Há sete meses à frente da Petrobras, o presidente Roberto Castello Branco iniciou as discussões sobre o novo plano de negócios da petroleira, o primeiro de sua gestão. O comando da estatal espera anunciar o planejamento estratégico em novembro, mas já deu alguns sinais sobre o que se esperar: a intenção da empresa é intensificar a redução de custos e a venda de ativos e manter a atenção sobre a desalavancagem e retorno sobre o capital empregado.
O atual plano de negócios da estatal - 2019-2023 - soma US$ 84,1 bilhões. A diretora de finanças e relações com investidores, Andrea Almeida, disse na sexta-feira que não espera ver "grandes mudanças" nos investimentos previstos, mas que os números estão em fase de reavaliação e que a petroleira será criteriosa.
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"Estamos implantando uma análise probabilística para a visão de capital. Acreditamos que, olhando a execução do [investimento] passado, conseguimos melhor prever o futuro... Basicamente, teremos uma nova forma, uma forma mais conservadora [de alocação de capital], aplicando novas técnicas como olhar para o passado para avaliar o quanto de execução conseguimos fazer", comentou Almeida.
Castello Branco disse que o objetivo do novo planejamento estratégico será reduzir a distância entre a Petrobras e os seus principais pares globais. Ele citou que a estatal ainda é uma companhia "excessivamente endividada" e que o novo plano terá um foco "muito grande" na redução de custos. Outro pilar da desalavancagem é centrado na venda de ativos. "Internamente já temos fechado o plano de desinvestimentos. Agora é a fase de estruturação e execução dos vários projetos", comentou.
A meta atual da petroleira é reduzir sua alavancagem, medida pela relação dívida líquida sobre Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), para 1,5 vez em 2020. Até lá, segundo Almeida, a estatal continuará pagando dividendos mínimos obrigatórios.
Sobre o programa de desinvestimentos, um dos principais trunfos é a alienação das refinarias. Segundo a diretora de refino e gás natural, Anelise Lara, o interesse que vem sendo demonstrado pelos oito ativos colocados à venda pela estatal é "muito maior" do que aquele registrado no processo original de desinvestimentos no refino, da gestão passada. Em abril de 2018, a Petrobras iniciou o processo de venda de 60% de sua participação em quatro plantas - no Sul e no Nordeste -, mas já na gestão Castello Branco, reviu o modelo de negócio e ampliou o pacote de ativos à venda para oito unidades.
Lara afirmou que as refinarias têm despertado o interesse de empresas de diferentes perfis e que espera concorrência por todas as unidades do pacote de desinvestimentos. "O que temos visto interesse nas nossas refinarias são companhias tradings, distribuidoras locais e algumas petroleiras internacionais. E esperamos uma grande disputa", afirmou a diretora refino e gás.
A Petrobras assumiu um compromisso, junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), para vender oito refinarias até o fim de 2021. Castello Branco, contudo, afirmou que a meta é vender os ativos "o mais rapidamente possível". "Não queremos esperar até 2021. Temos pressa".
Anelise Lara explicou que as companhias de trading estão aptas a participar do processo. "Como estamos saindo totalmente das refinarias que nós estamos vendendo, nós não vamos ser parceiros, então, a questão da participação das tradings no processo, do ponto de vista de conformidade, foi aprovada", disse, ao ser questionada sobre as investigações da Lava-Jato envolvendo a relação da Petrobras com as tradings Vitol, Trafigura e Glencore.
No gás natural, o foco está na venda dos 51% da Gaspetro e na saída integral do transporte. O modelo de venda da Gaspetro, que reúne as participações da Petrobras em 19 distribuidoras de gás, ainda não foi definido. Castello Branco comentou, ainda, sobre a Transpetro, braço logístico da estatal, mas descartou a venda da subsidiária. "A Transpetro não está na mesa", afirmou.
Fonte: Valor