A pecuária potiguar iniciou 2015 com um feito inédito na sua história. No final da noite de ontem, 165 cabeças de gado nascidos e criados no Rio Grande do Norte foram exportados para fora do país. Os animais, da raça Guzerá, comprados pelo Governo do Senegal aos criadores locais Camilo Collier e Geraldo Alves embarcaram rumo a África Ocidental em dois aviões cargueiros modelo Jumbo 747-400 que decolaram do Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves. Ao custo aproximado de R$ 2,6 milhões, a viagem teria uma duração de 3h45, sendo a maior parte cruzando o Oceano Atlântico.
Animais são colocados em currais improvisados enquanto aguardam embarque em aviãoAnimais são colocados em currais improvisados enquanto aguardam embarque em avião
“O nosso gado foi escolhido pela qualidade. O Guzerá tem características de rusticidade, velocidade no ganho do peso e alta produção de leite”, assegurou o criador Camilo Collier. Os animais exportados foram divididos em sete carretas, que realizaram o traslado da Fazenda Vale Feliz, em Monte Alegre, para o Terminal de Cargas do Aeroporto Internacional, em São Gonçalo do Amarante. A operação de carregamento se prolongou por quase 12 horas e exigiu o empenho de uma equipe multidisciplinar que cuidou, dentre outros pontos estratégicos, da segurança médico-veterinária e da correta acomodação dos bovinos nas baias para o transporte aéreo.
Para a logística do transporte dos animais, o governo senegalês contratou uma empresa com expertise neste tipo de serviço, a GBC Internacional. O responsável pela correta acomodação e traslado aéreo dos animais, Cristiano Souza Lima, comentou que o início das negociações entre os criadores potiguares e o os representantes do Senegal não foram tão positivas. “Nós não tínhamos esperança de fazer isso acontecer”, revelou. Com o passar do tempo, porém, as negociações avançaram e, em outubro passado, o Rio Grande do Norte recebeu a certificação de área livre da febre aftosa, o que possibilitou a viabilidade do negócio. Cada cabeça de gado Guzerá exportada custou, em média, R$ 5 mil.
Representantes do governo senegalês acompanharam toda a operação de colocação dos animais nas estruturas para embarque. O veterinário africano Mame Balla Sow esclareceu que a importação do gado potiguar pelo Governo do Senegal faz parte de um projeto de aprimoramento da produção interna de leite, cuja ordenha diária não chega aos três litros por vaca. Além disso, a qualidade da genética do Guzerá potiguar poderá permitir a procriação de mais animais na região africana e, paulatinamente, novas áreas passarem a contar com este tipo de bovino.
As 113 fêmeas embarcadas ontem para África estão prenhas e, quando chegarem ao Senegal, serão distribuídas para famílias que dependem da agricultura e produção de leite para subsistência. Segundo o representante do governo senegalês, elas serão vendidas a um preço simbólico e com facilidades extremas de pagamento. O secretário de Estado da Agricultura, Haroldo Abuana, recentemente empossado, destacou que é preciso ampliar o volume de exportações para outras raças de bovinos e, para isso, o Estado precisa implementar uma política de proteção fitossanitária para não perder o título de área livre da aftosa.
Operação piloto
Realizando pela primeira vez tipo de embarque desde que iniciou sua operacionalização, em maio do ano passado, o superintendente do Consórcio Inframerica, que administra o terminal aeroviário, Ibernon Gomes, ressaltou que foi preciso montar um esquema estratégico para que nada de negativo ocorresse. “Montamos uma espécie de curral e adequamos parte do Terminal de Cargas. Nossa parceria com diversos órgãos do Governo do Estado e Federal nos ajudou bastante a realizar o embarque. Nossa expectativa, a partir de agora, é ampliar o volume de importações e exportações pelo Aeroporto de Natal”, frisou.
Fonte: Tribuna do Norte (RN) Natal
PUBLICIDADE