A Petrobras passará a usar plataformas de produção de petróleo totalmente eletrificadas nos projetos que começar a conceber de agora em diante. O objetivo da petroleira é usar a eletricidade como fonte de energia para todo os equipamentos das unidades de produção marítimas, de modo a ganhar eficiência e reduzir o volume de emissões de carbono por barril de petróleo produzido, em meio à transição energética.
De acordo com a gerente-executiva de mudanças climáticas da Petrobras, Viviana Coelho, a estimativa é que a eletrificação de plataformas leve a uma redução de 6% a 20% nas emissões de poluentes, percentual que varia entre os diferentes projetos e depende do estágio de produção de cada campo. Isso deve levar a uma queda, em média, de cerca de um quilo de carbono emitido por barril de petróleo produzido no pré-sal.
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“Consumo total de gás da plataforma será menor, porque vamos gerar energia elétrica para os equipamentos”
“É uma tecnologia que vai contribuir para a visão de neutralidade em carbono que a Petrobras declarou recentemente e que deve entrar nos projetos a partir de 2028, que começamos a conceber agora”, explica a executiva, que é responsável pela gerência criada há cerca de um ano para auxiliar a estatal na transição energética.
Na prática, hoje, as plataformas de produção são equipadas com uma pequena usina termelétrica, abastecida a gás ou a diesel, e que pode produzir até 100 megawatts (MW). No entanto, esse volume não é suficiente para fornecer energia a todos os equipamentos, principalmente nas unidades de produção maiores, como as que estão instaladas no pré-sal. Por isso, atualmente alguns componentes da plataforma usam o próprio gás natural produzido no campo em que estão localizadas para gerar energia por meio de turbocompressores.
A ideia da Petrobras, por meio do aumento da capacidade de geração de energia nas plataformas, é que todos os equipamentos passem a ser abastecidos pela energia elétrica, o que leva a ganhos de eficiência. O conceito é conhecido como “all electric” no jargão do setor. “O consumo total de gás da plataforma passará a ser menor, porque conseguimos gerar energia elétrica e distribuir para os equipamentos usando um volume menor do que queimando gás direto nos compressores”, explica a gerente.
Segundo a executiva, a mudança não vai ter impactos significativos nos custos dos projetos ou no peso das novas plataformas, que permanecerão da mesma ordem de grandeza dos atuais. “Há um ganho de eficiência significativo sem alteração econômica fundamental. É um ajuste de arranjo e a viabilidade técnica e econômica está atestada” afirma Coelho.
A Petrobras tem o compromisso de 25% de redução de emissões até 2030 em relação a 2015. Especialistas apontam que, num cenário em que o petróleo tende a ter espaço cada vez menor na matriz energética global, as empresas capazes de produzir com menos emissões vão ser mais competitivas.
A decisão de seguir em frente com o projeto de eletrificação das plataformas foi tomada a partir da revisão, neste mês, de uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que passou a permitir aumento da capacidade de geração de energia nas térmicas instaladas nas plataformas.
Na prática, com a alteração da resolução 382/2006, o Conama flexibilizou o limite de emissões para as termelétricas instaladas nas unidades marítimas, que até então era o mesmo das usinas terrestres. A justificativa é que térmicas em terra estão localizadas próximas aos centros urbanos e, por isso, precisam de condições para garantir a manutenção da qualidade do ar diferentes das que estão no mar. Além disso, as térmicas terrestres usam gás natural tratado, diferentemente das marítimas, que usam gás produzido no próprio campo.
Para Viviana, a norma anterior gerava uma contradição, pois limitava a geração de eletricidade nas plataformas e, assim, não permitia o uso de soluções mais eficientes, que permitissem a redução nas emissões do projeto como um todo. Com a mudança, será possível centralizar a geração de energia em um único ponto da plataforma, de forma otimizada. “É um avanço na legislação, um ajuste pró-ambiente porque torna possível o arranjo de menor emissão”, diz a executiva.
Fonte: Valor