Evolução e integração

Cada vez mais completas e acessíveis aos usuários, cartas náuticas eletrônicas se associam à tecnologia embarcada >> A evolução da tecnologia a bordo está alavancando empresas que desenvolvem equipamentos eletrônicos e sistemas computacionais. A integração desses elementos nas embarcações tem dado mais segurança à navegação, reduzido custos operacionais e colaborado para o aperfeiçoamento de cartas náuticas.

Enquanto os modelos eletrônicos das cartas estão cada vez mais completos e acessíveis aos usuários, a comercialização de softwares e equipamentos associados ao uso de cartas náuticas tem tido retorno e animado fornecedores nacionais e estrangeiros sobre o mercado brasileiro. A cadeia de empresas vem trabalhando para aprimorar essa tecnologia e atender às normas internacionais de navegação.

O presidente da Radiomar, Nuno Pinho, conta que as cartas digitalizadas estão se tornando um tipo de produto sem valor agregado. Ele cita a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOOA, na sigla em inglês) — uma agência federal dos Estados Unidos focada no monitoramento das condições dos oceanos e atmosfera e que oferece aos navegantes um endereço para downloads de algumas cartas náuticas gratuitas de áreas da costa norte-americana.

Hoje, por menos de US$ 30 também é possível adquirir o pacote de cartas náuticas de toda zona do Caribe, por exemplo. A compra pode ser feita pela internet por computador, tablets ou smartphones. “Acreditamos que este seja o caminho que será seguido por cartas e sistemas de navegação”, analisa Pinho. Por outro lado, ele enxerga mercado para os sistemas que precisam atender a requisitos de classificadoras e de instituições reguladoras, como o Sistema de Apresentação de Cartas Eletrônicas e Informações (ECDIS, na sigla em inglês) — exigido pela Organização Marítima Internacional (IMO) para determinados tipos de embarcação.

O ECDIS consiste em um sistema de informação para navegação que, com as devidas configurações de backup, pode ser aceito para atender à exigência de dotação de carta atualizada requerida pela IMO. O dispositivo eletrônico apresenta informações de posicionamento provenientes de sensores de navegação para auxiliar o navegante com o planejamento de sua rota e seu monitoramento e, se necessário, dados adicionais de navegação.

Para dispensar o uso de cartas de papel, a norma da IMO estabelece que o navio tenha dois sistemas ECDIS. Com isso, muitas empresas já abriram mão dos modelos em papel. “Alguns clientes fazem opção por tirar carta de papel, outros ainda preferem manter”, conta o diretor vice-presidente da JRC Brasil, Carlos Eduardo Lito. Ele diz que para navios mais antigos, que estão perto de sair de operação, não compensa investir na compra de um segundo ECDIS, que custa cerca de US$ 30 mil no mercado.

A maioria dos navios construídos recentemente já é configurada com dois ECDIS. Uma das soluções oferecidas pela JRC é a instalação de um ECDIS propriamente dito e um equipamento de painel multifuncional (Multi Functional Display — MFD), que pode desempenhar várias funções, desde radar até ECDIS.

A norte-americana Jeppesen, do grupo Boeing, fornece cartas náuticas eletrônicas oficiais e outros sistemas para navegação segura, incluindo atualização de cartas, avisos de pirataria e previsões meteorológicas. O gerente comercial e de produtos do setor marítimo e serviços hídricos da empresa, John Klippen, destaca que as cartas eletrônicas e sistemas náuticos oferecidos são compatíveis com a maioria dos sistemas ECDIS disponíveis no mercado. “Temos base de dados que ajudam a gerenciar cartas e publicações náuticas e a criar rotas. Além disso, o núcleo de auxílio onshore da empresa ajuda os navegantes a traçar a viagem ideal e rotas em todo o mundo”, afirma.

O conceito utilizado pela Jeppesen é que o usuário escolha cartas náuticas eletrônicas e serviços de cartas de dados que melhor se adaptem aos seus negócios e frota. A empresa também fornece ferramentas para produzir cartas náuticas eletrônicas de alta qualidade. “Nossa expectativa é que o crescimento do setor marítimo continue especialmente em áreas como petróleo e gás. Vemos o Brasil como mercado em crescimento para nossos produtos e serviços, tanto para transporte doméstico quanto para atividades em alto mar”, afirma Klippen.

A Velamar Náutica, que atua como revendedora das cartas náuticas da Marinha, encomendando e recebendo cartas, considera que esse mercado não é atrativo. O diretor da empresa, Fredy Morisot, diz que os revendedores enfrentam certa dificuldade porque precisam de recursos para comprar cartas da Marinha à vista, manter o estoque e pagar impostos, tudo antecipadamente. “É um produto de baixa liquidez para o comerciante”, explica.

