Recente aquisição da GSI, que custou US$ 940 milhões, também afeta operações no Brasil, onde o grupo adquirido possui 6 mil clientes.
Com sua mais recente aquisição, a AGCO, fabricante de tratores e implementos, vai diversificar suas atividades mundiais e, no Brasil, passará a fornecer equipamentos para estocagem de grãos e produtores de carnes.
Na última segunda-feira (3/10), a AGCO realizou a compra do Grupo GSI, empresa americana de agronegócio, por US$ 940 milhões.
No mundo, a GSI tem faturamento de cerca de US$ 700 milhões, com 2.400 funcionários, e uma carteira de clientes que inclui grandes do setor, como a Cargill e a Bunge. Apenas no Brasil, o faturamento da GSI soma US$ 70 milhões anuais.
"A GSI nos proporciona uma posição sólida nos segmentos de armazenagem de grãos e produção de proteínas", diz Martin Richenhagen, presidente mundial da AGCO.
A AGCO é líder de vendas de tratores no Brasil, onde atua com as tradicionais marcas Massey Ferguson e Valtra.
Com a aquisição, a companhia passa a fornecer equipamentos para estoque de grãos, como silos de armazenamento, e até produtos para bem-estar animal, como comedouros e ventiladores para frangos e suínos.
O mercado tem espaço para expansão: segundo dados da empresa, no Brasil cerca de 30% dos grãos produzidos no país ficam sem estocagem, acabando vendidos no ato da colheita.
"Com esse novo modelo de negócios, estaremos em posição de oferecer outros produtos aos produtores, não só máquinas e equipamentos", afirmou Richenhagen.
A GSI pertencia ao Centerbridge Partners, fundo de private equity de Nova York. "A empresa tinha vários pretendentes, e nós éramos um deles, e acabamos ficando com o grupo", disse André Carioba, vice-presidente sênior da AGCO para a América Latina.
A estratégia de diversificação se tornou possível devido ao forte desempenho da empresa. No primeiro semestre deste ano, o lucro das operações da empresa em todo o mundo praticamente triplicou, somando US$ 215,5 milhões.
A aquisição reduziu o poder de fogo da AGCO, que não prevê compras nos próximos meses. "Vamos digerir essa aquisição e primeiro pagar a dívida assumida", diz Martin. "Certamente não faremos outra aquisição tão cedo."
US$ 100 milhões
Ainda assim, o cronograma de investimentos no Brasil foi mantido. No total, a empresa detalhou que seus investimentos, já anunciados em unidades do país, somam US$ 100 milhões, até 2012.
Serão feitos três investimentos. O primeiro, de US$ 10 milhões, em uma nova linha de montagem de pulverizadores, em Canoas (RS), conforme noticiado pelo Brasil Econômico.
A companhia também está modernizando suas fábricas em Santa Rosa, com US$ 65 milhões, e em Mogi das Cruzes, com US$ 15 milhões. O Brasil representa cerca de 17,5% do faturamento total da companhia, que no primeiro semestre somou US$ 4,2 bilhões.
A ideia é reforçar a produção de implementos, área em que a empresa é mais fraca, porém tem mostrado crescimento acelerado. Por aqui, a empresa vem perdendo participação no mercado de tratores, seu principal negócio. Até setembro, as vendas de tratores devem cair entre 5% e 10%, com a redução dos incentivos do governo no programa Mais Alimentos, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Contudo, no setor de colheitadeiras, a companhia está em ascensão - a empresa prevê um crescimento de cerca de 8% neste ano, conquistando 19% de participação. O mercado tradicionalmente não é o mais forte da empresa, dominado pela John Deere, com mais de 40% das unidades vendidas.
Argentina
Juntamente com as menores perspectivas de vendas de tratores, o aumento do protecionismo na Argentina leva a companhia a prever novos investimentos no país vizinho.
"Teremos que aumentar as exportações no país, e pretendemos elevar as vendas de autopeças, inclusive para o Brasil", disse Carioba. "Estamos com negociações avançadas para fazer algo mais profundo lá", disse.
No início do ano, a Argentina tomou a decisão de ampliar a lista de produtos que precisam de licença para entrar no país, de 400 para 600 mercadorias, incluindo os setores de automóveis e maquinário agrícola.
Sete meses depois, a situação continua a mesma; as licenças podem levar meses para serem concedidas e as exportações ficam estancadas.
Empresários do setor dizem que o governo argentino tem usado o dispositivo para exigir contrapartidas dos fabricantes, como investimentos no país ou aumento nas exportações.
Na semana passada, a John Deere anunciou que vai ampliar sua unidade em Rosário, na Argentina, investindo US$ 130 milhões. Segundo os executivos da empresa, o aporte não está relacionado a essas medidas.
"Temos pensado esse investimento há muito tempo, problemas conjunturais não mudam nossas decisões de longo prazo", disse Alfredo Miguel Neto, diretor de assuntos corporativos da John Deere.
Fonte: Brasil Econômico/Felipe Peroni
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