A Petrobras decidiu cortar em até US$ 24 bilhões (cerca de R$ 126 bilhões, na cotação atual) seu plano de investimentos em exploração e produção de petróleo para os próximos cinco anos. O novo plano, aprovado nesta segunda-feira (15), tem foco ainda maior no pré-sal e amplia a venda de ativos em outras áreas.
Segundo a estatal, a revisão reflete as menores projeções de preço do petróleo após o início da pandemia do novo coronavírus. No primeiro trimestre deste ano, a empresa reduziu para entre US$ 30 e US$ 45 por barril suas estimativas de preços futuros, o que levou a uma perda de R$ 65,3 bilhões no valor de seus ativos, com prejuízo de R$ 48,5 bilhões no período.
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O plano de investimentos original previa US$ 64 bilhões (cerca de R$ 337 bilhões) para exploração e produção entre 2020 e 2024. Agora, a empresa fala entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões (R$ 264,8 bilhões) entre 2021 e 2025.
Segundo a estatal, a redução se dará por meio de otimizações, postergações e cancelamentos de projetos, venda de ativos e impacto da desvalorização do real. Os valores finais do plano, incluindo a produção de petróleo esperada para o período, serão divulgados até o fim do ano, junto com o novo Plano Estratégico da empresa.
Os objetivos do corte de investimentos, diz a companhia, são priorizar projetos que se sustentem com petróleo a até US$ 35 por barril e atingir a meta de redução de sua dívida bruta a US$ 60 bilhões (R$ 317 bilhões) —ao fim do segundo trimestre, eram US$ 91 bilhões (R$ 482 bilhões).
"A Petrobras reafirma seus pilares estratégicos e prosseguirá na sua execução com o objetivo de criação de valor sustentável para seus acionistas", disse a estatal, em nota distribuída no fim da noite de segunda.
É o segundo corte de investimentos no governo Jair Bolsonaro (sem partido). Em novembro de 2019, em sua primeira revisão sob o comando de Roberto Castello Branco, a empresa divulgou uma previsão de aportes 10% inferior à do plano anterior, elaborado no governo Michel Temer. Castello Branco acelerou ainda o processo de venda de ativos da estatal.
O pré-sal, que consumiria 59% dos investimentos no plano anterior, agora ficará com 71% dos recursos disponíveis. Maior descoberta de petróleo do país, o campo de Búzios vai concentrar, sozinho, 35% do total. Nesta terça (15), a Petrobras anunciou a contratação da sexta plataforma da área, que já é hoje a segunda maior produtora de petróleo do país.
A plataforma, chamada FPSO Almirante Tamandaré, será a maior a operar no brasil, com capacidade para produzir 225 mil barris de petróleo por dia —os maiores da Petrobras hoje são de 180 mil barris por dia. Será construído pela holandesa SBM Offshore, em contratação direta, sem licitação.
A estatal justificou dizendo que monitora o mercado mundial e "neste momento, apenas a SBM tem capacidade de atender aos requisitos técnicos, operacionais e de disponibilidade da companhia". O início das operações da plataforma está previsto para 2024.
Para o analista da Ativa Investimentos Ivan Arbetman, a Petrobras segue tendência da indústria petrolífera diante das mudanças nos níveis de oferta e demanda. "Com a decisão, a companhia reafirma a postura diligente e objetiva em sua alocação de capital", disse.
Segundo ele, a redução de investimentos deve colocar a empresa mais perto de pagar dividendos "de forma mais robusta", já que facilita o atingimento da meta de redução da dívida.
Fonte: Folha SP