Morisot admite queda nas vendas de cartas náuticas nos últimos anos. Segundo ele, um dos motivos é que muitos navegadores — de embarcações de esporte e recreio, principalmente — acham que o GPS substituem cartas náuticas oficiais, o que é irregular e perigoso. “Os navegadores que fazem a navegação de acordo com orientações e práticas corretas compram todo conjunto de cartas para fazer navegação segura”, diz.

O diretor da Velamar avalia que é difícil enxergar o horizonte para os próximos anos. Ele lembra que o uso de GPS está cada vez mais forte e que a carta náutica de papel já não é mais obrigatória nos Estados Unidos. “Em médio e longo prazo a tendência é diminuir. Os GPS e cartas eletrônicas vão ficando mais precisos e os usuários, tornando-se mais íntimos dos equipamentos”, analisa. A legislação atual obriga o porte da carta da região que está sendo navegada.

O diretor da Cash Computadores, Norberto Coelho da Silva, lembra que a demanda é pequena, mas que a empresa está conseguindo atender o mercado profissional (hidrovias e embarcações maiores), além do mercado de recreio. O foco tem sido um sistema desenvolvido pela própria Cash para o controle de tráfego aquaviário (STAq). A solução é utilizada por empresas de navegação, praticagem, portos, terminais e pela Marinha e está sendo, ou já foi implementado, em portos como Santos (SP), Rio Grande (RS), São Francisco do Sul (SC), Vitória (ES), Rio de Janeiro (RJ), Itaguaí (RJ), porto do Açu (RJ) e Manaus (AM).

O sistema armazena os dados, permitindo a visualização de tráfegos passados e criação de uma série de alarmes. Um dos recursos são câmeras de vídeo integradas ao sistema. O operador consegue observar determinadas embarcações através das câmeras e sistema de cartografia eletrônica. Assim como acontece no tráfego de aeronaves, os navios com esses dispositivos ficam visíveis nas cartas náuticas. “É importante ter um sistema que permita enxergar as informações na tela do computador”, destaca Coelho.

A Cash é uma das principais empresas do ramo no Brasil. As principais concorrentes na disputa dos editais são empresas estrangeiras. “Eles [concorrentes estrangeiros] têm mercado maior lá fora. Por outro lado, fica mais difícil para eles atenderem às exigências e darem suporte para o usuário”, analisa Coelho. Ele destaca que a Cash tem conseguido atender uma série de especificações dos clientes, o que às vezes pode ser um desafio para concorrentes de outros países.

No entanto, Coelho pondera que em grandes editais a empresa precisa de parceiros para vencer as licitações e atender à demanda.  “O objetivo do edital é o nosso software. Só que, às vezes, são agregados a ele até obra civil. Aí para entrarmos temos que nos juntar com alguém (consórcio), onde vamos ser o fornecedor”, explica. Ele diz que a Cash não tem como atender sozinha exigências como construção de prédios e instalação de geradores.

A JRC utiliza o sistema de controle gráfico (STAq) da Cash no Brasil, apesar de ter esse tipo de sistema desenvolvido em sua matriz no Japão. A JRC não comercializa cartas náuticas, mas recomenda algumas empresas cujas ENCs (modelos eletrônicos) possuem compatibilidade com seus equipamentos. Apesar disso, Lito acredita que o mercado de cartas náuticas é um bom negócio. Ele diz que sua empresa leva vantagem ao oferecer soluções completas aos armadores com a fabricação de diversos equipamentos eletrônicos do navio.

Na parceria, a Cash fornece toda a parte de software para carta náutica e a JRC prepara a parte de comunicação, incluindo o radar. O software permite a visualização no computador de imagens geradas no radar. Lito, da JRC, explica que o sistema é necessário para receber as informações dos radares, VTS (Serviço de Tráfego de Navios) e VTMIS (Sistema de Gerenciamento e Informação do Tráfego de Embarcações).

Fora do Brasil, é pequeno o uso de cartas náuticas de papel. A carta náutica ligada a sistemas a bordo recebe atualizações frequentemente, reduzindo o risco de acidentes e até os custos operacionais.  A atualização de um naufrágio que ocorreu pela manhã pode, por exemplo, sinalizar aos navegantes o obstáculo já na parte da tarde do mesmo dia. “A carta de papel não dá essa segurança”, resume Lito.

