O setor de navegação entendeu que as tecnologias disruptivas vão cada vez mais pressionar por mudanças e direcionar os armadores para mais perto de seus clientes, que buscam eficiência operacional e agilidade na solução de problemas logísticos. A tendência é que, em todas as decisões tomadas, os grandes transportadores marítimos mundiais levem em consideração as transformações e os processos inovadores que surgem no mercado global de transportes. Os armadores e operadores logísticos precisam lidar com clientes mais exigentes e prazos mais apertados de entrega, o que demanda quebra de paradigmas em práticas consolidadas por décadas.
O chamado processo de ‘Uberização’ que trouxe startups altamente competitivas a mercados sólidos faz com que os proprietários de ativos se tornem gradativamente meros prestadores de serviços. A dinâmica de entrega da Amazon, por exemplo, forçou mudanças no fluxo de operações e motivou adequações e melhorias para a Fedex nos Estados Unidos. Esse é um caso de empresa sem uma grande quantidade de ativos que têm como diferencial superar gargalos e simplificar a carga administrativa dos clientes.
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“O desafio hoje para as empresas é diminuir a carga administrativa dos clientes”, apontou o chefe de intermodalidade da Hamburg Süd/Aliança para costa leste sul-americana, Fernando Camargo, durante painel do seminário de logística organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK). Ele percebe os compradores se especializando e conhecendo cada vez mais da cadeia do negócio, inclusive a parte do transporte marítimo. Camargo contou que a movimentação da Hamburg Süd na direção do cliente já existia e ganhou força com a fusão com a Maersk. Ele disse que a Aliança, braço de cabotagem do grupo no Brasil, já tem a seu favor a experiência adquirida no porta a porta. O desafio é simplificar a operação e agregar valor aos clientes.
A Aliança é usuária dos modais rodoviário, ferroviário e hidroviário na composição de soluções que atendam ao prazo de entrega das mercadorias. Segundo Camargo, a intermodalidade deixou de ser vista como um serviço acessório, assim como a área de tecnologia da informação (TI), na medida em que esta passou a ser estratégica. A expectativa é que nos próximos anos o grupo Maersk abra o leque de oportunidades para negócios além do mercado marítimo que hoje representa mais de 80% de seu faturamento. A empresa aposta numa plataforma blockchain, em parceria a nível internacional com a IBM. “Não adianta se propor a fazer um serviço global e integrado se não tivermos isso no futuro”, salientou Camargo.
O gerente geral de negócios da MRS Logística, Guilherme Alvisi, disse que operadores do transporte marítimo e ferroviário vivem momentos semelhantes, buscando mercados que não eram atingidos e agregar valor em etapas em que antes somente outros players da cadeia faturavam. Nesse processo, ele vê cargas tradicionalmente transportadas por rodovias e que puderam ser prospectadas e incorporadas a esses dois modais. Já o gerente de operações logísticas da B Braun, Felipe Gonzalez, considera que a multimodalidade é fundamental para o tipo de negócio da empresa, que fornece produtos médicos hospitalares. Ele destacou a necessidade de informações em tempo real e entrega no prazo ao cliente final, já que a maioria dos hospitais trabalha com margens apertadas de estoque, o que não permite atrasos no recebimento de determinados produtos.