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Barreira linguística limita manancial de oportunidades

Parecia um bazar chinês. A cena mais comum era de empresários e altos executivos brasileiros, apertando os olhos ou levantando os óculos, na tentativa de ler as indecifráveis credenciais de investidores asiáticos que lotavam o auditório no Palácio do Itamaraty onde se realizava o encontro do Conselho Empresarial Brasil-China. Não era culpa do oftalmologista. Todos os chineses que estavam no recinto foram identificados apenas com a grafia de seus nomes em mandarim.

Some-se a isso o fato de que muitos não falavam inglês, outros demonstravam visível timidez na abordagem e representantes dos dois países estavam em lados opostos do auditório. Pronto: a barreira linguística e cultural ficou nítida, ironicamente, no ministério que mais entende de quebrar o gelo que separa identidades diferentes.

Para quem estava disposto a deixar de lado o baixo perfil, o "céu é o limite", conforme disse Eduardo Parente, presidente da Prumo Logística, responsável pela construção e operação do Porto do Açu (RJ). O executivo tinha em mãos 80 "folders" com informações detalhadas sobre a empresa, que distribuía aos chineses, com afirmações entusiasmadas sobre o potencial do empreendimento. Entre uma e outra conversa, ele explicou ao Valor: "Mais de uma dúzia de companhias chinesas esteve lá nos últimos dois meses. Há muitas oportunidades. Se tudo for concretizado, a brincadeira começa na casa de centenas de milhões".

O próprio Parente se encarregou de dar exemplos de parcerias potenciais. Há chineses interessados em trocar os serviços de dragagem do terminal de petróleo e minério de ferro no porto, que vão aumentar a profundidade de 19 para 24 metros, por participação acionária. Outros sugerem fornecer e montar a superestrutura do terminal de contêineres, como guindastes, também em troca de uma fatia no projeto.

Se a busca por investidores chineses fosse uma maratona, Parente diz que já estaria no 38º quilômetro de percurso. E ontem era um dia para ganhar fôlego rumo à reta final. "Uma visita como essa destrava tudo. O pessoal que veio é sênior", resumiu o executivo.

O vice-presidente de negócios globais da empresa de tecnologia da informação Stefanini, Ailtom Nascimento, apostava em resultados concretos da visita do primeiro-ministro. "Ficou evidente o interesse deles no Brasil, não só pelo nosso mercado doméstico, mas como porta de entrada para a América Latina."

Nascimento, que diz já ter ido mais de dez vezes para a China, só lamentava a barreira do idioma. "Não conseguimos nos identificar uns aos outros", afirmou, cobrando a presença de mais intérpretes para facilitar os contatos. "Falta isso. Quando estão em casa, eles não são tão retraídos."

A relativa divisão entre brasileiros e chineses, durante o encontro empresarial, se reproduziu no almoço oferecido por Dilma Rousseff a Li Keqiang. Em algumas mesas, onde estava a cúpula da delegação asiática e ministros brasileiros, havia tradutores simultâneos. Antes da refeição, Joaquim Levy e Eduardo Cunha passaram pelo menos 15 minutos conversando sobre o ajuste fiscal, sob olhar atento do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. A chegada de Dilma, com atraso de mais de uma hora, encerrou o animado diálogo para dar lugar a uma refeição com entrada dupla - palmito gratinado e costela de cordeiro - e medalhão de filé como principal. "Ah, quanta carne!", deleitou-se um chinês, lembrado de que só agora levantava-se o veto à entrada de carne brasileira.

Fluente em português, o alto funcionário de Pequim garantia que nunca houve, no Brasil ou em qualquer outro país sul-americano, a intenção chinesa de trazer mão de obra pesada para atuar na construção civil. Ele dizia, isso sim, que a China pede ao governo brasileiro uma agilização e mais flexibilidade na concessão de vistos de trabalho a engenheiros e técnicos especializados. "Estamos falando de 100 ou 200 pessoas em uma hidrelétrica que emprega 30 mil trabalhadores", relativiza. O funcionário deu um exemplo: quando o Estado do Rio de Janeiro comprou trens chineses, para o metrô, faltavam técnicos brasileiros com habilitação para instalar as composições.

Fonte: Valor Econômico






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