A ponte integrada de equipamentos eletrônicos reúne informações como vento, correntes marítimas e altura de ondas. O radar detecta a altura de onda, ajusta velocidade e o curso do navio, tornando a viagem mais econômica. “O navio chega na hora, consumindo menos e a viagem é mais tranquila”, enfatiza Lito, da JRC.

Em Santos, a Cash desenvolveu projeto de grande porte em parceria com a praticagem local. Lá, o sistema está bem desenvolvido e foi construída uma sala de controle. A Cash também fornece o sistema de controle de tráfego para o porto do Açu (RJ), empreendimento da Prumo Logística, cuja operação parcial teve início em outubro. Neste empreendimento, a Cash entrou sozinha no edital, concorrendo com estrangeiras e saiu vencedora.

A Cash também participa de licitação para implantar estações de AIS (Sistema de identificação Automática) ao longo da hidrovia Tietê-Paraná e integrá-las ao sistema (STAq). Coelho lembra que ter um sistema confiável é importante para navegar em hidrovias. Esse tipo de navegação é mais complexo que no mar, por conta das mudanças frequentes nas condições do rio como profundidade, correntes e curvas.

Como a Marinha exige o uso do sistema de identificação automática — o AIS (transponder) nas hidrovias, a perspectiva da Cash é que  seu software, o ‘Nasareh’, tenha versão integrada ao sistema de controle de tráfego. Lançado em 1996, o Nasareh já passou por diversas atualizações. O software possui várias versões, desde as mais simples até as versões com cartografia eletrônica que tem características específicas para hidrovia. “Hoje quem tem Nasareh a bordo também recebe dados de outros navios que tem transponder de AIS”, explica Coelho.

Fundada em 1974, a Radiomar é distribuidora de equipamentos e soluções integradas para navegação, telecomunicações nas frequências marítimas, pesca profissional, comunicação via satélite e interna. A empresa brasileira representa com exclusividade no Brasil há 40 anos a Furuno, além da Nobeltec, voltada para desenvolvimento de softwares, e a Mapmedia, focada na produção de cartas náuticas. Dentre os softwares, o Time Zero Coastal Monitoring (para monitoramento de costa), é considerado um sistema simples e de baixo custo e multifuncional.

O sistema busca otimização da utilização da infraestrutura portuária e permite o monitoramento e identificação dos navios e outros objetos de navegação. A solução também dá assistência na busca e salvamento e em atividades de guarda costeira, contribuindo para detecção de atividades ilegais como o terrorismo, pirataria, imigração ilegal e pesca ilegal. A empresa oferece suporte desde o aconselhamento dos equipamentos mais adequados, projeto e integração de sistemas, instalação, comissionamento, treinamento e serviços pós-venda através de contratos de manutenção preventiva ou avulsos, bem como vistorias de estação de rádio.

O maior faturamento da Radiomar, que ocorreu em 2012, está sendo igualado e pode até ser superado em 2014. O diretor comercial da Radiomar, Edivaldo Sander, conta que o mercado parou de contratar no início do segundo semestre, mas ressalta que a empresa está confiante e apostando, principalmente, no segmento de serviços. Em 10 anos, as vendas de produtos pela Radiomar cresceram três vezes, enquanto as vendas de serviços aumentaram 8,5 vezes.

A Radiomar possui projetos em andamento em diversos estaleiros, como Eisa (RJ), Vard Niterói (RJ), São Miguel (RJ) e Detroit (SC). Além do segmento de estaleiros, a empresa tem potenciais clientes no setor portuário. “O principal objetivo da Radiomar é desenvolver a parte de serviços e solidificar a empresa como a maior no segmento de eletrônica naval”, projeta Sander. A Radiomar oferece desde soluções para cartografia até equipamentos como ECDIS e AIS. O assessor de projetos especiais da Radiomar, Fabiano Cantarino, acrescenta que os portos demandam uma série de equipamentos eletrônicos que podem trazer oportunidades para a empresa. Ele ressalta que a concorrência do VTS (Serviço de Tráfego de Navios) nos maiores portos brasileiros ocorre com empresas grandes voltadas mais para área de tecnologia da informação (TI) do que para eletrônica.

A Velamar vende cartas náuticas para todo o Brasil e tem como clientes empresas de serviços, empresas portuárias, armadores, barcos de serviços e até empresas de telefonia que implantam cabos submarinos. Além do mercado profissional, a navegação de esporte e recreio corresponde à parcela importante das vendas. Morisot diz que a empresa se destaca porque trabalha de forma personalizada, tanto em vendas corporativas, quanto varejo.

