Lembro de comentário feito por meu pai, o engenheiro Mansueto Serafini, ao seu sócio, na sombra da figueira do Pontal. Dizia: “Moisés, aquele porto, – apontando para São Francisco do Sul – deveria estar aqui, nesse lugar”. Referia-se a profundidade natural do canal próximo a praia. Isso, nos anos 60, quando os primeiros loteamentos eram implantados em Itapoá.
Na década de 90, o grupo Batistella, do segmento madeireiro, adquiriu terrenos para a implantação de terminal portuário, exatamente naquele local. Segundo consta, para construir processadora de madeira para destiná-la à exportação.
O projeto gerou muita polêmica. Pessoas manifestaram-se a favor e outras totalmente contrárias. No âmbito desenvolvimentista predominava o argumento sobre a mudança do perfil econômico de Itapoá, proporcionando atividade anual, quebrando a tradicional sazonalidade das cidades litorâneas ao período do verão.
Do outro, questionamentos sobre as consequências sociais e os impactos ambientais que poderia causar. Achavam que a atividade portuária traria poluição e degradação do ambiente, e como resultado, mais malefícios do que benefícios. Formou-se, inclusive, uma associação que passou a contestar o projeto com sucessivas representações no judiciário.
As circunstâncias de mercado e as condicionantes ambientais fizeram com que o projeto fosse redirecionado para um terminal portuário destinado a movimentação de contêineres.
Outros dez anos foram despendidos na elaboração dos estudos para obtenção dos licenciamentos ambientais. Com a incorporação de mais investidores, a construção foi iniciada. Pesquisas realizadas em Itapoá dão conta que, atualmente, a maioria da população é favorável ao empreendimento.
O porto está praticamente pronto. Mais de 70% das obras concluídas. A materialização do projeto comprovou as expectativas em relação aos benefícios econômicos. A Estrada da Serrinha, reivindicação antiga, está em construção. A Celesc iniciou a implantação de nova linha para transmissão de energia elétrica, outra reivindicação antiga. O acesso da SC 415 ao terminal será construído pelo porto, urbanizando a Estrada da Jaca. No Pontal da Figueira, promessa de obras e equipamentos urbanos. A Zona Retroportuária incluída no planejamento da cidade, com previsão de trazer novos investidores. Itapoá extrapolou fronteiras. Sem dúvida uma contribuição do empreendimento, direta e indireta.
No entanto, permanece incipiente a parte ambiental. Os recursos das compensações, determinados nas condicionantes do licenciamento, não ficaram no município. Foram aplicados em unidades de conservação públicas de outras localidades como o Parque do Icaraí em São Francisco do Sul e o Saint Hilaire-Lange em Guaratuba. Itapoá, com exceção de uma única unidade de conservação particular, não possui outras.
Provavelmente o mesmo deverá ocorrer com as compensações da estrada e da linha da Celesc. Paradoxal, para um município que tem relevante patrimônio natural.
O porto incorporou-se ao cotidiano da população. Fez por despertar a latente vocação portuária de Itapoá. Porém, outra e inequívoca vocação, - a do turismo -, não deveria ser deixada em segundo plano. Itapoá, outrora dependente do turismo de sol e mar, não pode, agora, ficar na dependência exclusiva da atividade portuária. Seria apenas uma troca de opções. Os benefícios têm que ser compartilhados, proporcionando o desenvolvimento turístico da região, em especial o de natureza, pois, tanto uma como outra vocação, têm fundamento no patrimônio natural do município.
O empreendimento portuário orientou-se em critérios focados na mitigação dos impactos ambientais e tem demonstrado nas suas ações responsabilidade social e ambiental.
Há que se ter pelo poder público critério semelhante estabelecendo políticas que contemplem as questões ambientais. A começar pela implantação de unidades de conservação públicas. Isso é o que poderá fazer diferença entre crescimento econômico e desenvolvimento social baseado na preservação e conservação do meio ambiente.
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Fonte: Correio do Litoral