O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) informou, na última terça-feira (2), que em julho 508.732 sacas de 60 quilos de café, equivalentes a 1.542 contêineres, deixaram de ser exportadas por falta de estrutura nos portos onde deveriam ser embarcadas. Segundo a entidade, o volume representaria receita cambial de 196,05 milhões de dólares, equivalente a R$ 1,084 bilhão.
O diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, disse que o problema causou prejuízo de R$ 4,140 milhões aos exportadores de café, obrigados a arcar com a adição custos extras com armazenagem, detentions, pré-stacking e antecipação de gates. Ele prevê que a situação se agravará no segundo semestre, com a chegada aos terminais do café colhido na safra deste ano. “Iniciamos esse levantamento em junho de 2024 e, desde então, as empresas associadas ao Cecafé acumulam prejuízo de R$ 83,061 milhões com gastos elevados e imprevistos, decorrentes dos atrasos e alteração de escalas dos navios, por falta de infraestrutura portuária adequada”, relatou.
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Segundo levantamento do Cecafé, em julho de 2025, 51% dos navios, ou 167 de um total de 327 embarcações, enfrentaram atrasos ou alteração de escalas nos principais portos do Brasil. No de Santos, que respondeu por 80,4% dos embarques de café de janeiro a julho, de acordo com o estudo, houve 65% de casos de atraso, de até 35 dias, ou de alteração de escalas, o que envolveu 118 do total de 182 porta-contêineres.
Já no complexo portuário do Rio de Janeiro (RJ), o segundo maior exportador dos cafés do Brasil, com 15,5% de participação nos embarques nos sete primeiros meses de 2025, o índice de atrasos em julho, de até 40 dias, chegou a 37%. Naquele mês, 26 dos 70 navios destinados às remessas do produto sofreram alteração de escalas, informa o levantamento.
Heron comentou que, em busca de soluções, representantes do Cecafé se reuniram em agosto com o gerente do Observatório do Instituto Brasileiro de Infraestrutura (IBI), Bruno Pinheiro. O objetivo do encontro foi discutir uma proposta de aprimoramento dos indicadores logísticos e a criação de índices para monitorar os entraves nas exportações de café.
Segundo ele, o Conselho, com apoio da associação Logística Brasil, trabalha em criar uma pauta focada em logística, em parceria com outras entidades do agronegócio. Heron explicou que, para oferecer uma visão geral das dificuldades de embarques de mercadorias, estão sendo usados dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e de outras fontes públicas. “O objetivo é, em conjunto, estruturarmos um indicador, inicialmente para café, para avaliar quais são os entraves nas exportações, visando buscar políticas públicas para melhorar o desempenho do setor exportador”, disse.
Heron afirmou ainda que os exportadores, principalmente os que trabalham com cargas conteinerizadas, cobram urgência nos leilões de terminais, na ampliação da capacidade dos pátios e berços nos portos e na facilitação do acesso aos terminais, com diversificação dos modais de transporte e investimentos em ferrovias e hidrovias. “Estamos atuando para a criação desses indicadores logísticos que permitam acompanhar as demandas na infraestrutura portuária do Brasil, de forma que os portos possam evoluir na mesma proporção do avanço das cargas, considerando o crescimento do agronegócio”, informou.
Apesar das dificuldades, Heron revelou estar um pouco mais otimista com os avanços nas discussões do leilão do Tecon Santos 10 e com a manifestação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra restrições à participação de interessados no leilão do terminal. “Existem remédios mais adequados para impedir eventuais concentrações de mercado”, disse.