A queda de braço com a Petrobras pelo valor das indenizações que teriam de ser feitas à estatal pelos investimentos já realizados nos campos ofertados no megaleilão desta quarta-feira foi a principal razão para que empresas estrangeiras desistissem de fazer ofertas, segundo executivos e advogados presentes no leilão.
Segundo uma fonte, as conversas com a estatal começaram a travar há cerca de dez dias, pois a companhia exigia elevada compensação pelos investimentos.
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No leilão do excedente da cessão onerosa, apenas duas das quatro áreas ofertadas foram arrematadas: Búzios e Itapu. Quem levou a primeira foi o consórcio liderado pela Petrobras, ao lado das chinesas CNODC e CNOC.
A estatal arrematou a segunda área sozinha. Em ambos os casos, não houve ágio e as ofertas foram as únicas feitas. Não houve proposta para as demais áreas.
— Vinha todo mundo animado. Mas as discussões começaram a travar há uma semana e meia, devido à exigência de indenizações da Petrobras — disse um advogado que tem entre seus clientes três grandes petrolíferas estrangeiras.
Segundo ele, o bônus de assinatura, também considerado alto, não foi o fator decisivo para a desistência das petrolíferas estrangeiras, pois o valor já era conhecido há tempos.
Indagado se o elevado valor de ressarcimento que as empresas teriam que pagar à Petrobras pelos investimentos já feitos nas áreas, caso arrematassem os blocos, afugentou interessados, o presidente da estatal, Roberto Castello Branco limitou-se a ressaltar a importância da indenização.
- O ressarcimento da Petrobras é justo e faz todo sentido. Com novos parceiros, o volume que seria produzido pela Petrobras seria empurrado para frente, e o valor do barril do petróleo é muito importante no fluxo de caixa - disse o executivo, após o certame.
Décio Odone, da ANP, destacou os entraves para a falta de propostas de petroleiras internacionais. Ele citou o fato de a Petrobras ser operadora em áreas onde ela manifestou preferência e também a negociação de compensação dos investimentos já feitos pela Petrobras no leilão.
— O fato de a Petrobras ser operadora inibe as outras petroleiras, porque elas também gostam de ser operadoras. Além disso, existe outro fato que inibe muito mais, que é o fato de haver a necessidade inexorável de o consórcio posteriormente ao leilão ter que negociar com a Petrobras uma compensação bilionária pela aquisição da área. Tudo isso tornou esse leilão mais difícil e arriscado para que houvesse a participação de outras empresas competindo - disse Oddone.
'Ofertas caras' afasta Shell do leilão
O presidente da Shell, André Araujo, disse que a companhia não participou do leilão por considerar as ofertas caras. A companhia produz 400 mil barris por dia. No Brasil, a maior parte em parceria com a Petrobras.
— Tomamos a decisão de não participar. Foi uma decisão de negócios. A gente entende que estamos numa posição positiva com os blocos que temos. Temos uma postura focada em disciplina de investimento. Decidimos não participar no último dia, o dia 23 — disse Araújo.
Mas ele considerou o leilão um sucesso é fez mistério sobre a 6ª rodada, que será nesta quinta-feira:
— O leilão foi um sucesso. São R$ 70 bilhões e levou quase dez anos para destravar. Amanhã é outro dia, outro leilão e outras áreas.
Giovani Loss, sócio do escritório Mattos Filho para a área de petróleo e gás, avalia que o leilão desta quinta vai atrair mais empresas:
— O leilão de hoje foi pior que o esperado, com grande participação da Petrobras. Mas redobro minhas apostas para amanhã — disse ele, que representa empresas estrangeiras.
Fonte: O GLobo