Para fugir da alta de custos gerada pelo tabelamento dos fretes, criado pelo governo para acabar com a greve dos caminhoneiros em maio, empresas buscam alternativas. Em alguns setores, o preço tabelado representa aumento de até 100% nos custos com transporte. Por isso, empresários planejam criar frotas própria de caminhões ou alugar veículos para reassumir o controle da logística.
Ainda não é possível dimensionar esse movimento, mas, a depender do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a constitucionalidade do tabelamento no próximo dia 27, a tendência deve ganhar impulso.
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— Há empresas estudando a compra de caminhões novos, outras estão alugando e um terceiro grupo está arrendando. Se o STF considerar o tabelamento constitucional, as companhias vão intensificar as compras e o aluguel para fugir do aumento de custos — avalia Edeon Vaz Ferreira, diretor do Movimento Pró Logística de Mato Grosso.
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A JBS, uma das líderes globais em alimentos, já decidiu comprar 360 caminhões para reforçar sua frota própria — que passa de mil veículos. Em nota, a companhia controlada pelos irmãos Batista explicou que a decisão faz parte de uma estratégia para reduzir “os impactos de custo causados pela aplicação do tabelamento do frete rodoviário”.
Dependendo do setor e da região, o tabelamento provocou alta nos custos entre 30% e 100%. Segundo Maurício Lima, especialista da consultoria Ilos, o setor de cimento é um dos que viram seu custo com frete dobrar.
— Para as cimenteiras, a frota própria pode valer a pena porque o transporte representa 31% do preço do produto. Outra alternativa é alugar caminhões com motoristas próprios ou contratar uma frota dedicada. Neste momento, as empresas ainda estão fazendo as contas. Além de a tabela da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) ter problemas, o STF pode invalidar tudo. É difícil tomar decisão agora. Há uma insegurança muito grande.
Produtores de soja e milho estimam um custo extra de US$ 2,4 bilhões (cerca de R$ 9,3 bilhões) sobre os 118 milhões de toneladas que devem ser exportados este ano, diz a Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec).
— Calculamos, por baixo, um custo adicional de US$ 20 (R$ 78) por tonelada. Há o risco de o Brasil deixar de ser o segundo maior exportador de milho do mundo por conta do aumento do frete — diz Sergio Castanho Teixeira Mendes, diretor-geral da Anec.
ENTREGAS DE MOTO OU A PÉ
A Amaggi, maior empresa nacional de comercialização de grãos, cogita comprar entre 300 e 500 veículos novos. Hoje, 100% da frota usada pela companhia são terceirizados. Cada veículo próprio representa um investimento de até R$ 600 mil. A Amaggi precisa de 5.000 caminhões para as movimentações envolvidas em suas operações. Em 2017, movimentou cerca de dez milhões de toneladas.
— Para os produtos que já haviam tido seu preço definido, o impacto financeiro (do aumento do frete) deverá ser bastante significativo — estima o presidente executivo da Amaggi, Judiney Carvalho.
A Cargill, gigante do agronegócio, está orçando a compra de mil caminhões. Números da Fenabrave, associação que representa os revendedores de veículos, mostram aumento da venda de caminhões este ano, com a greve dos caminhoneiros em maio. Entre janeiro e julho foram vendidas 39.005 unidades, contra 29.981 no mesmo período de 2017.
Já a Via Varejo — que reúne Casas Bahia e Pontofrio — busca outras saídas. Estabeleceu que fabricantes devem entregar mercadorias nos seus centros de distribuição mais afastados, sem passar por suas unidades de São Paulo e Rio, de onde os produtos eram transportados por terceirizados. E fez parceria com a Eu Entrego, rede de aplicativos que conecta entregadores independentes a empresas. O produto pode ser entregue de carro, moto, bicicleta ou a pé. Para isso, a Via Varejo transformou pelo menos 70 lojas em pequenos centros de distribuição, reduzindo a demanda por caminhões.
— Reduz custo, a chance de avarias e a entrega é mais rápida. É uma mudança que já havia começado e ajudou a contornar a greve — diz Edgard Filho, diretor de operações logísticas da Via Varejo. (Colaborou Alexandre Rodrigues)
Fonte: O Globo