Para o professor da UFRJ, Antônio Barros de Castro, conceito do empreendimento precisa ser debatido
Na perspectiva de uma mudança para pensar o futuro do desenvolvimento brasileiro, o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Antonio Barros de Castro, defendeu, ontem, novas estratégias para redefinir fronteiras próprias de desenvolvimento tecnológico no País. Para ele, o projeto do Estado do Ceará em relação aos investimentos no Pecém é "concebido em um mundo que já desapareceu".
"Ele (o projeto do Pecém) tem que ser repensado. Não tenho dúvida sobre isso. Agora, em que medida isso vai reforçá-lo ou enfraquecê-lo, isso tem que ser trabalhado, um resultado de um sério e profundo debate. Mas certamente você não pode importar a realidade daquele passado que morreu para um futuro que está nascendo sem repensá-lo", decreta.
Já o superintendente do escritório técnico de estudos econômicos do Nordeste (Etene), José Narciso Sobrinho, mediador da mesa na qual o professor carioca palestrou, contra argumentou ressaltando a importância dos investimentos por conta da necessidade de escoamento da produção brasileira: "é uma oportunidade que o País tem e precisa dessa infraestrutura dentro dessa perspectiva de escoamento. Claro que o mercado Europeu se enfraqueceu por conta da crise, mas nós temos ainda a oportunidade de exportar aquilo que os outros países não produzem".
Ao examinar o desenvolvimento da China, na ruptura pós-crise de 2008, Barros analisa: "estamos numa situação na qual precisamos de uma série de decisões estratégicas, tendo em conta um novo presente e um futuro próximo e procurando também saber o que os outros países estão fazendo".
Conceito
Ele ainda menciona a mudança no "conceito de Brasil", que, para manter os bons resultados obtidos enquanto os outros países passavam por dificuldades, está começando a adotar uma característica da política econômica chinesa, "que é as empresas verem o Brasil como um lugar onde elas não podem deixar de estar".
Para o professor, no caso da China, é a primeira vez que um país com diferenças e problemas semelhantes a um país fraco economicamente (com salário médio baixo e desigualdades sociais) desponta como uma liderança mundial.
Frente à concorrência internacional, a alternativa apontada por Barros para alavancar um desenvolvimento nacional é empreender esforços em áreas (ou fronteiras, a fim de usar as palavras do professor) nas quais o País domina a produção/extração de matéria prima e tem experiência. Como exemplo, ele cita, principalmente, as áreas dos biocombustíveis e do pré-sal.
PARA ECONOMISTA
Política social foi a saída para crise
O professor da Universidade de Paris, Pierre Salama esteve na sede do Banco do Nordeste, ontem
"Para superar uma crise estrutural, não implica somente mudanças na forma de crescimento, mas na forma de regime político", afirma o economista e professor da Universidade de Paris, Pierre Salama, que esteve em palestra sobre as perspectivas para o desenvolvimento do Brasil e América Latina, ontem, na sede do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).
Na defesa de sua tese, Salama argumenta que a crise de 2008 foi forte em todos os aspectos, mas que a percepção se deu de maneira diferente em cada país. A isso ele atribui à implantação de novas políticas sociais, as quais agiram amenizando os efeitos gerados e expandidos pelos processos da "globalização financeira".
Nesse cenário, há também uma valorização do mercado interno com o aumento do salário mínimo e programas de apoio social que ajudam na diminuição das desigualdades sociais, como ocorreu no Brasil, principalmente durante o último governo Lula, de acordo com o economista.
"Do ponto de vista ético, se você não investe nas políticas sociais, em educação, em saúde, a situação dos mais pobres não pode ser superada. Do ponto de vista econômico, há uma necessidade de fazer um desenvolvimento do mercado interno e para isso há de ser mais forte um investimento nas políticas sociais", argumenta Salama.
Livro
Na mesma ocasião, Pierre Salama lançou seu novo livro, "Viver juntos em igual dignidade: migrantes e luta contra as discriminações na Europa", que trata de aspectos sobre o trabalho de migrantes em países desenvolvidos europeus, como a mudança do fluxo migratório, diferenças culturais e, no pós-fácil, traz a situação dos migrantes brasileiros, especificando a experiência de nordestinos.
Fonte: Diário do Nordeste (CE)/ARMANDO DE OLIVEIRA LIMA/ESPECIAL PARA ECONOMIA
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