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Aumento de sinistros preocupa

Valores das indenizações pagas por seguradoras de casco marítimo superam os prêmios contratados em 2013 -- O mercado de seguros de casco marítimo registrou em 2013 um aumento significativo nos valores das indenizações pagas e preocupa as seguradoras. Dados consolidados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) referentes ao ano passado revelam que os sinistros totalizaram R$ 213,2 milhões — uma alta de 10% em relação a 2012 —, contra R$ 196 milhões arrecadados com os prêmios. A expectativa para 2014 é que o setor reverta esse cenário e, para isso, algumas operadoras estudam aumentar as taxas das novas apólices, além de impor mais exigências aos segurados e aperfeiçoar a análise e o gerenciamento de risco.


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Dois fatores principais influenciaram esse desequilíbrio, na visão de profissionais da área: prêmios incompatíveis com os riscos envolvidos e custos elevados dos sinistros, especialmente nos segmentos de operação de embarcações e de responsabilidade civil. “Os limites de franquias praticadas pelo mercado são os mesmos há mais de 10 anos, apesar de os valores das novas embarcações serem extremamente elevados, justificados pelas tecnologias utilizadas”, afirma Erika Medici, superintendente executiva de Ramos Elementares da Sul América.

Diretora de marine da corretora Aon, Maria Helena Carbone concorda com Medici. “Os prêmios de seguro não têm crescido nos últimos anos, apesar de as carteiras de marine não estarem apresentando os resultados desejados”, argumenta. “Os custos dos sinistros têm aumentado sistematicamente. Em alguns casos, como no de remoção de destroços ou de assistência e salvamento, os processos são cada vez mais complexos e as exigências, dependendo da região, superam qualquer expectativa”, complementa Carbone.

Apesar do aumento dos sinistros e do alto risco de acidentes que envolvem o setor, o Brasil não teve registro de grandes catástrofes e acidentes complexos, o que é positivo segundo os especialistas. “Não temos visto nenhum grande acidente, como colisões. O que está influenciando bastante [o aumento dos sinistros] é esse somatório das pequenas perdas”, explica Carlos Eduardo Polizio, coordenador da Comissão de Cascos Marítimos da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg). Em alguns casos, a alta dos custos chega a ser dez vezes maior do que era há poucos anos. “A gente tem sinistros de queda de máquinas e motores que custavam R$ 100 mil, R$ 200 mil, e hoje as seguradoras já estão indenizando valores de R$ 1 milhão”, revela Nicholas Weiser, diretor da VIS Corretora.

O impacto do aumento da sinistralidade foi mais significativo na carteira de alguns seguradores. A Itaú Seguros foi uma das que mais teve prejuízo, tendo recolhido em 2013 R$ 41 milhões em prêmios, contra R$ 84,3 milhões pagos em sinistro, segundo dados da Susep. Já na corretora Willis Brasil, o percentual de sinistros esse ano está entre 65% e 68% de toda a carteira, mas, dependendo da seguradora e do segmento de marine, chega a mais. O principal aumento no caso da Willis é referente às indenizações no segmento de embarcações de apoio marítimo. “Temos mais de 40% de sinistralidade de offshore, o que não seria suficiente para tornar uma carteira deficitária. Mas tem seguradora cujo percentual atinge 300%, 400%”, afirma Margareth Carvalho, consultora de Seguros Sênior, Aeronáutico, Cascos e Transportes da Willis.

A perda em algumas situações tem sido tão grande que há seguradoras optando por desacelerar a atuação no setor ou mesmo deixar de oferecer produtos para um segmento específico. É o caso da Tokio Marine, cujas indenizações pagas em 2013 atingiram R$ 16,7 milhões, contra R$ 10,3 milhões em prêmios contratados. A partir deste ano, a empresa decidiu parar de ofertar seguros voltados para operação de embarcações médias e grandes, e focar apenas em construção naval e embarcações de lazer. “Entramos nessa carteira de embarcações de longo curso há quatro ou cinco anos vendo uma oportunidade de o mercado crescer, porque havia muitos estaleiros construindo novos barcos. Mas quando analisamos os últimos três anos, a Tokio Marine não teve bom resultado na sua carteira”, explica Felipe Smith, diretor executivo de Produtos Pessoa Jurídica da seguradora.