Ele destaca que a Velamar tem uma atuação diversificada, comercializando mais de três mil produtos, sendo as cartas náuticas apenas um item do catálogo. No entanto, Morisot reforça que as cartas náuticas são exigência da Marinha e que precisam ser utilizadas. “O mercado de cartas náuticas continua, é obrigatório — continuam precisando muito — e somos um ponto de distribuição praticamente único em São Paulo”, afirma.

A Jeppesen fornece seus produtos e serviços diretamente através de distribuidores. A empresa considera o mercado brasileiro importante e aponta oportunidades de fornecimento de produtos operacionais e de navegação para alto mar, offshore e navegação fluvial. “As soluções integradas permitem combinar serviços que auxiliam os negócios, os quais podem ser de cartas, tempo e dados de pirataria, para otimizar a viagem e software de planejamento de rota”, destaca Klippen. A estratégia vale para produtos e serviços de navegação e para aumentar eficiência da frota.

Klippen diz que, até o momento, a Jeppesen não teve dificuldades para expansão de negócios no Brasil. Ele afirma que a empresa pretende permanecer na vanguarda do desenvolvimento tecnológico. “Desempenhamos um papel ativo nas organizações marítimas e organismos de normalização, para ajudar o equilíbrio da indústria isso precisa de inovação e regulação, assim como assegurar que nossos produtos sempre estão adequados aos novos padrões”, explica Klippen.

A Jeppesen está trabalhando no desenvolvimento e implementação do novo padrão de dados hidrográficos S-100 da IMO, incluindo a nova especificação (S-101) e especificação batimétrica (S-102) de carta eletrônica da Organização Hidrográfica Internacional (IHO). A empresa também trabalha em parceria com fornecedores de softwares, como desenvolvedores de ECDIS, buscando alinhar seus produtos com novos padrões e para alcançar eficiência e melhorias de segurança para armadores e para comunidade marítima em geral.

A subsidiária da Boeing está com olhar atento às oportunidades na navegação de lazer  e comercial, cujos armadores operam globalmente. “No que diz respeito a nossa própria inovação de produtos, temos simplificado o gerenciamento de cartas náuticas eletrônicas para armadores e marinheiros”, conta Klippen. A Jeppesen fornece atualizações em tempo real, semiautomaticamente, mantendo seu portfólio atualizado com as últimas correções e novas cartas náuticas. Estas atualizações estão disponíveis totalmente digitais ou integrados no tempo certo com bases de dados de cartas atualizadas por meio de DVDs.

Em 2014, a brasileira Vision Marine apostou na parceria com a alemã Chartworld, distribuidora das cartas náuticas da empresa Seven Seas Marine. Leandro Meireles, consultor de vendas da Vision Marine, destaca que a empresa oferece como diferencial um pacote de soluções que inclui ECDIS, cartas náuticas, treinamento e comissionamento de sistemas. "Começamos bem essas vendas no mercado. Geralmente quando vendemos ECDIS (da Sperry Marine), a carta náutica vai junto", conta Meireles.

A Vision Marine trabalha com ECDIS há cerca de cinco anos. Meireles explica que as cartas náuticas precisam de atualizações frequentes. A vantagem deste equipamento é que as cartas do tipo raster já não são reproduzidas nele, que utiliza modelos vetoriais. Quando há redundância de sistemas ECDIS a bordo, conforme a norma da IMO, as cartas de papel são dispensáveis.

A Vision Marine já comercializou cinco cartas náuticas para o grupo CBO e está com expectativa de ampliar de 100% a 150% esse mercado em 2015. A aposta, segundo Meireles, baseia-se em novas embarcações que serão entregues e na substituição de equipamentos de navegação em embarcações de seus clientes que já operam atualmente.

Lito afirma que 2014 foi um bom ano para a JRC Brasil na área marítima, impulsionado pela construção de novas embarcações e parte de manutenção e serviços. A empresa pretende inaugurar uma unidade em Santos no primeiro semestre de 2015. A filial será dedicada à parte de serviços e treinamento. Ele lembra que a operação dos ECDIS exige certificações específicas. Como os treinamentos costumam ser realizados a bordo, a ideia é oferecer uma base de ensino na unidade.

Confiante no mercado naval e portuário, a JRC também participa das licitações para instalação do VTMIS nos portos de Santos e Vitória, vencidas pela Indra. Lito diz que o certame apresentou preços ‘agressivos’, o que diminuiu as chances de disputa. A diferença entre o preço mínimo e máximo ofertados em Santos passou de 150%. “Tentamos diretamente sozinhos, depois em consórcio. Sempre apareciam problemas ligados a preços”, conta Lito. Agora, a JRC trabalha em busca de vencer o leilão para instalação do VTMIS no porto do Rio de Janeiro.

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