A Petrobras decidiu rever novamente o prazo para começar a produzir petróleo e gás nas reservas gigantes descobertas no litoral de Sergipe, que tinham início previsto originalmente para 2023. A princípio, o projeto foi retirado do plano de investimentos da empresa para o período entre 2021 e 2025.
As reservas de Sergipe são consideradas a próxima fronteira petrolífera do país após o pré-sal e parte importante do esforço do governo para ampliar a oferta de gás natural no mercado brasileiro, dentro de projeto chamado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de "choque de energia barata".
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O governo do estado estima que as descobertas têm potencial para produzir até 20 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, volume superior aos 18,6 milhões de metros cúbicos por dia importados da Bolívia em 2019 e aos 16 milhões de metros cúbicos por dia consumidos no estado de São Paulo no mesmo ano.
Todas as descobertas ainda estão em fase de avaliação e não há, portanto, estimativa oficial do volume de reservas. Em fevereiro, a Petrobras iniciou um teste de produção de 180 dias em uma das descobertas, batizada de Farfan, para coletar melhores informações sobre o subsolo.
Na semana passada, porém, a companhia retirou a região da lista de projetos de exploração e produção que receberão investimentos nos próximos cinco anos. Questionada sobre a ausência, respondeu que "em conjunto com seus sócios, está reavaliando a melhor data para a entrada em operação desses projetos".
A companhia decidiu rever seu orçamento de investimentos à luz das novas projeções de demanda e preços do petróleo após a pandemia. Reduziu a previsão de aportes em até US$ 24 bilhões (cerca de R$ 130 bilhões, ao câmbio atual), com impactos principalmente em áreas fora do pré-sal.
Segundo a companhia, o objetivo é priorizar projetos que se sustentem com petróleo acima dos US$ 35 (cerca de R$ 190) por barril e contribuir para a redução da dívida da companhia para US$ 60 bilhões (R$ 324 bilhões) , contra US$ 91 bilhões (R$ 490 bilhões) ao fim do segundo trimestre de 2020.
A meta é focar nos grandes reservatórios do pré-sal que já estão em desenvolvimento, como o campo de Búzios, em frente ao litoral do Rio. A medida foi elogiada pelo mercado, que vê esforço da companhia para se tornar uma boa pagadora de dividendos a seus acionistas.
Ao todo, a estatal fez seis descobertas de petróleo e gás em Sergipe. Em alguns blocos, tem parceria com as indianas ONGC e IBV. Após o anúncio de bons reservatórios na área, o litoral sergipano passou a ser cobiçado também por petroleiras privadas. A gigante norte-americana Exxon tem hoje nove concessões na região.
Como se trata de uma área ainda sem produção de petróleo, as petroleiras terão que investir também em infraestrutura para escoamento da produção, principalmente de gás. Antes de colocar o gás na rede de transporte terrestre, é necessário também investimento em uma unidade de tratamento.
A Petrobras tinha até o fim de 2020 para declarar a comercialidade das áreas, fase contratual em que se compromete com os investimentos na produção das reservas, mas após o início da pandemia a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) suspendeu os prazos contratuais das concessões do setor.
Agora, segundo a agência, as primeiras declarações de comercialidade podem ser feitas até setembro de 2021, o que garante à estatal mais tempo para reavaliar prazos e definir o cronograma de investimentos na região.
A primeira vez que as descobertas de Sergipe apareceram em um plano de investimentos da Petrobras, tinham início de produção previsto para 2023. Na última versão do plano, divulgada em 2019, a data foi adiada para 2024 e agora está em reavaliação.
O anúncio pegou de surpresa o governo de Sergipe, que vive grande expectativa em torno dos investimentos e da receita gerados pela indústria petrolífera. A Folha apurou que o governador Belivaldo Chagas enviou ofício à direção da estatal pedindo informações sobre a decisão.
O governo do estado defende que, caso a Petrobras considere que não tem condições de fazer o investimento, as operações sejam transferidas para outra empresa. O tema será debatido também com o MME (Ministério de Minas e Energia) e com a ANP.
A concentração cada vez maior dos investimentos exploratórios no pré-sal ocorre em um momento em que a empresa tenta se desfazer de operações em outras regiões, como parte de um plano para focar suas atividades nas regiões Sudeste e Centro Oeste.
Em Sergipe, a companhia já colocou à venda concessões de exploração e produção de petróleo e gás em terra e uma fábrica de fertilizantes. A estratégia gera resistência de sindicatos e políticos de estados afetados, que lançaram a campanha "Fica Petrobras".
Fonte: Folha SP