Para tentar reverter esse quadro de desequilíbrio, diversas medidas têm sido adotadas pelos seguradores, apontam os especialistas. “As seguradoras estão tentando reagir com as taxas de seguro, estão também comprando mais resseguro e aumentando os limites de seus contratos de resseguro para que possam ampliar sua capacidade de oferta”, explica Carvalho. “[as empresas] Estão fazendo mais exigências, para poder conhecer a operacionalidade do armador ou do proprietário da embarcação. Pedem informações mais completas através de questionários específicos de casco marítimo por linha de negócio, para que a seguradora faça uma análise melhor do risco. Realizam também vistorias”, complementa a consultora da Willis.

Os seguradores têm buscado ampliar os níveis das participações obrigatórias dos segurados em casos de acidentes e o reajuste das taxas já é observado pelo mercado. “Algumas seguradoras, como a Itaú Seguros, já vêm fazendo esse movimento de aumento de franquias para os clientes para poder manter os preços nas renovações”, afirma Weiser, da VIS. Os mais afetados estão sendo os clientes com alta ocorrência de sinistros. “Segurados com uma sinistralidade sistematicamente ruim começam a encontrar maior dificuldade em suas renovações”, enfatiza Carbone, da Aon.

Para Polízio, que é também superintendente executivo de Aero Cascos e Transportes da BBMapfre, essa elevação da franquia obriga os proprietários de embarcações a buscarem melhorias na operação e no controle de manutenção preventiva dos navios. “O segurado é obrigado a prestar mais atenção na operação dele, porque essas pequenas perdas acabam sendo absorvidas por eles. Vale ressaltar que esses operadores estão operando em quase sua capacidade total, e não têm interesse em paralisar uma embarcação”, afirma o executivo.

Há quem veja nesse reajuste das taxas cobradas pelas seguradoras uma reação limitada do setor. “No nosso mercado as seguradoras não estão preparadas para uma atuação proativa, apenas reativa. O mercado é pequeno para permitir um maior aperfeiçoamento. Não vemos nenhuma ação específica por parte das seguradoras para tentar mitigar a ocorrência de sinistros além da tentativa de ampliar as franquias. Até porque a principal causa ainda é a falha humana, em que as seguradoras pouco podem interferir. A correção deste ponto específico passa por treinamento e retenção por parte dos segurados. Muitas vezes o treinamento é feito, mas a retenção não tem sucesso. É preciso combinar ambas num mercado em que a oferta de tripulantes é baixa e a concorrência do setor de óleo e gás é muito forte”, enfatiza Carbone, da Aon.

Para ela, o mercado brasileiro de seguro de casco marítimo ainda precisa avançar na oferta de soluções aos segurados. “Precisamos nos equiparar mais ao mercado internacional. Não conseguimos ofertar toda a gama de coberturas disponíveis nas mesmas condições que elas são ofertadas no exterior”, afirma. Uma das discussões diz respeito à adoção das condições nórdicas, que tem como característica uma apólice all risks, que exclui apenas o que não está coberto. “Na maior parte dos países envolvidos com seguro marítimo, quando você coloca uma apólice sob as condições nórdicas você sabe exatamente o que está adquirindo como proteção. Aqui no Brasil ainda não conseguimos ver com clareza esta cobertura que é misturada às condições gerais da apólice de cascos marítimos brasileira, cuja natureza é diferente da nórdica”, complementa Carbone.

Apesar das dificuldades, a expectativa do mercado é de que o setor de seguro marine siga crescendo, mesmo que não atinja números expressivos como nos anos anteriores. “Os dados da Susep apontam esta correlação [de desequilíbrio entre sinistros pagos e prêmios contratados] para 2013, mas não para os dois anos anteriores. Seguro marítimo tem ciclos que não se repetem com frequência baixa e é possível que 2014 possa ser mais benéfico aos seguradores do que 2013”, aposta Carbone. “Em 2012 e 2013, vimos um crescimento em torno de 10% a 12%, acho que não é um mercado que vai crescer muito, pois não é um mercado grande”, afirma Polízio.

Weiser acredita num crescimento um pouco maior e enxerga oportunidades ligadas ao setor de óleo e gás. “A gente tem uma perspectiva de crescimento de 10 a 20% no volume de prêmios. Mas, se houver nova ajuda e incentivos dos governos, de bancos e investidores, se a economia do Brasil crescer um pouco, se tivermos uma perspectiva melhor de estrangeiro investindo no Brasil, acho que a gente poderia crescer bastante essa carteira, até porque temos aí o pré-sal e principalmente as embarcações de apoio marítimos para o setor de óleo e gás”, explica o diretor da VIS Corretora. “Acho que em cinco ou dez anos você poderia ter um mercado bem maduro de casco marítimo, principalmente voltado para embarcações relacionadas ao setor de óleo e gás”, complementa.






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