O anúncio da CMA CGM de que um de seus navios passará pelo Canal de Suez em viagens de ida e volta entre a Índia e o Paquistão e a costa leste dos Estados Unidos, com início previsto para 15 de janeiro e saída do porto paquistanês de Karachi, foi avaliado pela consultoria Xeneta como passo importante para volta da circulação em larga escala de porta-contêineres pela região do Mar Vermelho. A primeira embarcação a fazer o circuito completo pelo canal será o CMA CGM Verdi, reduzindo em duas semanas, para 77 dias, o tempo de percurso em comparação com a rota pelo Cabo da Boa Esperança.
A Xeneta informou que outros quatro navios farão viagens rumo ao leste pelo Canal de Suez antes que a rota completa seja retomada. Explicou ainda que têm sido feitas travessias no sentido leste por navios da CMA CGM, incluindo o CMA CGM Jules Verne, o APL Changi, o CMA CGM Galapagos, o CMA CGM Grace Bay, o APL Merlion e o CMA CGM Kimberley, mas apenas as duas últimas foram passagens oficiais.
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Peter Sand, analista-chefe da Xeneta, avalia que o retorno em larga escala do transporte de contêineres ao Mar Vermelho ainda está longe, mas o anúncio da CMA CGM é um passo nessa direção. Ele disse que tem observado que as transportadoras, em particular a CMA CGM, estão testando o trânsito pelo Canal de Suez em viagens selecionadas, especialmente em retornos para a Ásia, quando há menos carga transportada.
Sand alertou que o anúncio da CMA CGM não significa retorno iminente e em larga escala do transporte marítimo de contêineres pelo Mar Vermelho e informou que o número de porta-contêineres que passaram pelo Canal de Suez em novembro de 2025 foi de 120, contra 583 registrados em outubro de 2023, antes da escalada de ataques a navios mercantes na região pela milícia Houthi. Ele previu que as empresas farão avaliações de risco se a situação de segurança permanecer frágil.
Segundo Sand, serão levadas em consideração a capacidade, a oportunidade e a intenção dos Houthi de atacar navios. “Sabemos que eles têm a capacidade, mas as transportadoras vão querer garantias sobre suas intenções, especialmente porque a oportunidade aumentará à medida que mais navios começarem a navegar pela região”.
O especialista explicou que a redução do tempo de trânsito dos navios com a retomada da rota completa via Canal de Suez no navio significará que dois navios serão retirados do serviço e um prenúncio do impacto que o retorno em larga escala teria na capacidade de transporte de contêineres e nas taxas de frete. Segundo Sand, já há excesso de oferta no mercado de transporte marítimo de contêineres, e as taxas spot estão caindo. “As taxas spot médias para rotas do Extremo Oriente para a Costa Leste dos Estados Unidos e para o Norte da Europa caíram 57% e 53%, respectivamente, em comparação com o ano passado”, explicou.
Ele previu que, se outras armadoras seguirem o exemplo da CMA CGM, a capacidade de transporte aumentará e as taxas de frete cairão drasticamente. “Isso pode levar as transportadoras ainda mais a operar com prejuízo, mas elas estarão plenamente cientes dessa perspectiva e preparadas para reagir”. Sand acrescentou que as travessias pelo Canal de Suez vinham sendo realizadas caso a caso, desviando viagens originalmente programadas para contornar o Cabo da Boa Esperança. “O anúncio da CMA CGM esta semana é importante porque representa uma mudança estrutural, com um formato de serviço que prevê a travessia em todas as viagens”, concluiu.


















