O Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave) afirma que o início de ano mais fraco que o normal do comércio global de contêineres no primeiro trimestre de 2020 não está relacionado exclusivamente ao impacto do novo coronavírus (Covid-19) na China. A associação recomenda cautela com as informações sobre o impacto da epidemia no setor logístico brasileiro. Os armadores associados entendem que, embora começando a registrar impactos que podem ser justificados pela crise oriunda da epidemia, dado o grande número de contêineres retidos em portos chineses, não se pode também dissociar o fenômeno da paralisação na China que já é prevista anualmente.
"É importante contextualizar que o ano novo Chinês tradicionalmente afeta o embarque e recebimento de cargas pois são duas semanas praticamente paralisadas devido às festividades naquele pais — neste ano, especificamente de 25 de janeiro a 12 de fevereiro", salienta o Centronave, que reúne as 19 maiores empresas de navegação de longo curso atuando no Brasil. Juntas, essas empresas transportam cerca de 97% do comércio exterior brasileiro em volume de contêineres.
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Os transportadores marítimos do longo curso entendem que o auge da epidemia do Covid-19, reportada como emergência global pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foi em 30 de janeiro, período em que a maioria das fábricas já estava paralisada. Devido à incerteza em relação à doença, medidas foram tomadas pelas autoridades asiáticas, o que acabou estendendo a pausa ou diminuindo a produção em alguns países. Tal diminuição do trabalho e produção resultou em um congestionamento de contêineres nos portos chineses de Xangai, Xingang, Tanjin e Ningbo.
Para o final de março, há a previsão de escassez momentânea de contêineres, pois muitos desses equipamentos não foram descarregados na Ásia e podem demorar a serem reposicionados para novos embarques. No caso de contêineres refrigerados (reefers), o congestionamento ainda é crítico em Xangai, Xingang e Ningbo. "Diante desta situação, completamente alheia à sua vontade, os armadores estão buscando alternativas e soluções que menos afetem o comércio exterior brasileiro", destacou em nota o Centronave.
A associação ressalta que os maiores impactos de blank sailings (partidas não realizadas) ocorreram nos fluxos de comércio Ásia-Estados Unidos, Ásia-Europa e Ásia-Oriente Médio. O Centronave informou que, para reduzir o impacto da situação junto a importadores e exportadores, os armadores vêm oferecendo alternativas, como mudança de rotas e até mesmo o armazenamento das cargas refrigeradas por período estendido – seja em armazéns ou até mesmo nos próprios navios, em portos chineses – já que o contêiner refeer necessita de energia elétrica para se manter refrigerado. Atualmente, a maioria das províncias da China está retomando o trabalho e deverá gradualmente aumentar o nível de atividade nos próximos dias.