Companhia deixou de lado construção de navios de apoio para a indústria de óleo e gás
Em meio à entrada de operadores privados no setor de óleo e gás no Brasil, o Grupo CBO aposta na compra no exterior de barcos de apoio para atender ao esperado crescimento da demanda na indústria. A companhia deixa de lado a estratégia de construção de embarcações próprias no país adotada até 2018, tipo de investimento que acredita que vai continuar inviável por pelo menos mais uma década. Mesmo com a alta no número de contratações, as baixas taxas diárias pagas pela indústria atualmente não justificam novas obras. “O preço de um navio existente hoje é um terço do preço de construção. Acreditamos que podem faltar navios no Brasil e queremos ter ativos para oferecer às operadoras”, diz o presidente Marcos Tinti.
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O primeiro passo da nova estratégia ocorreu ao final de 2019, quando a CBO comprou a unidade de apoio do tipo PSV (plataform supply vessel) Standard Supporter, do Fletcher Group, que até então atuava no Mar do Norte. A embarcação deve chegar ao Brasil até o final do ano. A companhia, inclusive, já negocia uma nova aquisição, que deve ser fechada nas próximas semanas.
Paralelamente, em outubro o CBO anunciou a venda do estaleiro Oceana, em Itajaí (SC) à Thyssenkrupp Marine Systems, por um valor não divulgado. Assim, de sua estrutura de construção naval, a empresa mantém somente o estaleiro Aliança, em São Gonçalo (RJ), agora utilizado apenas como base de apoio e sede. No entanto, a companhia não descarta voltar a construir no país no futuro, conforme o aumento da demanda e das taxas diárias pagas para o apoio marítimo justifiquem os investimentos. “Com o passar do tempo, a disponibilidade de navios vai começar a minguar e as tarifas vão crescer e justificar a construção. Isso talvez esteja no radar dez anos à frente”, afirma Tinti.
A competitividade do país, no entanto, será um fator definidor para a estratégia futura. “Não podemos cair no erro de construir no Brasil a qualquer preço, temos que ser competitivos mundialmente. O importante é, quando isso acontecer, construir com eficiência”, diz o diretor técnico e comercial, Marcelo Martins
Grupo tradicional no apoio marítimo, o CBO tem 32 embarcações de apoio de médio e grande porte, além de unidades de inspeção e construção submarina. A companhia foi fundada em 1978 e teve controle familiar até 2013, quando o Grupo Fischer se desfez do negócio, com a venda para os fundos de private equity Vinci Partners e Pátria, com 40% cada, em parceria com o BNDESpar, que tem os 20% restantes.
Ativo ao longo de praticamente todo o desenvolvimento da indústria de petróleo e gás no mar no Brasil, o grupo observa agora uma mudança no perfil de apoio marítimo, a partir da venda de ativos da Petrobras e da entrada de novos operadores no país. “Prevemos uma demanda extra. Nos preparamos para atender o pré-sal e as novas operadoras, que muitas vezes têm uma operação mais enxuta e de baixo custo”, diz o presidente da empresa.
O diretor de fusões e aquisições e relação com investidores do grupo, Rafael Kirsten, ressalta que a indústria já reiniciou as contratações, após a derrubada nos preços do barril no início da pandemia. “A incerteza saiu da mesa e as empresas passaram a colocar na praça novos projetos para contratação de embarcações. Entre setembro e novembro dezenas de licitações foram abertas. O ano de 2021 é bastante promissor: há oportunidade de talvez ter a maior taxa de ocupação da frota”, afirma o executivo.
Tendo em vista a busca das petroleiras em reduzir a pegada de carbono de suas atividades, a companhia também conduz esforços de transição energética. Recentemente, o grupo anunciou uma parceria com a Wärtsilä para a conversão de um PSV para propulsão híbrida, tecnologia que permite ao motor da embarcação alternar entre diesel e baterias.
O CBO também avalia a compra de navios movidos a amônia e a gás natural liquefeito (GNL), fontes tidas como menos poluentes. Ao mesmo tempo, a companhia estuda atender outros segmentos do mercado, como a geração eólica em alto mar.
Fonte: Valor