Depois de anunciar, há um mês, um corte de até US$ 24 bilhões no orçamento da área de exploração e produção para os próximos cinco anos, a Petrobras confirmou oficialmente nesta sexta-feira a primeira postergação no seu cronograma de projetos: a nova plataforma do Projeto Integrado do Parque das Baleias, na parte capixaba da Bacia de Campos, será adiada em um ano, para 2024.
Curiosamente, o primeiro projeto oficialmente adiado pela empresa é um ativo do pré-sal — embora uma parte menor da produção local venha do pós-sal —, o que sinaliza que nem a região mais atrativa da carteira da estatal passará incólume à revisão geral dos investimentos.
No entanto, é de fora do pré-sal que virá a maior parte da redução pretendida nos investimentos da estatal.
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A Petrobras anunciou em setembro que investirá entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões em exploração e produção entre 2021 e 2025 — um corte de 22% a 37% em relação aos US$ 64 bilhões previstos no plano 2020-2024. No pós-sal, a Petrobras alocará entre US$ 8,8 bilhões e US$ 11 bilhões na região até 2025, entre 40% e 52% a menos em relação aos US$ 18,5 bilhões previstos no plano 2020-2024. Enquanto isso, no pré-sal, para efeitos de comparação, o corte será menor: a Petrobras alocará entre US$ 24,4 bilhões e US$ 30,5 bilhões, o que pode representar, na pior das hipóteses, queda de 20,7%. A região, joia da coroa da companhia, absorverá 71% do investimento em exploração em produção até 2025.
Um fator que pode ter pesado na decisão de adiar a nova plataforma do Parque das Baleias pode ser o seu tamanho. A unidade a ser contratada foi pensada para ter 100 barris/dia, patamar menor que os projetos de maior produtividade no pré-sal. A Petrobras anunciou em setembro, por exemplo, que negocia a contratação de uma sétima plataforma para o campo de Búzios, no pré-sal de Bacia de Santos, com capacidade para 225 mil barris/dia — a maior unidade de produção de petróleo a operar no litoral brasileiro.
Na definição da fila das prioridades, também pesa contra o Parque das Baleias o fato de ele não ser, propriamente, um projeto "greenfield" (de implantação inicial), já que foi concebido de forma a aumentar o fator de recuperação de um ativo já maduro — o Parque das Baleias já produziu 1 bilhão de barris desde 2006.
A Petrobras informou hoje que postergou o projeto “frente ao contexto econômico do cenário da covid-19”, mas que já autorizou o início de um novo processo licitatório.
A estatal brasileira só divulgará os detalhes do novo plano estratégico em novembro, mas a companhia já vem dando alguns indicativos do que esperar. A expectativa é que novos adiamentos em projetos sejam anunciados. Além da postergação do Projeto Integrado do Parque das Baleias, é bem provável que o novo plano confirme a saída do desenvolvimento da produção em águas profundas de Sergipe da lista de prioridades. Prevista para 2024 dentro do plano 2020-2024, a primeira plataforma do projeto é considerada no momento, nas apresentações institucionais da companhia, como “projeto em estudo”.
Por outro lado, projetos como Búzios, a grande joia da coroa da petroleira, e Mero, ambos no pré-sal de Santos, devem ser mantidos. Mesmo durante a crise, a companhia tem sido ativa no mercado, na contratação de novas plataformas para os dois projetos.
O mercado aguarda também, na divulgação do plano 2021-2025, a nova curva de produção da estatal. O plano 2020-2024 prevê um crescimento da produção de óleo e gás dos atuais 2,7 milhões de barris diários de óleo equivalente (BOE/dia) para 3,5 milhões de BOE/dia em 2024, mas, diante das postergações, pode sofrer ajustes.
O diretor de desenvolvimento da produção da Petrobras, Rudimar Lorenzatto, já afirmou que o novo plano de negócios provavelmente trará um novo cronograma de projetos. “Provavelmente impactos em prazos devem existir. Pode ser que a Petrobras venha a postergar projetos, mas isso não está decidido”, afirmou, em junho.
Desinvestimentos também podem afetar a curva. A Petrobras anunciou, na ocasião da revisão da carteira de exploração e produção, que colocará mais ativos à venda. O Valor apurou que os campos maduros do pós-sal são os principais candidatos. Recentemente, vale lembrar, a empresa abriu o processo de alienação dos campos de Albacora e Albacora Leste, na Bacia de Campos.
Fonte: Valor