A disputa pela concessão dos trechos Sul e Leste do Rodoanel, a ser aberta hoje a partir das 9h, deverá deixar na saudade o bem-sucedido leilão do primeiro trecho da rodovia, o oeste, realizado em maio de 2008. Na época, apesar do alto custo - o edital exigia o pagamento de R$ 2 bilhões em outorga ao governo - o trecho atraiu cinco concorrentes, e o vencedor ofereceu um deságio de 61% ao valor máximo do pedágio. Este ano, dizem fontes ligadas ao projeto, o deságio deve ser mais modesto e o número de concorrentes bem menor - talvez até nenhum.
Desde que foi apresentado o edital no início do ano, as críticas ao modelo escolhido pelo governo paulista foram generalizadas entre os principais concorrentes, e alguns deles chegaram a ameaçar ficar de fora da disputa. Dada a escala do negócio, o mercado estimava em três ou no máximo quatro os grupos aptos a montar consórcios e apresentar lances na nova rodada: Odebrecht, CCR (união das construtoras Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa), EcoRodovias (da CR Almeida) e possivelmente Invepar - controlada pelo fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ.
Com a confirmação das condições impostas pelo governo, uma das possibilidades apontadas pelo setor privado é de que alguns desses grupos se fundam para assumir o trecho, ou atraiam outras empresas de menor porte para fortalecer o consórcio e sobretudo diluir riscos.
O governo paulista testou no Rodoanel uma mudança no modelo de concessões anterior. No novo formato, caberá ao setor privado a gestão do trecho Sul, já pronto e funcionando, e simultaneamente a construção e operação do trecho Leste.
O problema é que, na construção do trecho Leste, o governo não se comprometeu a assumir os riscos de despesas adicionais com ambiente e desapropriações. As desapropriações envolvem R$ 1,1 bilhão e as despesas ambientais foram calculadas em R$ 100 milhões, mas as empresas acham que o custo pode ser muito maior. Com taxa de retorno interna considerada baixa frente aos riscos (8%), muitos concorrentes ficaram desanimados.
No projeto do trem-bala, citam como exemplo, as desapropriações e riscos ambientais foram colocados na conta do governo. E no caso do primeiro trecho do Rodoanel, a outorga também foi considerada muito alta, mas pelo menos era fixa.
Fonte: Valor Econômico/Fernando Teixeira | De São Paulo/Colaborou Samantha Maia)
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