A ação militar da Rússia em território ucraniano gera apreensões em todo o mundo. Em especial, a atividade portuária e o comércio exterior temem pelos reflexos do conflito que podem atingir o mercado e a produção no Brasil. Como principal porta de entrada dos fertilizantes no país, a administração dos portos paranaenses acompanha o momento de tensão no Leste Europeu, com atenção.
Apesar de ainda ser cedo para saber quais serão os impactos diretos e indiretos das atividades militares na Ucrânia, como comenta o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia, a situação preocupa, principalmente o segmento dos granéis de importação, especialmente dos adubos.
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“Para se ter uma ideia, das quase 11,5 milhões de toneladas importadas de fertilizante no ano passado, cerca de 2,35 milhões, mais de 20%, vêm da Rússia”, afirma o executivo.
A Ucrânia, segundo Garcia, não é região tradicionalmente produtora de fertilizantes. “A preocupação realmente é com a Rússia que, com a guerra, tende a suspender as atividades portuárias e o comércio com os países, principalmente ocidentais”, pontua o dirigente dos portos paranaenses.
SEGMENTO – Como explica o gerente executivo do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas no Estado do Paraná (Sindiadubos), Décio Luiz Gomes, tanto a Rússia como o país vizinho, Belarus, são grandes produtores de fertilizantes, principalmente o cloreto de potássio.
“A apreensão é quanto os problemas logísticos para escoar esses produtos. A invasão da Rússia à Ucrânia complica ainda mais a situação que já estava delicada com a Belarus, outro importante mercado”, comenta.
Segundo Gomes, o mercado e a indústria dos fertilizantes no Brasil – assim como em todo o mundo – já estava sentido há algum tempo, quando a Rússia decidiu suspender as exportações dos produtos.
Outra situação no Leste Europeu, que também já vinha preocupando o segmento, era o impedimento imposto pela Lituânia para circulação de produtos da Belarus. O país é outra opção, além da Rússia, para o escoamento da produção de cloreto de potássio para o mundo. “Uma alternativa para o mercado brasileiro, na importação do produto, seria o Canadá, também grande produtor e exportador do cloreto”, completa.
A maioria das empresas produtoras de fertilizantes nos dois países – Rússia e Belarus –, como ainda explica Gomes, são estatais. “Ou seja, as decisões dessas empresas vão a reboque do que decidem os respectivos governos em relação ao mercado internacional”, pontua o gerente executivo.
“A redução da oferta mundial de fertilizantes certamente vai nos afetar”, comenta. A falta de produto e o aumento de preço, segundo ele, serão os principais efeitos do conflito que gera impacto, também, nas demais atividades, incluindo a agricultura e o consumo final no país.
ESCALAS – Dificilmente os portos do Paraná recebem navios com bandeiras desses países (Rússia, Ucrânia ou Belarus). Segundo o presidente do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado do Paraná (Sindapar), Argyris Ikonomou, a preocupação não é tanto com a mão-de-obra, no caso, das tripulações.
“A possibilidade de impacto negativo que eu consigo enxergar, no momento, seria a dificuldade, alto risco e o aumento do valor dos fretes para navios que, a partir de agora, vão escalar em portos da Rússia para carregamento de fertilizantes, por exemplo”, comenta.
No entanto, segundo Argyris, é preciso aguardar a evolução desse conflito. “Ainda é muito cedo para saber o que vai acontecer nos próximos dias”, completa o representante das agências marítimas no Paraná.