Enquanto trabalha para reduzir um passivo financeiro e trabalhista de R$ 130 milhões acumulado ao longo dos anos, a Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa), controlada pelo governo do Rio Grande do Sul, decidiu "botar a cara" no mercado para ampliar as receitas e o nível de ocupação da capacidade de armazenagem. A meta é chegar a um faturamento da ordem de R$ 40 milhões em 2014 e voltar ao lucro em 2015 ou 2016 para dispensar o socorro anual de R$ 30 milhões repassado pela Secretaria da Agricultura desde 2010.
Para 2013, a projeção ainda é empatar com o faturamento de R$ 27,6 milhões apurado no ano passado, explica o presidente da estatal, Márcio Pilger, no cargo há quatro meses. De acordo com ele, em 2012 o prejuízo somou R$ 15,1 milhões, e as dificuldades dos últimos anos, que resultaram em um patrimônio líquido negativo de R$ 182,8 milhões em dezembro, levaram o governo a cogitar o fechamento da companhia, mas agora essa possibilidade está "afastada".
A Cesa tem capacidade estática para armazenar 593 mil toneladas de grãos e 8 mil toneladas de produtos frigorificados em 17 unidades no Estado, inclusive nos portos de Rio Grande e Porto Alegre. Outras cinco, que somavam 36,5 mil toneladas de capacidade, foram desativadas devido à estrutura obsoleta e agora a empresa tenta vender os ativos imobiliários avaliados em R$ 30 milhões para ajudar a abater dívidas.
Atualmente 226 mil toneladas de grãos estão depositadas nos armazéns da estatal, o equivalente a 37,6% da capacidade estática, mas o plano é elevar o índice para 80% até o fim do ano com a entrada da safra de trigo, estimada em 2,5 milhões de toneladas no Estado. Do volume atual, 52% correspondem a estoques reguladores da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) e o restante pertence a clientes privados.
Um dos argumentos da Cesa para capturar mais grãos é a "competitividade" das tarifas, que segundo Pilger são menores do que as cobradas pelas empresas privadas. A estratégia de expansão da estatal inclui uma negociação em andamento com a União dos Exportadores do Paraguai para utilizar os armazéns instalados em São Luiz Gonzaga, na região noroeste do Estado, e do porto de Rio Grande como caminho para exportar parte da safra de soja do país vizinho.
As duas unidades estão em processo de credenciamento como terminais alfandegados, e a expectativa da empresa é movimentar 200 mil toneladas por ano do produto paraguaio já a partir de 2014. Com a câmara estadual setorial do trigo, que inclui a própria Secretaria da Agricultura e representantes de produtores, cooperativas e moinhos, a Cesa está negociando uma reserva de "espaço" de 200 mil toneladas para o grão por ano.
Outro projeto em estudo, desta vez com o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado, é a locação de uma área própria de 8 hectares ao lado do armazém de Capão do Leão para a construção de um terminal para caminhões que se dirigem ao porto de Rio Grande, a 60 quilômetros de distância.
Pelo lado das dívidas, Pilger projeta a liquidação, até meados de 2015, de um total de R$ 30 milhões em ações trabalhistas já julgadas. De acordo com ele, a empresa paga R$ 900 mil por mês para esse segmento de credores, mas uma reestruturação do departamento jurídico realizada no ano passado já aumentou para 80% o nível de sucesso na defesa da companhia em relação aos novos processos.
A Cesa também acumula dívidas financeiras de R$ 106 milhões, a maior parte referente a uma operação firmada em 1991 com o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), que está em renegociação.
Fonte:Valor Econômico/Sérgio Ruck Bueno | De Porto Alegre
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