionalizantes e cerca de 300 colaboradores já vieram destes cursos. Apesar das boas expectativas, Almada ressalta que a mão de obra é um desafio para o setor. “Mas a Ecovix está investindo em treinamento e qualificação, contando com parceria de instituições e universidades.”
O quadro técnico da empresa é formado basicamente por soldadores, montadores de estruturas, caldeireiros, maçariqueiros, encanadores, pintores industriais e outras funções correlatas à montagem de grandes estruturas navais. “Mantemos um processo de busca de qualificação e treinamento deste pessoal há quase dois anos. Começamos por meio de uma parceria com o Senai da cidade de Rio Grande e hoje buscamos parceria com novos centros de treinamento para ampliar a capacidade de formação”, explica. A formação de novos profissionais teve início em fevereiro de 2011 e conta hoje com mais de 700 colaboradores treinados. Pelo planejamento, outros dois mil serão ainda capacitados ao longo de um ano. Atualmente o investimento na formação de pessoal ultrapassa R$ 500 mil, aplicados na mão de obra e no fornecimento de consumíveis (gases, chapas de aço e materiais) que são doados pela Ecovix para atender ao treinamento prático junto ao Senai.
Já para níveis mais estratégicos, como encarregados de equipes, a empresa oferece um programa de formação continuada com o curso Programa de Desenvolvimento de Mão de Obra, seguindo conteúdo programático idealizado pela Petrobras e que foca na gestão de pessoas, liderança e capacitação em Segurança, Meio Ambiente e Saúde. Já engenheiros e gestores de área participam ainda de MBA in company por meio de convênio com a Unisinos. O objetivo é capacitá-los para gerir projetos da área naval.
Diante desse cenário e pelos estudos elaborados com base no número de empregos gerados, especialistas acreditam que o Rio Grande do Sul caminha para se tornar o segundo polo naval do país, à frente do de Pernambuco.