Segunda onda da covid-19 na China também vem provocando atrasos nos embarques
O encarecimento do frete aéreo e marítimo, somado ao alargamento de prazos de entrega e aos efeitos de uma segunda onda da covid-19 na China, provoca escassez de componentes eletrônicos no Brasil. Sondagem da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) com 80 empresas identificou que 71% sentiram dificuldades na aquisição de componentes e matérias-primas em dezembro.
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“Esse é, em grande parte, um problema de logística”, esclarece Humberto Barbato, presidente da Abinee. Dados compilados pela associação indicam que o valor atual do frete para trazer um contêiner da China ao Brasil mais que dobrou, na comparação com o período anterior à pandemia.
Antes da covid, cerca de 60% da carga aérea global viajava em aviões de passageiros, que ficaram mais em solo na pandemia
Antes da disseminação da covid-19, o valor estava em torno de US$ 4 mil, com algumas empresas conseguindo contratar o serviço por US$ 3 mil. O preço está hoje em torno de US$ 9 mil. A alta atingiu também o valor pago pelo transporte de carga por via aérea. Passou de US$ 6 para US$ 12 por quilo transportado, compara Barbato.
“É um problema mundial”, afirma Altair Baptista, presidente-executivo da empresa de agenciamento de carga TFA Cargo Logistics. A demanda muito superior à oferta elevou para US$ 12 mil o preço do transporte de um contêiner da China para Europa, exemplifica. O valor é, portanto, superior ao frete marítimo da China para o Brasil, apesar de a Europa estar geograficamente mais próxima da potência asiática.
Em julho de 2020, na esteira da desaceleração econômica mundial provocada pela covid-19, o custo de transporte marítimo da China para o Brasil chegou a US$ 300 por contêiner. “As companhias marítimas queriam embarcar carga de qualquer maneira”, lembra Baptista, acrescentando que o primeiro semestre de 2020 foi marcado pela ociosidade das embarcações.
Com a retirada de navios ociosos das rotas e a demissão de empregados, a capacidade disponível para contratação encolheu e o preço, explodiu. Em agosto estava em US$ 1.600 por contêiner. Dobrou de valor em setembro (US$ 3.200) e em dezembro já estava em US$ 6.000, segundo o executivo da TFA Cargo, empresa que integra a Associação Brasileira de Logística (Abralog).
Baptista frisa que boa parte dos produtos exportados pelo Brasil para a China necessita de contêineres refrigerados, como é o caso das carnes e frutas. Esse tipo de caixa metálica dificilmente serve para trazer, na viagem de volta, produtos da China para o Brasil, o que poderia baratear o custo de importação. Isso porque o Brasil compra da China principalmente produtos acabados, como aparelhos eletrônicos e máquinas, que não necessitam de refrigeração e em alguns casos podem até danificar este tipo de contêiner.
No caso do frete aéreo, o encarecimento está relacionado ao menor número de voos comerciais, de passageiros, disponíveis. “Antes da pandemia, aproximadamente 60% da carga aérea global era trazida em aviões de passageiros”, diz Maurício Coelho, gerente de carga aérea para o Cone Sul da Maersk, outra associada da Abralog.
O panorama mudou completamente no primeiro semestre de 2020, quando o percentual de aeronaves em solo chegou à casa dos 80%. A recuperação no semestre seguinte não foi suficiente para reverter o desequilíbrio entre oferta e demanda, puxado por uma restrição severa na oferta. “O valor do frete aéreo chegou a subir quatro vezes mais do que no período pré-pandemia. Hoje, está praticamente o dobro”, conclui Coelho.
Além dos preços mais salgados, a segunda onda da covid-19 na China vem provocando atrasos nos embarques, informa o presidente da Abinee.
Barbato ressalta ainda que a indústria eletroeletrônica se ressente da escassez de insumos locais. Papelão e resinas plásticas, usados na produção de embalagens, estão com prazos de entrega duas vezes maiores que o normal. “No ano passado, tivemos o caso de um fabricante de celular que não distribuía o produto por falta de caixa para embalar”, conta.
Apesar dos efeitos recessivos da pandemia, do encarecimento do frete e da falta de insumos, o faturamento da indústria eletroeletrônica cresceu 1% em termos reais no ano passado. O número de empregos diretos gerados pelo setor também aumentou em relação a 2019.
A explicação está, principalmente, na compra de equipamentos de informática. Na comparação anual, a receita do segmento aumentou 17%, impulsionada pela adoção do trabalho remoto (home office). “O computador voltou a ser pessoal”, diz Rodrigo Pereira, analista do IDC Brasil, numa referência às máquinas que eram compartilhadas por toda a família antes da pandemia. “Houve uma boa reposição da base de computadores no país”. O trabalho em casa, conjugado com a necessidade de assistir a aulas pela internet, levou à compra de novos computadores.
Fonte: Valor