Fazer uma reflexão sobre o modelo econômico brasileiro e as implicações para a infraestrutura foi a proposta do consultor econômico e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento Raul Velloso.
De acordo com Velloso, a questão da infraestrutura no Brasil tem de ser pensada em dois contextos: o das finanças públicas — que segundo ele, conforme elas evoluem, é mais fácil de lidar com os assuntos da infraestrutura —, e o da atuação conjunta entre os setores público e privado nos investimentos em infraestutura no país.
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— A infraestrutura é de grande responsabilidade do setor público, mas ele está cada vez menos em condições de fazer esses investimentos. Muito do que ocorre com a infraestrutura tem a ver com o que ocorre com as finanças do setor público — disse Velloso, que discorreu principalmente sobre os investimentos em transporte e energia elétrica.
O ex-secretário do Ministério do Planejamento destacou ainda que é preciso, antes de tudo, entender como a infraestrutura se insere no modelo econômico brasileiro, voltado para o consumo.
— Já ouvimos falar num esgotamento do modelo do consumo, que é visto pela impulsão. Mas há também o lado da oferta, que é como o setor de produção do país reage a essas demandas.
Conforme Velloso, é necessário avaliar se há um esgotamento no modelo de impulsão pelo gasto público corrente — por meio de programas beneficiários como o Bolsa Família, por exemplo — como fator de estímulo ao consumo.
— Se não fizermos nenhuma reforma, o modelo de impulsão de consumo baseado na grande folha irá dobrar de tamanho e, em 2040, irá tomar 150% do PIB.
A grande folha destacada por Velloso é representada por gastos da União com pessoal, previdência e assistência social e que, de acordo com dados apresentados por ele, representam 73,7% das despesas do governo federal. Já a infraestrutura conta apenas com 1% dos investimentos.
— A União não quer saber da infraestrutura. O modelo que é impulsionado pela grande folha não é impulsionado pela infraestrutura.
O especialista lembra que é possível impulsionar a infraestrutura, desde que haja interesse de investidores estrangeiros e, dessa forma, ocupar o papel de setor líder da economia brasileira.
— O Brasil hoje não tem problema nem de capital, nem de poupança, mas desde que venha de fora para completar a interna. Desde que você aceite criar as condições para ela entrar, que é um drama, pois a poupança externa só entra se houver um déficit de conta corrente no balanço de pagamento.
Segundo ele, para que esse déficit seja criado, as importações precisam crescer e a indústria encolher ainda mais.
— O setor de serviços é o grande beneficiário do modelo atual. É errado achar que o consumo irá beneficiar todos os setores, como a indústria.
Fonte: DIÁRIO CATARINENSE\Mônica Pileggi