Leiloada em março deste ano, a Companhia Docas do Espírito Santo – responsável pela administração dos complexos portuários de Vitória e Barra do Riacho – foi arrematada pelo fundo de investimentos FIP Shelf 119 Multiestratégia
Primeira autoridade portuária desestatizada no Brasil, a Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) passa por um momento de transição, após ser arrematada em leilão pelo fundo de investimentos FIP Shelf 119 Multiestratégia, em março deste ano, e formalizada no dia 5 de setembro. As mudanças envolvem processos administrativos, trabalhistas e operacionais, entre outros, conforme destacou Ilson Hulle, novo diretor-presidente da empresa, durante a última edição do Brasil Export de 2022, realizado nesta quarta-feira (19), em Brasília (DF).
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De acordo com o executivo, que participou pela primeira vez de um encontro em âmbito nacional, após a desestatização da companhia, todo o projeto será longo considerando o contrato de concessão de 35 anos. “Ao fazer a gestão do ativo, são nítidas e notórias as oportunidades que encontramos e o tamanho do negócio que pode vir com uma gestão privada, uma gestão técnica e um plano de longo prazo. Inclusive, essa era uma das minhas críticas, pelo fato de que tínhamos uma gestão de governo”, disse Hulle.
Afirmando que não está olhando o porto para os próximos dois ou três anos e que a nova administração vem trabalhando com alguns pilares, ele citou o primeiro deles: a continuidade das operações portuárias. “Nós assumimos uma empresa com todas as amarras públicas, uma empresa centenária e ela não vira [privada] do dia para a noite. Então, cito alguns exemplos como o processo de compras, que antes era no âmbito público e todo feito por meio de licitação, por leilão. Do dia 21 para 22 [de setembro], passamos a comprar do setor privado. Então, eu tive de instituir rapidamente uma área de suprimentos e um processo de compras, diante da figura do negociador de contratos, do comprador. Isso não existia lá dentro, porque tínhamos um processo técnico de sistemas. Então, a continuidade da operação é uma preocupação inicial”, reforçou o diretor-presidente da Codesa.
Hulle também contou que ele e sua equipe estão avaliando revogações de políticas e práticas anteriores, revogando resoluções e comissões que atuavam pela via pública. “Nosso segundo pilar envolve compromissos de curto prazo, que nós assumimos. Então, é claro que quero ver o porto em longo prazo, mas assumi, quando eu assinei a concessão, obras que tenho de entregar em 24 meses”, informou.
Nesse cenário, ele elencou obras de restabelecimento das dragagens de manutenção; revisão das estruturas dos armazéns antigos, que estavam completamente depreciados; reconstrução dos ramais ferroviários, que estavam deteriorados e com capacidade de movimentação quase zero; reforço do aparamento do cais, que estava com suas defensas comprometidas; além dos galpões de distribuição de Vitória que, pelo contrato de concessão, também devem passar por reformas.
O executivo ainda relatou sobre a implementação do Programa de Demissão Voluntária (PDV) – um processo novo dentro do ambiente da Codesa. “Queremos dar uma condição para os atuais empregados concursados de aderirem a esse incentivo, para migrar suas carreiras ou para uma aposentadoria, ou seja, para outro ciclo de vida. Para tanto, temos um grupo trabalhando especificamente nisso, em curto prazo”, relatou.
Ele destacou que o edital de concessão da companhia prevê um ano de estabilidade para os atuais concursados: “Ao longo desse processo, será necessário realizar o PDV para que, mais à frente, a concessionária esteja livre para tomar suas decisões”.
Novo ambiente de negócios
Visando ao longo prazo, Hulle adiantou que estão sendo feitas adaptações dos contratos dos atuais arrendatários, considerando o curto prazo que a nova administradora da Codesa tem para isso: “Nós temos seis meses para adaptarmos um contrato, que já estava estabelecido com o Ministério da Infraestrutura, trazendo-o para o âmbito privado. Mas estou me surpreendendo, pois eu não sinto que isso vá ser algo super polêmico”.
Para o executivo, esse processo deve abrir novas oportunidades para os atuais arrendatários, que queiram apresentar novos projetos de exploração da nova área no porto ou de extensão de prazos, por exemplo: “Essa interlocução com os arrendatários já começou, considerando que ainda não podemos estabelecer contratos de exploração, até termos nosso código de conduta comercial aprovado. E essa é uma discussão que estamos tendo com a Secretaria dos Portos, no Ministério da Infraestrutura”.
Hulle aproveitou o espaço para comunicar que, em pouco mais de um mês, já apareceram novos interessados em investir no porto, o que não vinha ocorrendo antes, talvez por não ser um negócio tão competitivo antes da desestatização, devido à demanda represada. “A partir do momento que o interessado poderá contar com um negócio de prazo longo com o porto, em uma mesa de negociação, nós vamos estabelecer outro ambiente de negócio. E isso está me parecendo ser algo crucial nesse processo de desestatização das autoridades portuárias”, avaliou o diretor-presidente da Codesa.