As grandes empresas de petróleo enfrentaram um dos piores trimestres da história e preparam-se para mais dificuldades em meio à pandemia que continua a derrubar a demanda global por combustíveis fósseis.
A Exxon Mobil reportou nesta sexta-feira sua segunda perda trimestral consecutiva pela primeira vez neste século, um prejuízo de US$ 1,1 bilhão no segundo trimestre de 2020, comparado a um lucro de US$ 3,1 bilhões há um ano. No primeiro trimestre, o prejuízo foi de US$ 610 milhões.
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A Exxon, a maior produtora de petróleo dos Estados Unidos, não havia tido um resultado tão ruim em pelo menos 22 anos, de acordo com o Dow Jones Market Data, cujos números vão até 1998.
“A pandemia global e o excesso de oferta impactaram significativamente nossos resultados financeiros no segundo trimestre, com preços, margens e volume de vendas menores”, disse Darren Woods, executivo-chefe da Exxon.
A Chevron teve prejuízo US$ 8,3 bilhões no segundo trimestre, comparado ao lucro de US$ 4,3 bilhões no mesmo período do ano passado, sua maior perda desde pelo menos 1998. A empresa fez uma baixa contábil de US$ 5,7 bilhões em ativos de petróleo e gás, incluindo US$ 2,6 bilhões na Venezuela, citando instabilidades no país governado por Nicolás Maduro. A Chevron também reduziu suas estimativas internas para preços futuros do petróleo.
A Royal Dutch Shell e a Total também divulgaram nesta semana perdas significativas no segundo trimestre, reflexo das baixas contábeis provocadas pela pandemia e pela piora das perspectivas de longo prazo para os preços da commodity.
Os resultados sombrios tornam mais difícil ainda a vida das gigantes do petróleo, que já vinham enfrentando problemas para atrair investidores mesmo antes da pandemia, já que as preocupações com novas regulações climáticas e aumento da concorrência de energia renovável e carros elétricos tornam incerto o futuro dos combustíveis fósseis.
As participação de ações de óleo e gás nas carteiras dos de gestores de investimentos estão numa baixa de 15 anos, de acordo com o banco Evercore. BP, Shell e Total são negociadas nos menores preços em 30 anos em relação às outras ações do índice S&P 500. A Exxon está no menor nível desde 1977, de acordo com o banco.
Dividendos
Uma estratégia das empresas para reter os investidores apesar da desaceleração de crescimento e lucros nos últimos anos foi pagar bons dividendos, mas essa remuneração não é fácil de se manter em meio à pandemia.
Os preços do petróleo estão perto de US$ 40 o barril, o que é um avanço para o setor depois que as cotações ficaram negativas pela primeira vez na história, em abril. Mas nenhuma das grandes empresas prevê uma recuperação rápida neste momento de pandemia.
O executivo-chefe da Chevron, Mike Wirth, disse que a companhia enfrenta um futuro incerto para a demanda por combustíveis e não há como prever os preços do petróleo com segurança neste momento.
No segundo trimestre, os preços de petróleo nos Estados Unidos foram em média de US$ 28 por barril e o Brent ficou em torno de $33, de acordo com o Dow Jones Market Data, um nível de preços que mesmo as grandes têm dificuldade para transformar em lucro.
Enquanto os maiores índices de ações recuperaram-se dos patamares de abril, quando bateram em níveis recordes de baixa, os papéis das companhias de petróleo continuaram para trás apesar da ligeira recuperação dos preços da commodity, com alguns investidores duvidando do modelo de negócios das empresas.
Muitas das maiores produtoras de petróleo, entre elas Exxon e Chevron, há anos usam um modelo de negócios integrados, que historicamente permitiu que elas enfrentassem as instabilidade de mercado.
Com poços de petróleo e gás para extração e refinarias para fazer produtos acabados como combustíveis e químicos, as companhias podiam ganhar num dos segmentos do negócio, independentemente se os preços estivessem altos ou baixos.
Mas esse modelo não conseguiu bons retornos na maior parte da última década, com o surgimento de novas formas de produção, como o fraturamento hidráulico.
As maiores companhias ocidentais investiram cerca de US$ 1,2 trilhão em projetos para crescimento na última década, de acordo com o Evercore, enquanto a dívida combinada cresceu para US$ 200
bilhões no mesmo período.
As companhias tiveram que tomar medidas drásticas nos últimos meses para proteger seus balanços, o que inclui o corte de dezenas de bilhões de dólares dos orçamentos e a demissão de milhares de funcionários.
Dan Pickering, diretor da firma de investimentos Pickering Energy Partners, diz que o setor pode sobreviver com o petróleo a US$ 40, mas precisa de um preço muito mais alto para prosperar. Segundo ele, as empresas vão ter que continuar a cortar custos. “Você tem que reconhecer que este é o mundo em que vamos viver”, disse Pickering. “E se este é o mundo em que teremos que viver, a estrutura de custos é muito alta.”
Fonte: Valor